Voltas e Voltas

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Karuizawa Kei

Eu nunca pensei que alguém como ele pudesse se importar. Não de verdade. Mas, a cada vez que nossos olhares se cruzam, sinto algo diferente, algo que não consigo decifrar completamente. Talvez seja a forma como ele sempre parece estar um passo à frente de todos nós, como se já soubesse o desfecho de todas as situações, mesmo antes de começarem. Ayanokoji Kiyotaka... um enigma que estou determinada a desvendar, mesmo que isso signifique colocar tudo em risco.

Já nos encontramos tantas vezes em momentos que jamais imaginaria, compartilhando beijos que deixaram meu coração em frangalhos, e toques que incendiaram meu corpo, me fazendo questionar o que realmente sinto por ele. Mas não importa quantas vezes isso aconteça, ele continua sendo um mistério. Cada vez que nos aproximamos, é como se eu tocasse uma sombra, algo intangível, impossível de segurar.

Agora, estou de volta ao ginásio. O lugar onde tudo começou. Aquele primeiro encontro na escuridão, onde o silêncio era interrompido apenas pelos nossos sussurros e a tensão entre nós. Este lugar carrega tantas memórias, e, enquanto caminho lentamente pelo piso gelado, sinto cada uma delas voltando, me envolvendo em um redemoinho de emoções.

As luzes fracas do ginásio projetam sombras longas, quase tão misteriosas quanto ele. Eu paro no meio do espaço, fechando os olhos por um momento, tentando acalmar o turbilhão dentro de mim. Aqui, onde nossas almas se encontraram pela primeira vez, não consigo evitar a sensação de que algo mais profundo está prestes a acontecer. Algo que pode mudar tudo.

Me aproximo e me sento na beira da piscina, deixando meus pés tocarem a água fria. A superfície reluz sob a luz suave que se infiltra pelas janelas do ginásio, criando pequenos reflexos que dançam sobre a água. É estranho como a tranquilidade desse lugar contrasta com o tumulto dentro de mim.

A cada movimento da água, sinto o arrepio subir pelas minhas pernas, mas não é apenas o frio. É a lembrança de tudo o que aconteceu entre nós. Cada toque, cada beijo... cada momento em que me vi perdida nos olhos dele, tentando entender o que se esconde por trás daquela máscara impenetrável.

O silêncio é quase reconfortante, mas também pesado, cheio de coisas não ditas, emoções não expressas. Mergulho meus pés um pouco mais fundo na água, tentando encontrar alguma clareza. Mas tudo o que consigo é me afundar mais nas memórias. Aquelas noites em que nos encontramos aqui, longe dos olhares curiosos, foram tão intensas quanto confusas. Cada vez que nossos lábios se encontravam, eu sentia que estava mergulhando mais fundo em algo que não conseguia controlar, algo que me puxava para ele, mesmo quando meu instinto gritava para fugir.

Fecho os olhos por um momento, respirando fundo. Sinto a tensão no ar, como se ele pudesse aparecer a qualquer momento, silencioso como sempre, e me observar da escuridão. E, se isso acontecer... o que vou fazer? O que devo dizer? Não sei mais onde termina a máscara que uso para proteger meu coração e onde começa o que realmente sinto.

E, como se meus pensamentos tivessem o poder de invocá-lo, ouço o som de passos suaves se aproximando. Abro os olhos lentamente e vejo Ayanokoji surgindo da penumbra, sua presença tão serena quanto sempre. Ele para a uma distância respeitosa, mas próxima o suficiente para que eu possa sentir seu olhar sobre mim. A luz fraca destaca os contornos do seu rosto, revelando uma expressão que é ao mesmo tempo indiferente e penetrante.

— Kei — sua voz é um sussurro, quase perdido no som da água. — Não pensei que te encontraria aqui.

Olho para ele, tentando ler o que há por trás daquela expressão enigmática. Não há sinais de surpresa ou confusão, apenas uma calma imperturbável que me faz sentir ainda mais insegura.

— Não é exatamente um lugar popular para se estar à noite — respondo, tentando esconder a inquietação na minha voz. — O que te traz aqui?

Ele dá um passo à frente, aproximando-se da borda da piscina. Seus olhos encontram os meus, e há algo nos seus olhos que parece tanto um convite quanto um desafio.

— Apenas curiosidade — diz ele, com um leve sorriso que não alcança totalmente os olhos. — E talvez um desejo de ver como você está lidando com as coisas.

Sinto meu coração acelerar, a tensão no ar se tornando quase palpável. A água fria contra minha pele parece um contraste dramático com o calor crescente em meu peito. Estou prestes a dizer algo, mas as palavras parecem faltar, enquanto a presença dele, tão calma e controlada, preenche o espaço ao redor.

Me levanto lentamente, sentindo a água escorregar dos meus pés. Caminho em direção à saída, tentando deixar para trás a confusão e a intensidade do momento. O som dos meus passos ecoa no silêncio do ginásio, e minha mente está cheia de perguntas sem respostas.

Mas, antes que eu possa alcançar a porta, sinto uma mão firme agarrar meu braço. O toque é suave, mas a pressão é inconfundível. Viro-me lentamente para encontrar Ayanokoji, que agora está a poucos passos de distância, com uma expressão que mistura uma determinação silenciosa com uma preocupação sutil.

— Karuizawa, não vá — diz ele, sua voz baixa e quase urgente, mas ainda preservando a sua calma característica.

Seu olhar é intenso e direto, e algo na forma como ele me observa faz com que meu coração acelere. Sinto um misto de frustração e uma estranha sensação de alívio. A mão dele ainda está firmemente segurando meu braço, e a conexão física entre nós parece amplificar a tensão que paira no ar.

— Por que não? — pergunto, tentando manter a minha voz firme, apesar da emoção que ameaça transbordar. — O que mais você quer de mim, Ayanokoji?

Ele não responde imediatamente, apenas me observa com um olhar que parece procurar algo dentro de mim. Sua expressão é difícil de ler, mas há uma intensidade nos seus olhos que me faz hesitar.

— Porque ainda há coisas não resolvidas entre nós — ele finalmente diz, sua voz carregada com uma sinceridade inesperada. — Porque eu preciso entender o que você está realmente sentindo e porque você não deve enfrentar isso sozinha.

Aquelas palavras ressoam dentro de mim, e eu me sinto dividida entre a vontade de recuar e a necessidade de enfrentar o que está entre nós. A sensação de estar tão próxima dele, com a mão dele ainda segurando meu braço, é ao mesmo tempo desconcertante e atraente.

— E o que você espera que eu faça? — minha voz sai mais baixa, quase um sussurro. — Você quer que eu fique aqui e fale sobre isso? Sobre o que realmente está acontecendo entre nós?

Ele não solta meu braço, mas seu olhar se suaviza um pouco. Há uma centelha de vulnerabilidade em seus olhos, algo que raramente mostra para os outros.

KiyoKei: Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora