VII - O Leão Carmesim

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   Com a cela aberta no meio da tarde, logo os passos para fora das masmorras tomaram conta dos corredores de pedra. Um tintilar de metal e o rugir de chamas, instantes depois um guarda estava caído no chão, sem vida, e dois fugitivos a solta disparavam pelo Castelo dos Nibelungos.

   — Eu nunca fugi de um castelo antes — Merlin comentou em tom de conversa. Abria e fechava a mão do braço anteriormente quebrado, um feitiço tinha resolvido a questão.

   — Você se acostuma — Grimm respondeu com um tom taciturno. O seu mais novo braço direito pesava e era desajeitado, mas pelo menos conseguia manejar a espada como um porrete descontrolado. Isso era bom...se fossem rápidos.

    Os corredores do palácio do Duque Sigurd eram brancos e com janelas abertas decoradas com peônias que receberam pouca atenção. Haviam tapeçarias e estátuas saqueadas aqui e acolá, Grimm sentiu vontade de levar cada uma daquelas peças roubadas daquele lugar.

    Pensou na fada que carregava, com a alça da lâmpada presa à túnica por baixo do manto de escamas. Ainda não tinha acordado e não demonstrava sinais de que iria tão cedo. Os cavaleiros vermelhos haviam a sequestrado de algum lugar, Sigurd a mantivera mas restavam aqueles assassinos pilhando toda a parte...

   " E eles estão com algo que me pertence" Grimm pensou consigo mesmo. Pensou em Ignis e fez o gesto de chamar a espada. Nada.

   Atravessaram um lance de escadas e se depararam com um grupo de soldados interrompendo o seu caminho. Um deles era um cavaleiro vermelho que tentava se colocar em posição de guarda com a espada, em vão, a lâmina parecia ter vida e tentava ir na direção de Grimm. O rapaz sorriu, Ignis pelo menos tentava.

    — O que...está...acontecendo com...isso? Bruxos malditos! — O cavaleiro ia se irritando, brigando contra a própria arma. Os outros olhavam admirados, e aterrorizados, para a cena.

   Quando olharam de novo para o topo da escadaria, receberam um pulso de energia que os arremessou para longe. Um deles quando tentou se erguer, se viu puxado de ponta cabeça como que por um anzol invisível preso ao pé, ficando pendurado no teto por alguns instantes e caindo com um estrondo no chão logo em seguida. Outro soldado até quis correr, mas de repente suas pernas se uniram e seus braços colaram no corpo, como que imobilizado por cordas.

   E o maestro de tudo isso estava lá, parado e ofegante. Merlin parou alguns segundos para respirar, até que um pulso de energia o fez cair de joelhos com um grito de dor. O cavaleiro vermelho estava erguendo um dos colares com gema branca, a jóia brilhava como se o luar tivesse invadido o ambiente fechado.

   — Chega de brincadeiras, bruxo, vocês nunca aprendem que sua hora sempre cheg... — Ia falando, até que um potente soco na boca deslocou sua mandíbula. Bem, ao menos o braço de prata era forte como um coice de touro.

    Grimm percebeu que não conseguia usar as chamas, enfraquecidas por seja lá o que fosse a gema, mas isso não o impediu de usar a lâmina dada por Sigurd como um porrete. O clérigo até poderia tentar lutar, se Ignis o obedecesse e se seu maxilar não pendesse preso só por tendões, mas foi esmagado sem chances de revidar. Seu crânio virou uma polpa confusa e a espada de Sigurd tinha se partido, tamanha a violência e pouca precisão dos golpes.

   — Terminei por aqui — Grimm falou com simplicidade, tocando o cabo de Ignis com carinho. — Vamos sair o mais rápido possível —

   — A pedra...a pedra... — Merlin sussurrava, ajoelhado e tentando erguer a cabeça. Era como se estivesse sendo pressionado por algo não visível.

   — Ah...claro — O servo do fogo esmagou, com algum esforço, a gema em sua mão. O menino imediatamente respirou aliviado e terminou de descer as escadas.

As Crônicas de Desejo e Ruína - II Onde histórias criam vida. Descubra agora