Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que Amam

Capítulo 22

— Tempo! — Foi a voz de Lucia, após meu décimo quarto chute errado. — Sempre achei que qualquer um pudesse aprender a lutar com o tempo, mas ja estamos nessa tentiva a duas semanas e você continua acertando o alvo errado. Desse jeito, você vai acabar acertando seu cônjuge ao invés do inimigo. — Aprendi que a mulher poderia ser legal, desde que eu não demonstrasse desprezo pelos androids e quisesse ajudar.

Ela me instruiu a fazer aulas de defesa e ataque corporal, principalmente para acompanhar futuramente Attor, em alguns ataques do lado de fora. Segundo ela, era preciso que ele estivesse em algumas invasões, mas não estava indo graças a mim. Attor não queria me deixar sozinha, longe dele, nem por um segundo sequer e depois da minha tentativa de fuga, aí que ele se tornou mais protetor e vigilante.

Perguntei para a mulher como poderia tranquilizar seu coração e conquistar sua confiança novamente e ela me sugeriu que eu me tornasse forte o bastante para deixa-lo seguro. Assim ninguém precisaria ficar "de olho na Cassiane" como de costume. 

Me senti como um impecilho após saber que todos estavam constantemente me vigiando ou verificando se eu estava bem e dentro do prédio. Mas por outro lado, deveria ter suposto tal coisa. Afinal, eles eram conectados por cabos e pensamentos, informações codificadas. No mínimo saberiam da preocupação de Attor por mim.

Também fiquei sabendo que o meu amado era como um general supremo, os planos e pedidos de aprovação vinham para ele, e a palavra e decisão final era sua. Como um presidente. Mas ao mesmo tempo, diferente. Attor participava de toda a agitação que eles faziam, sempre queria estar a par de tudo e se esforçava ao máximo para ajudar. Seu desejo era de poder estar no campo de batalha, mas seu amor por mim foi mais forte.

Isso me motivou a aceitar a proposta de Lucia, para me treinar. Não queria prende-lo como uma gaiola fazia com um passaro. Se seu espírito era livre, daria essa liberdade a ele. Ser um peso? Nem a pau. Ja bastava tudo o que os havia feito e não seria a princesinha que precisava ser protegida dentro do castelo pelo dragão.

— Em minha defesa, fui chamada para a arte da escultura e não para a da guerra. — Suspirei, limpando o suor que escorria do meu rosto, nuca e costas. Na verdade, me sentia uma poça de água. 

— Então vamos para uma pausa. Quero tentar te mostrar como usar uma arma, Cassiane. 

Engoli em seco ao ouvir o tom sério de sua voz e ao ver seus olhos focados em mim,  com uma determinação que me garantia que participaria da aula, querendo ou não. 

— Eu sei que você não mata. — Eka repetiu o que eu havia dito. — Mas precisa saber que em uma guerra, isso é quase impossível de não acontecer. Ainda assim, preciso que saiba pelo menos armar e desarmar uma.

— Lucia...

— Precisa saber disso, Cassiane. Faça isso por Attor.

Por ele. Somente por ele, assenti com a cabeça e me distanciei.

Quando sai da sala, correndo para o refeitório, desejando algumas delícias para esquentarem meu estômago, encontrei o mesmo android que vi lutar com Attor, no ringue.

— Oh...ola! — Ele ainda era assustador, devido a sua altura e a cabeça enorme. Mas me esforcei para não demonstrar medo.

— Senhorita. — Sua voz era hrave como um eco em um grande penhasco. — Se tiver tempo, gostaria de conversar com você.

— Tempo? — Olhei para a sala e voltei a encara-lo, com um careta desconfortável. — Tenho sim. — Mesmo que estivesse morrendo de fome e sabendo que logo minha pausa acabaria.

— Vejo que seus níveis de glicose estão baixos. Estava praticando exercícios? A queima calórica no seu corpo me diz isso. — Seus olhos ganharam uma cor avermelhada e vibrante, então deduzi que estava me examinando.