Sakura

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Eu lembro do meu pai, lembro das diversas vezes que vendemos verduras juntos, dos meus aniversários, do sorriso fácil que ele me tirava.
Meu pai era um homem extraordinário, todos da nossa pequena cidade o conhecia e o respeitava, ninguém ousava lhe enganar, mesmo todos sabendo do seu pouco estudo, mas minha mãe era diferente.
Minha memória está cheia de lembranças boas, mas não consigo apagar as ruins, como da vez que um pequeno roedor que estava destruindo a horta que meu pai mantinha em nosso quintal, passou a invadir nossa casa, minha mãe tinha acabado de chegar do trabalho e não notou quando o animal se aproximava, passando rapidamente por cima dos seus pés.
Meu pai que estava preparando armadilhas no quintal, correu rapidamente ao ouvir seus gritos, eu estava no quarto e fiz o mesmo.
- Querida o que aconteceu? - Meu pai se aproximou, levando um enorme empurrão em seguida.
- ESSE MALDITO ROEDOR QUE VEIO DESSA MALDITA HORTA. - Meu pai olhou para o canto e sorriu, encurralando o animal e o pegando com o auxílio de uma luva que já usava.
- Aí está você danado. - Sorriu.
- Só isso? - Minha mãe o olhou enfurecida. - Você e esse rato são iguais, dois miseráveis. - Suas palavras eram duras, e nem meu pai, nem mesmo eu tivemos alguma reação a não ser escutar. - Quando vai destruir aquela horta e ir atrás de um emprego de verdade? Eu estou cansada de ter que limpar os pés daquelas mulheres... EU QUERO QUE LIMPEM MEUS PÉS, ESTOU FARTA DESSA VIDA MISERÁVEL AO SEU LADO...
- Que_Querida... Você está cansada, me deixe fazer uma massagem...
Meu pai tentou acalma-la, se aproximando mais uma vez e levando outro empurrão, que dessa vez o fez ir até o chão, fazendo o roedor fugir, corri em direção a ele e o ajudei a se levantar.
- Mamãe não precisa disso. - Disse completamente indignada.
Ela não falou mais nada, apenas foi até o quarto e bateu a porta forte. Ela nunca foi uma pessoa simpática, mas aquela tinha sido a primeira vez que a vi daquele jeito, já meu pai tentou me dá um sorriso amistoso, voltando para a horta, mas eu o segui, e vi suas costas tremendo por conta do choro compulsivo e silencioso.
Eu me aproximei mais um pouco, o vi mexendo nas cebolas e já sabia o que iria dizer, sempre dizia isso quando mamãe o magoava.
- Cebolas me fazem chorar. - Depois sorriu, limpando as lágrimas.
Duas semanas depois ele foi assassinado, um assalto cruel seguido de morte, em menos de dois meses minha mãe levou Kabuto para nossa casa, nem sei ao certo quando ele passou a morar conosco, e em seguida conheci Kakashi.
E por fim, chegou aquele dia, a segunda vez que vi minha mãe surtar, quando cheguei em casa ela estava destruindo a horta do meu pai, em seguida jogou minhas roupas na rua e colocou fogo em algumas, gritando atrocidades, dizendo que eu queria tomar seu marido dela, e por algum motivo, Sasori apareceu pouco depois de tudo acabar.

...

- Agora tudo faz sentido Sasuke. - Sakura  finalmente contou tudo detalhadamente para Sasuke. - A morte do meu pai, Kakashi aparecer um pouco depois da minha mãe conhecer Kabuto... Você me disse que Kakashi contratou Sasori para me pastorar, por isso que ele estava lá quando tudo acabou.
- Kakashi mandou Sasori se afastar de você, ele sabia que aquele desgraçado não ia te fazer bem.
- Então porque eles trabalhavam juntos?
- Sakura meu amor. - Sasuke tomou suas mãos, tinha que ser cuidadoso nas palavras. - Sasori era de uma organização criminosa como todos nós, não somos heróis, temos nossos princípios por fora, mas nem todo mundo é assim, alguns matam por diversão, estupram, sequestram, e outras coisas que eu particularmente não faria. - Ele notou uma certa tensão nos olhos verdes, mas precisava ser sincero. - Sasori era conhecido por fazer os trabalhos sujos dos outros por dinheiro, participava da organização criminosa que meu tio criou justamente para isso.
- Seu tio?
Sasuke pensou bem no que ia dizer, pois a vida de Sakura não tinha mais volta, mesmo que ele quisesse se afastar de tudo por ela, entrar na máfia era uma passagem apena de ida.
- Nossa família tem leis, mas ainda temos trabalhos sujos que não gostamos de fazer, digamos que Sasori é o homem que mandamos para isso, mas Kakashi o queria apenas para vigilância, nunca passou pela cabeça dele que haveria um romance entre vocês.
Kakashi! Mesmo Sakura não querendo tudo girava em torno dele, a morte de seu pai, seu relacionamento com Sasori, tudo de ruim que aconteceu na sua vida havia sido culpa dele, e Sasuke sabia dos seus pensamentos, mesmo que quisesse defender o amigo de muitos anos, que por sinal lhe ensinou tudo que sabe, não tinha como.
- Eu não sei de onde vou arrumar forças para suportar isso tudo Sasuke, sinceramente eu só queria esquecer, juro que pensar no meu pai sendo morto em um assalto seria melhor. - Ela chorou mais um pouco, limpando as lágrimas cada vez que caia. - Mas eu não posso deixar de lado nada disso, e sinceramente eu cansei de ser ingênua, cansei de ser usada por todos ao meu redor.
Lembranças de seu pai vieram com tudo em sua mente, mas não era apenas aquilo, também lembrou de sua morte, de Sasori, da sua mãe, Kakashi, até mesmo de Sasuke lhe rejeitando no começo. Porém, nunca iria esquecer aquele homem, seus olhos maldosos, seu sorriso malicioso estampado em seu rosto enquanto sua mãe a expulsava, não poderia saber o porquê que sua família havia sido escolhida para viver aquele inferno.
- Sakura? - Sasuke a chamou um pouco preocupado.
- Eu vou ficar bem Sasuke. - Sua voz havia mudado de tom.
- Eu juro que vou atrás dele, prometo que se durar mais que o previsto eu saio da máfia antes e...
- Não?! - Ela o cortou. - Você não vai sair da máfia agora.
- O quê?!
- Eu vou entrar Sasuke, vocês vão me ensinar tudo que preciso... - Sasuke queria dizer alguma coisa, queria impedi-la de fazer aquela loucura, mas sabia que não conseguia. - Eu vou matar o Kabuto Sasuke!

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