Estava filtrando café quando a primeira linha dourada divergiu-se em meio ao céu infernal.
A carnificina estava prestes a começar.
Os canibais já se armavam contra o fluxo infindável de anjos que voariam desenfreadamente através daquele portal. Sentiam empolgação ao empunhar os mesmos ferros angelicais da resistência anterior.
Em contraposição, Alastor passava seu café, já filtrado, para uma chaleira. Despejava o líquido preto de forma cuidadosa, observando a euforia proveniente dos súditos de sua amiga, distante de si. Não tinha pressa. Poderia ativar sua barreira protetora a qualquer momento, todavia, planejava deixar os pecadores se divertirem com o primeiro ataque angelical.
Mas, errou em não se lembrar de que imprevistos podem acontecer.
Deixou que a chaleira escorregasse de sua mão ao notar um único anjo saindo do portal.
Suas vestimentas eram perfeitamente alinhadas e requintadas. Trajava apenas peças pretas com detalhes em dourado sob uma capa de seda negra esvoaçando pelos céus. Suas asas negras eram tão rápidas que pareciam cortar o ar a cada movimento. Aquela expressão neutra presente em sua face, lhe proporcionava um ar arrogante de superioridade.
- Um só? - Alastor ouvia questionamentos dos pecadores ao longe.
- Não vai ter comida suficiente para todo mundo! - Exclamava outro.
- Se dividir certinho...
- Tolos. Não vêem que ele é forte? - Murmurava Alastor, empunhando seu rádio e encaminhando-se para dar as boas-vindas pessoalmente ao ser divino.
Odiava ter que mudar seus planos de última hora.
~
- HÁ! SE FUDERAM! - Berrava Husk após deslizar as cartas pela mesa, revelando ser a mão mais forte do jogo pela última vez.- Na-na-ni-na-não! - Negava Lúcifer fazendo o gesto negativo com o dedo indicador - Você roubou.
- Poker é um jogo de azar, claro que teve roubos. - Mencionava Vox, lançando suas cartas ao resto do baralho.
Após ser a mão mais fraca da mesa por quatro partidas consecutivas, a TV já não queria mais jogar.
Infelizmente, a carranca grotesca de Lúcifer não impediu que Husk puxasse todas as pilhas de fichas para si.
- Que merda você vai fazer com um pato!? - Perguntava Lúcifer, emburrado.
- Não tô nem aí com o prêmio. Só queria ganhar. - Esclarecia Husk em um sorriso vitorioso.
Há muito não sentia aquela sensação gostosa de se arriscar.
Há muito não sentia a vitória percorrer no interior de suas veias.
Há muito não esfregava sua glória na cara de alguém.
- A propósito, o que você faria com um pato? - Questionou Husk, curioso.
- Ei, Pesso...al. - Interrompeu Vox, com a tela em mau funcionamento.
Algumas curtas cargas de corrente elétrica, eram visíveis na superfície de seu visor.
- Cuidaria. - Respondeu o loiro, sem dar atenção a TV em pane - E cuidaria melhor do que você!
- Ga-lera... - Continuava Vox, ainda surpreso com o que via em seu próprio ecrã.
- Se é isso que quer, pode pegar o prêmio para você. - Ditou Husk, dando de ombros. Não precisava de prêmio nenhum, já havia se sentido vitorioso o suficiente por aquele dia, afinal, vencer o Rei do Inferno não era para qualquer um.
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AppleRadio
Humor- Deve ser muito difícil para você, miniaturinha de gnomo. - Provocava o demônio enquanto oferecia, satisfeito, um sorriso desdenhoso para o loiro - Um ser divino, caído, verticalmente prejudicado e com uma cabeça desproporcionalmente grand- - Como...