Jemila & Aitho

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Bruno

Minha boca fica seca na mesma hora em que ouço Aila dizendo essas palavras. 

— O quê? Por quê? Como isso seria bom para mim? – pergunto, meio desesperado para entender.

Não quebro nossa proximidade, e nem ela. Mas nem precisamos, já que o corte do clima que achei que estava acontecendo em minha cabeça veio forte com sua sugestão passiva para que eu vá embora.

— Você cansou de mim, é isso? – retorno a falar.

Aila franze as sobrancelhas, e faz uma cara de indignada.

— O quê? Claro que não, Bru. – ela nega, e dá um passo para o lado. — Eu só acho que você se afastou um pouco delas, mesmo sem intenção. E eu vi, isso tá te fazendo sofrer.

Aila volta a ligar o fogão e mexer com o jantar. Eu, no entanto, estou parado e apoiado no balcão, atônito e extremamente assustado, confuso.

— Mas eu não me afastei delas. Eu só quis ter a minha própria vida. E eu não estou sofrendo. Eu estou bem. – eu disse, negando.

— Você não está bem, Bruno. Você está se enganando. Você precisa de ajuda. Você precisa de apoio. Você precisa de amor. – ela aumenta o tom de voz, insistindo. — Precisa da sua família.

— Mas eu tenho tudo isso com você. Você me ajuda, me apoia, me ama. Você também é a minha família, Aila. – eu me viro para ela, sentindo um nó se formar em minha garganta após dizer tudo isso.

Acho que nunca me senti tão vulnerável.

Aila respira fundo, tomando meu lugar sutilmente e começando a cortar o que deixei para trás antes.

— Você não vai dizer nada? Mais nada? – pergunto, minha voz saindo mais baixa do que o normal.

— Você é um teimoso. Vou falar o quê? Você não me escuta.

Dou risada.

— A minha vida é te escutar. – cruzo os braços. — Mesmo quando tudo que você fale seja sobre um projetinho de tiktoker que não te dá bola.

Cuspo as palavras, como se elas precisassem muito serem expostas, já que Gustavo comandava parte da minha cabeça desde o encontro e mais ainda depois da festa.

Aila para de cortar e me olha com os olhos cheios de lágrimas. Eu sinto uma pontada de culpa por ter sido tão grosso com ela.

— Você acha que eu gosto tanto assim dele? Que eu me importo com ele? – ela pergunta, com a voz embargada. — Você não sabe de nada, Bruno. Nada.

Ela joga a faca na pia e sai correndo para o quarto, batendo a porta atrás de si. Eu fico paralisado, sem saber o que fazer. Eu acabei de magoar uma das pessoas com quem mais me importo no mundo por ciúmes.

Eu corro atrás dela e tento abrir a porta, mas é claro que é inútil.

— Me desculpa, sério. – eu forço a maçaneta novamente. — Vamos conversar.

Estou ouvindo a respiração dela. Isso não ajuda.

— Não tem conversa, Bruno. Você já disse tudo o que tinha que dizer. – ela responde, soluçando. — Se você não fizer as malas, eu que vou embora.

Paro de tentar abrir a porta na mesma hora. Mesmo que o apartamento seja tanto dela quanto meu, não conseguiria deixar ela ir embora dele. Além do mais, me sinto um pouco, bem pouco melhor em ser a pessoa que passa pela porta.

Agora, eu não iria mesmo voltar para casa da minha mãe. Não é uma ideia que excluirei, mas não vou aparecer por lá hoje. Não me ajudaria, e tudo que quero é ficar com alguém que me entenda um pouco e possa me distrair. Penso em Jean, mas ele não responde nenhuma das mensagens. Pelo menos não de imediato, que é o que eu preciso.

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