Capítulo Dois.

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- Ah, sério Charlie? - Indagava Lúcifer, aterrorizado com a troca de atividade - Dança?!

O ritmo da batida era animado. Vaggie fazia Charlie rodopiar diversas vezes, deixando a garota mais sorridente do que nunca.

- Não vai me dizer que não sabe dançar, pequenino. - Alfinetava o demônio, lançando uma piscadela sugestiva.

- Por favor, pai! - Pedia Charlie com brilho nos olhos - A dança é uma importante forma de expressão cultural em vários lugares e, ela é muito divertida! Eu amo dançar com a Vaggie, por exemplo.

- E eu vou odiar dançar com esse pedaço de merda. - Pontuava Lúcifer.

- A dança também reflete beleza e estética, um linguajar tão devasso quanto esse não combina com ela, baixinho. - Elucidou Alastor, deixando seu rádio escorado em uma parede qualquer e estendendo a mão para o Morningstar.

- Perdoe-me, reformularei minha fala; A minha pessoa irá sentir extrema aversão em dançar com esse fragmento de fezes. - Ditava o loiro, aceitando a mão de Alastor e colocando-se na mesma posição que Charlie mostrava, para enfim, dar início a uma dança minimalista e um pouco fora do ritmo da batida - Melhorou a estética agora, pedaço de merda?

- Talvez.

Os pelinhos dourados se eriçaram quando sentiu a mão sorrateira agarrar sua cintura esguia com firmeza enquanto, à passos leves, o demônio conduzia a dança.

- Não fazia ideia de que arrepiar um anão seria tão fácil assim. - Fez questão de dizer em voz baixa ao pé de sua orelha.

- Vá se foder! - Mandou rolando os olhos e virando o rosto, dando de cara com uma cena um tanto cômica.

Angel Dust parecia confuso e desconcertado sobre como posicionar seus quatro braços. Dois deles estavam apoiados no ombro de Husk, o outro segurava sua cintura e, o último, estava de mãos dadas com o demônio. Comumente, Husk também não sabia lidar com a quantidade extra de braços do parceiro, então, em um ritmo atrapalhado, seguiram uma dança definitivamente... Esquisita.

Óbvio, mesmo desengonçado, Angel não deixava de fazer movimentos sugestivos e obcenos uma hora ou outra.

O Morningstar não pôde conter uma risada anasalada ao vislumbrar a expressão de morte explícita na face de Husk. No entanto, sua atenção foi bruscamente desviada por um aperto, semelhante a um arranhão, em sua cintura.

Os olhos de Alastor estavam vidrados nos seus.

Os passos do demônio ficavam cada vez mais ágeis e Lúcifer não ficava para trás, acompanhando, rodopiando e finalmente entrando em sincronia com Alastor.

Seus olhares não se desviaram um do outro nem uma única vez.

Os arredores já não lhes importavam mais.

Estavam perdidos.

Lúcifer se via perdido, envolto à imensidão avermelhada da íris de Alastor, que reluzia tal como uma lua de sangue acima de densas nuvens negras.

Alastor se via afogado em meio ao brilho do ouro que enxergava nos olhos de Lúcifer. Suas orbes refletiam um dourado cintilante tão intenso, que essa luz trazia incômodo para os olhos de Alastor. Mas ele não queria fechá-los...

Já não se moviam mais.

Sequer escutavam as batidas frenéticas da música.

E muito menos enxergavam as redondezas.

Vagarosamente, ambos se inclinavam para mais perto um do outro.

A conexão da qual compartilhavam era tão forte e intensa, que Alastor sequer percebeu quando seu próprio sorriso se esvaiu do rosto, mostrando pela primeira vez, que não tinha controle nenhum sobre aquela situação.

Na perspectiva de Lúcifer, esse Alastor parecia muito mais agradável do que aquele demônio sorridente de minutos atrás. Sem os sorrisinhos maldosos, as expressões torcidas em sarcasmo e as piadinhas irritantes sobre sua baixa estatura, Alastor era extremamente bonito!

Observou, com desejo, os olhos do demônio fixos em sua boca.

Lembrou-se do sonho que teve com Alastor ainda naquela manhã e, não pôde evitar que suas bochechas ficassem levemente avermelhadas com aquilo, mas, não se afastou.

Fechando as pálpebras em grande expectativa, Lúcifer estava pronto para se entregar ao demônio assim como desejou noite após noite naquele hotel.

- P-pai?!

Lúcifer se sobressaltou.

Em questão de segundos, num ato totalmente impensado, o Sr. Morningstar empurrou, com força desmedida, sua dupla para o mais longe possível de si.

Surpreso demais para reagir, e por conta da velocidade absurda que fora empurrado, Alastor bateu acidentalmente a cabeça na ponta de um quadro pendurado em uma parede próxima. E se surpreendeu ainda mais ao sentir, quase de imediato, alguma coisa escorrer na parte de trás da sua cabeça.

Quanto à Lúcifer? Esse não sabia se pedia desculpas por ter praticamente arremessado Alastor, ou se explicava para Charlie que...

O QUE CARALHOS ELE IRIA EXPLICAR PARA SUA FILHA?!

Lúcifer paralisou com cara de tacho na frente de Charlie. Era quase nítido as engrenagens do seu cérebro trabalhando para encontrar alguma desculpa que pudesse esclarecer o que acabara de acontecer entre ele e o demônio.

- P-pai, calma! - Exclamava Charlie tão desesperada quanto ele - Alastor, você está bem?

Não obteve resposta.

Embora o Demônio do Rádio tivesse voltado a sorrir, seu olhar entregava o quão assustado estava.

Sem mais demoras, Alastor se fundiu com a própria sombra, desmaterializou-se e num passe de mágica, sumiu.

- Parabéns, empata-foda! Assustou os dois! - Anunciou Angel, igualmente chocado, em meio ao silêncio grotesco que predominou o ambiente.

- DESCULPAAAAA! - Berrou Charlie com pequenas gotículas de lágrimas escapando dos olhos, logo sendo amparada por Vaggie, que dizia palavras reconfortantes enquanto limpava os olhos da namorada.

- Por essa eu não esperava... - Comentou Husk servindo um drink para Cherry Bomb, que olhava tudo aquilo boquiaberta.

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