Não é a melhor, mais é a única opção

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Kei Narrando


Ele se vira e vai embora, ouço a porta se abrindo e fechando. Estou sentada no chão, depois de ser colocada contra a parede e ter meu passado exposto. Merda, quem é esse cara? Sinto lágrimas escorrendo dos meus olhos. O que eu faço agora? Ele nem sentiu pena, só vi frieza nele.

Me levanto e me arrumo. Meus joelhos estão vermelhos, meu peito dói, meu rosto está avermelhado, meus olhos estão quase inchados. Merda, eu tenho que sair daqui e ir para o meu quarto, senão alguém vai perceber que sumi. Enxugo as lágrimas e saio, subo as escadas, tremendo, ouço vozes. Vou até o meu quarto, entro e desaboto a minha camisa.

Entro no banheiro, ligo o chuveiro e fico de frente ao espelho, me apoiando na pia. As lágrimas voltaram a cair de novo. Eu não aguento. Entro no banheiro...

Enquanto a água quente cai sobre mim, sinto-me envolvida por uma sensação de sufocamento. Cada gota que bate na minha pele parece ecoar a frieza do encontro com Ayanokoji. Ele mexeu comigo de uma maneira que eu nunca imaginei possível. Eu sabia que tinha cicatrizes, mas nunca pensei que alguém pudesse vê-las tão claramente.

Ele pareceu entender cada uma das minhas fraquezas, cada pedaço da minha escuridão. E agora, estou aqui, encolhida sob o jato de água, tentando encontrar uma maneira de me recuperar.

Mas como? Como posso simplesmente esquecer tudo o que ele disse? Como posso continuar fingindo que não fui afetada por suas palavras cruéis? Eu queria poder me livrar dessa dor, mas parece que ela está gravada em mim, tão profundamente quanto a cicatriz em meu corpo.

Sinto-me perdida, sem saber para onde ir a partir daqui. Será que devo confiar em Ayanokoji, como ele sugeriu? Será que ele realmente pode me proteger, ou será que estou apenas me iludindo?

Enquanto a água continua a cair, fecho os olhos e tento clarear minha mente. Preciso encontrar uma maneira de sair dessa escuridão, antes que ela me consuma completamente.

Saio do banheiro, ainda sentindo o peso da conversa com Ayanokoji sobre mim. Me deito na cama, mas minha mente está longe de encontrar paz. Cada palavra dita por ele ecoa em minha cabeça, como se estivesse presa em um ciclo interminável.

Meu corpo está tenso, minha respiração irregular. Tento me concentrar no ritmo da minha respiração, mas é inútil. Minha mente está uma bagunça, cheia de dúvidas e incertezas.

Será que devo confiar nele? Será que ele realmente pode me proteger da gangue de Manabe? Ou estou apenas me enganando, pensando que alguém como ele poderia me ajudar?

As lágrimas começam a escorrer novamente, mas eu as seguro com força. Não posso me dar ao luxo de me desmoronar agora. Tenho que ser forte, tenho que encontrar uma maneira de lidar com tudo isso.

Mas, no fundo, eu sei que não posso fazer isso sozinha. Preciso de ajuda, mesmo que seja difícil admitir. Ayanokoji pode não ser a escolha óbvia, mas talvez seja a única que tenho.

Com um suspiro pesado, fecho os olhos e tento encontrar um pouco de conforto na escuridão. Talvez, se eu me permitir descansar um pouco, consiga encontrar a clareza de que tanto preciso.

A sensação de ter sido arrancada do sono pela vibração do celular é desconcertante. Fico meio atordoada por um momento, tentando entender o que está acontecendo. Quando vejo que há uma chamada perdida de um número desconhecido, meu coração começa a bater mais rápido. Quem poderia estar me ligando a essa hora?

Sem hesitar muito, decido ligar de volta. No segundo toque, uma voz familiar atende do outro lado da linha.

"Alô?", digo, minha voz soando um pouco trêmula.

"Ei, é o Ayanokoji", a voz do outro lado responde, fazendo meu coração pular uma batida. Minha mente fica em branco por um momento, incapaz de processar completamente o que está acontecendo. Fico em silêncio por alguns segundos, sem saber o que dizer.

"Karuizawa?", ele chama meu nome novamente, trazendo-me de volta à realidade.

"Sim, estou aqui", respondo, tentando controlar minha respiração acelerada.

"Há uma reunião marcada para as 10 da noite na cafetaria", ele continua, e eu imediatamente faço uma nota mental.

"Okay, então", respondo, minha mente girando com possibilidades do que essa reunião poderia significar.

 Ele nem sequer esperou por minha resposta, simplesmente encontrou meu número e ligou para avisar sobre a reunião. É como se ele estivesse um passo à frente o tempo todo, manipulando as coisas de acordo com seus próprios planos.

Mas eu não tenho escolha a não ser ir. Seja lá qual for o motivo dessa reunião, parece que estou presa em sua teia mais uma vez. Talvez ele tenha algum tipo de informação sobre minha situação ou sobre os planos de Manabe e sua gangue. Ou talvez ele tenha outros motivos para me chamar.

De qualquer forma, não posso ignorar isso. Afinal, como ele mesmo disse, sou apenas uma parasita neste jogo complexo dele.

Chego à cafetaria do navio e vejo Ayanokoji sentado em uma mesa com quatro lugares vazios. Isso confirma minha suspeita de que ele tem uma equipe. Me aproximo dele e peço desculpas por tê-lo feito esperar.

"Desculpe por ligar para você tão tarde", ele diz, surpreendentemente se desculpando também.

"Não faz mal", respondo. Eu acho que ele não tem nada de particularidade para falar comigo.

Ayanokoji parece estar olhando ao redor da cafetaria, então decido continuar encarando-o. Ele retribui meu olhar, e depois de um momento de silêncio, pergunto: "E como foi lá na reunião hoje? Deu tudo certo?"

Minutos depois, vejo Hirata se aproximando.

"Bom trabalho no exame, vocês dois. Se importam se eu me sentar?" pergunta Hirata.

"Você pode sim," responde Ayanokoji.

Reviro os olhos diante da presença de Hirata e desvio o olhar. Olho para o relógio e percebo que são 22h55. "Daqui a 5 minutos mandarão um email para todos os alunos," informo.

"A Horikita ainda não apareceu," comenta Hirata.

Por que ele está perguntando sobre a Horikita? Não posso evitar suspirar. "Podemos esperar mais 4 minutos," diz Ayanokoji.

"Se eu ver esse bando se encontrando diante dos meus olhos, não posso evitar," suspira Horikita, enquanto Sudou vem atrás dela. Decido não me envolver e coloco as mãos nos bolsos, tirando os fones de ouvido.

Dou um suspiro e me levanto. "Bom, eu vou esperar os resultados no meu quarto," digo, e saio.

KiyoKei: Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora