Capítulo Um.

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Estava queimando.

Na verdade, é muito comum o ato literal de "queimar" no inferno, afinal, o inferno sempre teve uma temperatura extremamente elevada.

Mas, dessa vez, essa sensação de estar em chamas era boa.

Não podia evitar a fisgada que sentia em seu baixo ventre a cada vez que enxergasse aquele sorriso largo.

Alastor podia sorrir de inúmeras formas. Na maioria das vezes, seu sorriso costumava ser desdenhoso, debochado e maléfico. Entretanto, pela primeira vez, Lúcifer Morningstar via, surpreso, que um novo sorriso emergiu na face de Alastor.

Enquanto lambia vagarosamente a virilha do loiro, Alastor sorria de forma maliciosa, com o desejo totalmente explícito em sua expressão.

Era tão perfeito...

Lúcifer já começava a acreditar que havia atravessado os portões do céu e aquele maldito sorriso fosse o seu, tão desejado, paraíso.

- Pai... - Sibilava entre suas pernas.

Só havia um único problema...

Aquela voz extremamente fofa e feminina, não era a de Alastor!

- Pai! - Dessa vez, o albino sentiu seu corpo ser bruscamente chacoalhado.

E, infelizmente, aquela imagem de Alastor se desfez, restando apenas o escuro e o vazio.

Como sempre.

- PAI! - Berrou Charlie, fazendo o dito cujo acordar em um sobressalto.

- MAS QUE PORRA!? - Gritou exaltado, se levantando apressadamente e enrolando-se com um lençol de seda dourado.

- Seu pijama é de patinhos? - Escutou o questionamento da namorada de Charlie, a qual não se lembrava o nome.

Por sorte, não teriam percebido o volume entre suas pernas por conta do seu pijama infantil, certo?

Lúcifer esperava que sim.

- Eu... Vou ignorar a total invasão de privacidade, e... Perguntar... - Ditava o Senhor do Inferno, disfarçando o próprio embaraço, com um olhar irritado para as duas garotas em seu aposento - O que diabos estão fazendo aqui? Ainda mais à essa hora da manhã!

- Você se esqueceu, pai?

Por mais discreto que fosse, Lúcifer notou uma pontada de decepção nas palavras de Charlie.

Merda!

O que ele havia esquecido?

Todo o embaraço e irritação que sentia, foi subitamente transformado em preocupação e medo. Sim, Lúcifer Morningstar, também conhecido como "O Anjo Caído", tinha medo. Todos os seus temores estavam relacionados à sua filha. Não podia decepcioná-la!

- A-ah, claro que não, filhota! - Por algum motivo, seu timbre não soava tão convincente quanto planejou - Como papai iria se esquecer disso?

O sorriso brilhante de Charlie o contagiou e, sorridentes, se dirigiam para o térreo do Hotel. Claro, com uma Vaggie lhe observando com uma sobrancelha arqueada.

Ela sabia. Óbvio. Não era necessário uma bola de cristal para perceber que o Morningstar havia se esquecido de... Seja lá o que fosse. Mas, desde que não contasse à Charlie, tudo estaria bem.

Ou talvez Vaggie só estivesse lhe fitando por conta de seu pijama de patinhos, que usava à segundos atrás, antes da vestimenta se auto-incendiar e surgir suas vestes costumeiras juntamente com seu cajado de maçã.

Após a tentativa do extermínio adiantado que provocou uma guerra entre anjos e demônios, a qual destruira completamente o Hazbin Hotel, Lúcifer decidiu tirar alguns poucos dias de férias para ajudar Charlie com seu projeto mirabolante e sonhador, até que o hotel de sua filha estivesse impecavelmente inteiro. Sentia-se imensamente feliz em passar mais tempo com Charlie, mesmo que tivesse que aturar o bullying de um certo demônio sem medo de morrer (de novo).

- Certo, gerente. - Bufava Lúcifer rolando os olhos - Sei que não concordarmos em muitas coisas, temos nossas diferenças e-

- Você é um anão. - Cortou Alastor, alargando ainda mais seu sorriso com o silêncio brutal que tomou aquele salão.

Charlie e Vaggie tentavam novamente um exercício de confiança, dessa vez em duplas. Lúcifer se amaldiçoava por não ter se lembrado de acordar mais cedo, assim, poderia ter pego uma dupla mais tranquila como o Husk ou a faixineirinha maluca. Se bem que, na verdade, até mesmo o ator pornô seria bem melhor que sua dupla atual.

- O que você disse...? - Sibilou fechando a cara.

- Ah, me desculpe. Não ouviu o que eu disse daí de baixo? - A ironia era quase palpável em sua fala e, a carranca do Morningstar apenas piorou quando o demônio pegou seu rádio - Consegue me ouvir assim?

Sua voz era um pouco diferente quando usava aquele rádio, parecia estar... Filtrada?

- O que está fazendo?! - Morningstar reprimia, com muito esforço, sua raiva.

Não iria brigar com aquele demônio arrogante na frente de sua filha e seus amigos.

- Não estou fazendo nada. - Ditou Alastor, dando de ombros com uma expressão tão inocente quanto um demônio poderia ter - Então, onde paramos? Ah, me desculpe, tenho que me abaixar para te escutar.

Uma veia saltada era perceptível na face de Lúcifer, principalmente quando o Demônio do Rádio se agachou para falar consigo.

- Até porque... Aqui em baixo é onde você está, não é? - Continuava, ignorando a carranca que piorava a cada segundo no rosto do Senhor do Inferno - Em baixo, é o seu lugar.

- Tá querendo brigar? - Questionou o baixinho, cerrando os punhos.

- Ah, brigar? Oh, não! - Exclamava Alastor, se levantando um tanto risonho - Não sabia que anões brigavam. Estava pensando em morder a minha canela ou algo assim? Até porque, é só isso que você pode alcançar de mim.

- O que há de errado com você hoje?! - A ira já começava a transparecer em sua voz, afinal, o Demônio do Rádio estava insuportável naquela manhã - Nós estávamos apenas discutindo sobre o exercício, mas, do mais absoluto nada você decide levar a discussão para o lado pessoal?!

- Ah, gente! - Exclamava Charlie, preocupada - Que tal nos acalmarmos?

- Todos nós estamos super calmos Charlie. - Respondia Alastor, sorridente enquanto, logo atrás de si, o ambiente estava em um silêncio ensurdecedor. Angel, Cherry e Vaggie os fitavam abismados. Já Husk, acostumado com sua arrogância, desatou a beber, despreocupado, em sua barraquinha - Bem, todos exceto o baixinho.

Lúcifer quase espumava pela boca de tamanha vontade que sentia em socá-lo. Forte.

- Certo... Então, que tal trocarmos de atividade?

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