Até que ela serve

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Ayanokoji Narrando

A noite caía sobre o campus enquanto eu me afastava dos dormitórios. Meu rosto permanecia impassível, como sempre, escondendo as emoções que fervilhavam por baixo da superfície. O encontro com Karuizawa tinha sido mais do que eu esperava. Ela estava começando a descobrir a verdade sobre os bastidores da nossa escola, mas ainda havia muito a ser feito.

Caminhando pelas ruas silenciosas, meus pensamentos se voltavam para o que tinha acontecido. Eu sabia que tinha sido duro com ela, mas era necessário. Ela precisava entender o que estava em jogo, mesmo que isso significasse magoá-la.

Cheguei aos dormitórios e entrei, minha mente trabalhando rapidamente. Havia muito mais a ser feito e pouco tempo para fazê-lo. Mas, por enquanto, eu precisava de um momento de tranquilidade para reorganizar meus pensamentos.

Subi as escadas e fui em direção ao meu quarto. Ao abrir a porta, entrei e me deparei com a familiaridade reconfortante do meu pequeno espaço pessoal. Respirei fundo, permitindo-me um breve momento de descanso antes de mergulhar de volta no mundo de intrigas e conspirações que me rodeava.

Sentando-me à minha escrivaninha, peguei um caderno e comecei a escrever, traçando planos e estratégias para os dias que estavam por vir. A noite estava apenas começando, e eu tinha muito trabalho a fazer. Mas, por enquanto, eu estava em casa, seguro no meu domínio.

Acordo com a mesma determinação habitual. O incidente da noite anterior mal tinha deixado um arranhão em minha mente calculista. Vestindo meu uniforme com precisão militar, permiti-me um breve momento de reflexão enquanto ajustava minha gravata.

Aquela gravata, me lembrou a que dei a Karuizawa, tinha um significado especial, um lembrete de uma aliança improvável e um objetivo compartilhado. Mas, como sempre, meu rosto permanecia uma máscara impenetrável de indiferença enquanto saía do dormitório e seguia em direção à escola.

Ao chegar à sala de aula, escolhi meu assento habitual no fundo e me acomodei, observando enquanto os outros alunos começavam a entrar. Não demorou muito para que Horikita se aproximasse e se sentasse ao meu lado, e eu sabia que uma conversa estava por vir.

Ela me lançou um olhar calculista, seus olhos examinando-me em busca de qualquer sinal de fraqueza ou vulnerabilidade. Mas, como sempre, eu permaneci imperturbável, pronto para enfrentar qualquer desafio que ela pudesse lançar.

"Você parece mais sério do que o habitual hoje", ela começou, sua voz séria e medida.

"Tenho motivos para isso", respondi simplesmente, sem me deter em detalhes.

Seu olhar era penetrante, como sempre, e eu sabia que ela estava avaliando cada palavra que eu dizia em busca de qualquer sinal de fraqueza ou desonestidade.

"O que você sabe sobre o que aconteceu ontem à noite?", ela perguntou diretamente, cortando direto ao ponto.

"Muito pouco", respondi honestamente, mantendo meu tom neutro. "Estive ocupado com outras questões."

Ela franziu o cenho ligeiramente, como se não estivesse completamente convencida de minha resposta. Horikita não era uma pessoa que se contentava com meias-verdades ou evasivas, e eu sabia que teria que ser cuidadoso com minhas palavras se quisesse manter sua confiança.

"Entendo", ela disse, sua expressão se suavizando um pouco. "E quanto a você? Onde estava ontem à noite?"

A pergunta era direta, e eu sabia que ela esperava uma resposta igualmente direta. Eu ponderava como responder, calculando cuidadosamente cada palavra para evitar revelar muito ou muito pouco.

"Estive ocupado com alguns assuntos pessoais", respondi finalmente, escolhendo minhas palavras com cuidado. "Mas isso não é relevante para nossos objetivos atuais."

Horikita assentiu, parecendo satisfeita com minha resposta. Ela era uma pessoa prática e não se deixava distrair por trivialidades. Horikita era uma aliada valiosa, apesar de nossas diferenças, e eu confio nela para manter seu fim do acordo.

Enquanto estávamos imersos em nossa conversa, a porta se abriu novamente, revelando Karuizawa entrando na sala. Ela parecia um pouco fora de lugar, seus olhos vagando pela sala até encontrarem os meus. Por um momento, nossos olhares se encontraram, e eu vi uma chama de determinação brilhando em seus olhos.

Seus olhos, normalmente expressivos, estão agora carregados de uma emoção que não consigo identificar imediatamente. É como se houvesse uma tempestade se formando por trás daquele olhar, pronta para desabar a qualquer momento.

Ela se move com determinação, seus passos rápidos e decididos enquanto ela faz seu caminho para o seu lugar. Seus lábios estão firmemente pressionados, uma linha reta que denota sua tensão interna. Eu me pergunto o que poderia ter acontecido para deixá-la tão visivelmente irritada.

Quando ela se senta, sinto seu olhar pesar sobre mim. Seus olhos queimam como brasas, lançando um desafio silencioso que não posso ignorar. Parece que ela está me culpando por algo, embora eu não saiba exatamente o quê.

Opto por manter meu rosto impassível, sem demonstrar qualquer sinal de preocupação ou desconforto. Se ela quer jogar esse jogo, estou mais do que disposto a participar. Afinal, eu não cheguei até aqui sendo intimidado por olhares furiosos.

Enquanto a aula prossegue, continuo a sentir o peso de seu olhar sobre mim. Mesmo não estando olhando para mim, é como se ela estivesse tentando me sondar, procurando por alguma fraqueza que possa explorar. Mas eu não dou a ela essa satisfação. Permaneço calmo e inabalável, como sempre fiz.

No final da aula, quando todos começam a se levantar para sair, Karuizawa permanece em seu lugar. É como se ela estivesse esperando por algo, uma explicação ou um gesto de minha parte.

Eu me levanto lentamente, mantendo meu rosto neutro enquanto a observo. Se ela quer uma explicação, terá que pedir. Mas por enquanto, permaneço em silêncio, esperando para ver o que ela fará a seguir.

Assim que me afasto de sua carteira, ouço um "hein, para aí". Me viro e lá está ela, bem perto de mim, me encarando como nunca. "O que você quer?", pergunto.

"Explicações", ela diz, com uma determinação que me surpreende. "Eu vou para o pátio, quer vir?", questiono. Ela concorda e me empurra, seguindo à frente.

Caminhamos em silêncio, nenhum de nós olha para o outro. Ela se apressa e escolhe um lugar, e eu me sento em silêncio. "Desembucha", ela diz.

"O que?", pergunto, tentando entender o que ela quer dizer.

"Você me enganou! Disse que contaria e fugiu de mim. Você é um babaca mesmo", ela diz, com raiva palpável em suas palavras.

Aquilo quase me atinge, mas decido manter minha compostura. Sou bom em não deixar que as palavras dos outros me afetem.

"Podemos dizer que sou um monstro", penso brevemente, mas escolho ficar em silêncio.

"Não vai falar nada?", ela insiste, seu olhar buscando uma resposta em mim.

"Bom, não...", começo a dizer, mas sou interrompido pelo toque de seu celular. Ela olha para a tela, digitando rapidamente uma mensagem antes de guardar o aparelho no bolso novamente.

"Vai falar?", ela pressiona, impaciente. Em seguida, ela se levanta e sai correndo, prometendo: "Vou ligar para você".

KiyoKei: Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora