...Suzuki

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Karuizawa Narrando 

Estou caminhando pelos corredores da escola, observando os alunos indo e vindo, perdida em meus próprios pensamentos. A visão de Ayanokouji se afastando sem sequer me agradecer ainda ecoa em minha mente. É como se sua indiferença habitual me atingisse profundamente toda vez.

Respiro fundo, tentando afastar a frustração que ameaça me dominar. Ayanokouji sempre foi assim, reservado e distante, mas às vezes isso me irrita. Por que ele nunca mostra qualquer emoção? Por que é tão difícil entender o que se passa em sua mente?

Melhor deixar para lá mesmo. Hoje temos aulas de natação. Decido me preparar e me encaminho para a piscina. Adentro o banheiro e abro meu armário, retirando um traje de banho. Dirijo-me ao chuveiro, removendo o uniforme. Diante do espelho enorme, meus olhos caem sobre a cicatriz, e uma onda de lembranças invade minha mente. Um turbilhão de pensamentos vem à tona, e lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto.

Enquanto a água do chuveiro cai sobre mim, permito que as memórias dolorosas venham à tona. Olho para a cicatriz em meu corpo, um lembrete constante de um passado que preferiria esquecer. É difícil lidar com essas lembranças, especialmente quando estou sozinha e vulnerável.

Deixo as lágrimas fluírem, permitindo-me sentir a dor e a tristeza que ainda carrego dentro de mim. Ayanokouji pode ser indiferente, mas pelo menos ele não parece carregar o peso de um passado doloroso como eu. Às vezes, eu me pergunto se ele já enfrentou desafios semelhantes, se ele também guarda segredos e cicatrizes invisíveis.

Mas agora não é hora de me perder em pensamentos sombrios. Tenho que me preparar para a aula de natação. Respiro fundo, deixando o chuveiro lavar as lágrimas e os pensamentos negativos. Saio do banho, visto meu traje de banho e me encaminho para a piscina.

A piscina é imponente, e frequentamos aulas aqui todas as semanas. É a primeira vez que participo dessas aulas. Sinto medo de que notem minha cicatriz e zombem de mim. Enquanto me sento perto da piscina, Sato se aproxima.

"Eu ouvi você chorando no banheiro", diz Sato. Fico momentaneamente nervosa, mas ela continua: "Não se preocupe, eu não contei a ninguém. Estou aqui para você, Karuizawa."

Respiro aliviada e lhe dou um abraço. "Pode me chamar de Kei. Eu dou permissão a você", digo, sentindo-me reconfortada com sua compreensão.

Sato sorri, e então as outras meninas se aproximam. Levantamo-nos juntas, e eu sugiro: "Meninas, que tal nadarmos um pouco antes de começarmos com as aulas?" Grito para elas enquanto aponto para a piscina.

As meninas nadam animadamente na piscina, suas risadas ecoando pelo ambiente. Enquanto observo, aproveitando o calor do sol que se reflete na água, sou pega de surpresa pelo repentino alvoroço ao redor.

Pessoas começam a se aglomerar na área da piscina, interrompendo o ritmo tranquilo do dia. Confusa e um pouco intrigada, tento entender o que está acontecendo quando sou chamada por Sato.

"Entra para a água", ela me incentiva.

"Melhor não agora, Sato", respondo, relutante, mas antes que possa recuar, sinto-me sendo puxada para a piscina. Um choque inicial de frio percorre meu corpo, e começo a cair desajeitadamente. No último instante, sou amparada por mãos firmes.

Uma sensação de calor irradia de onde as mãos seguram minha cintura, e a outra segura a minha mão com gentileza. Ergo os olhos para ver quem me salvou, e encontro um rosto encantador olhando para mim, com olhos cheios de preocupação.

"Desculpa", ele diz, sua voz suave como uma brisa, "Sou muito desastrado."

Ele me solta gentilmente e se curva em um gesto de cortesia. "Não precisa", respondo, sentindo-me subitamente cativada por sua presença.

Uma risada nervosa escapa de seus lábios. "Merda, fiz papel de bobo. Sou o Suzuki Daichi", ele se apresenta.

"Karuizawa Kei", digo, devolvendo o cumprimento.

"Ah, o que está acontecendo?", digo, meus olhos varrendo o cenário agitado ao redor.

"Ah, eu sou o representante da turma B, e hoje terá uma competição entre a nossa e a de vocês", explica ele.

A compreensão se instala em minha mente enquanto observo Suzuki com interesse, perguntando-me o que mais ele pode trazer para este dia inesperadamente movimentado.

Conversamos brevemente sobre a competição iminente, enquanto observamos a movimentação ao redor da piscina. Parece que todos estão se preparando para o evento, o que explica a agitação repentina.

"Então, parece que teremos um dia movimentado pela frente", comento, tentando disfarçar minha surpresa com a situação.

Suzuki concorda com um aceno de cabeça, seus olhos brilhando com uma mistura de excitação e determinação. "Sim, vai ser interessante ver como as duas turmas se sairão", ele responde, com um leve sorriso nos lábios.

Decido não me aprofundar muito na conversa, sabendo que em breve teremos que nos separar para nos juntarmos às nossas respectivas equipes. Ainda assim, algo sobre a presença de Suzuki me deixa intrigada, e me pego desejando conhecê-lo melhor.

"É melhor eu me juntar à minha equipe", digo, indicando o grupo de meninas que estão ansiosas na beira da piscina.

Suzuki assente, compreensivo. "Claro, boa sorte para vocês", ele deseja, antes de se afastar para se reunir com seus colegas.

Enquanto me preparo para entrar na água e me juntar às meninas da minha turma, não consigo deixar de pensar naquele encontro casual com Suzuki. Há algo sobre ele que desperta minha curiosidade, e eu me pego ansiosa para descobrir mais sobre o rapaz que me salvou da queda.

Me junto à minha turma e passo por Ayanokouji sem cumprimentá-lo. Se ele está sendo frio comigo, serei uma geladeira inteira com ele. Ele nem olha para mim. Merda, enfim, que se dane. Me uno às meninas quando anunciam a competição. Me aproximo para ver quem foram os selecionados, e Sudou é um deles, além daquele garoto. Ele está olhando para mim agora. O som do apito ecoa, e eles mergulham fundo.

A equipe do Suzuki ganhou e saiu da piscina, deixando-nos para trás. Enquanto a segunda partida está prestes a começar, sinto um peso no peito. Não queria que as coisas tomassem esse rumo. Caminho em direção à porta de saída, sentindo-me desanimada. Ao chegar ao pátio, alguém me chama. É o Suzuki.

"Você não gostou da partida?" ele pergunta, com um olhar sincero.

Olho para ele, surpresa por sua preocupação. "Eu não queria ganhar dele, desculpa," ele diz, com uma expressão gentil.

Seu gesto me comove. Ele é realmente uma pessoa incrível. "Não faz mal, você mereceu," respondo, tentando esconder a tristeza que sinto. Sento-me em um banco.

Ele se senta ao meu lado e pega minha mão, deixando-me surpresa com esse gesto. "Karuizawa," ele diz, enquanto me encara.

"Sim," respondo, esperando para ver o que ele tem a dizer.

"Eu sei que pode parecer estranho, mas venho observando você há algum tempo. Quando te vi na piscina, fiquei feliz e quis conversar com você. Mas, então, acabei esbarrando em você e quase a machuquei. Desculpe," ele diz, com sinceridade em seus olhos.

"Está tudo bem, Suzuki. Não se preocupe com isso," respondo, tentando transmitir calma.

Ele parece grato pela minha compreensão. "Pode me chamar de Daichi, se quiser," ele sugere.

"Daichi, então," repito seu nome, concordando com um leve aceno de cabeça.

"Karuizawa," ele me chama, e então se levanta, me convidando a acompanhá-lo. Juntos, subimos até o prédio da escola e entramos em um corredor. "Por que estamos aqui?" pergunto, um pouco nervosa.

Sinto-me sendo pressionada contra a parede suavemente, e ele se aproxima. Por um momento, lembro-me do encontro com Ayanokouji no navio, e lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Daichi me olha com preocupação.

"Karuizawa, eu não vou fazer nada consigo, só a trouxe a um lugar mais calmo e privado" ele diz enquanto gentilmente limpa as lágrimas do meu rosto, e então, me beija.

KiyoKei: Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora