Me perdoe

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Pov. Tony

Três semanas se passaram desde o incidente, Rudolph já mudou de casa e eu só consigo saber dele através da Anna, para minha infelicidade. 

No meio tempo em que nos distanciamos, a menina mostrou-se uma pessoa até que legal quando não dá em cima de mim. Ela parou de querer ficar comigo e se tornou minha amiga. 

O vampiro ainda estuda conosco, mas não se mostra presente. Toda vez que tento conversar, sou jogado de lado, minha presença parece incomodá-lo, sinto que sou um peso para ele e isso me machuca emocionalmente.

Vago pelos corredores da escola, os mesmos alunos e panelinhas de sempre, sinto como se tudo o que acontecesse à minha volta fosse irrelevante.

Minha mente, quase vazia, só consegue pensar em Rudolph, em seu cabelo molhado, em seus olhos negros e em seu sorriso que me alegrava. Nunca mais o vi.

Esbarro em alguém, a pessoa sussurra um palavrão em resposta enquanto eu continuo a encarar o chão. Vejo uma mão estendida a mim como um cumprimento.

- Você tá legal? - Uma voz gentil e suave me pergunta.

- Claro, e você? Se machucou? - Aperto sua mão sem olhar em sua face.

- Não, eu estou bem. Tony, né? - Levanto o olhar e vejo um garoto, seu cabelo é loiro e preso a um coque desajeitado, seus olhos são verde-esmeralda e sua pele é clara como a neve.

- Sim, e você é?

- Meu nome é Willy, sou da turma do Rudolph. Ele me falou de você. - Me surpreendo e o encaro com esperança no olhar.

- Ele... Falou de mim?

- Sim! Bom, nas últimas semanas ele evitou, mas ainda sim tenho notícias de você, ele se preocupa demais com você, sabia? - Sinto minhas bochechas queimarem um pouco.

- Ele falou de mim nas últimas semanas?

- Sim, disse que vocês não estão se falando, mas ele está cuidando de você de longe. - Fico cabisbaixo.

- Duvido muito. - O menino sorri maroto.

- Quer uma prova? - Reflito antes de acenar positivamente.

De repente, sinto seus braços me envolverem, um abraço frio, mas caloroso, será que ele é vampiro também? Explicaria a temperatura.

Não entendo o porquê da ação até ele apontar minha cabeça para o fim do corredor. Vejo Rudolph encostado na parede, parece sério, mas apreensivo, seu olhar vazio pode ser visto a quilômetros de distância.

Ele se importa comigo, isso deixa meu coração aquecido, me faz alegre novamente, mas se ele me ama, por que me evita?

- Como que...

- Ele te marcou, se eu fizer qualquer coisa com você, ele sente. 

Instintivamente, coloco a mão no pescoço.

- Ele te contou?

- Muito mais do que você imagina.

Sorrio com o acolhimento, isso foi repentino, eu não esperava que alguém que conhecesse o Rudolph viesse me aconselhar e ajudar mentalmente.

Willy acena e sai do corredor, já não vejo mais o menino que estava a nos observar. Ainda meio cabisbaixo, mas animado, vou até a sala de aula, estou 10 minutos adiantado, mas é o suficiente para arrumar meu material.

Ao tentar abrir, a porta está trancada, o que é estranho já que ela fica aberta todos os dias a todo momento. Tento olhar as janelas, mas estão todas fechadas. Coloco o ouvido na porta e escuto cadeiras caindo, alguém está lá dentro.

Sento na frente da porta refletindo sobre o que acabou de acontecer, um cara aleatório vem, esbarra em mim e me fala sobre o problema que mais me afeta na minha vida. É coincidência demais.

A forma como ele agia era natural, não tinha nenhum fingimento ou negação em seu olhar, então por que isso me incomoda tanto? 

As perguntas continuam a invadir minha mente quando alguém abre a porta. Ao olhar para trás, vejo Anna com o professor de História, ela com a bochecha marcada com um tapa e ele com a mão avermelhada.

Ao me ver, Anna se espanta, já o professor debocha com o olhar, claramente não se importa de eu ter visto isso ou não.

Levanto com irritação, sei o que ele fez e juro que vão acabar com ele por isso. A irritação em meu olhar é explícita, o encaro com ódio e fúria, quero matá-lo, quero bater nele, quero fazê-lo sangrar até precisar ser internado.

- O que você fez com ela?

- Ensinei uma lição. - Cerro meus punhos, eu vou encher ele de porrada.

"Antes que eu perceba, dou-lhe um soco, marcando seu rosto com uma vermelhidão um pouco mais forte que a da garota.

- TONY PARA. - Ignoro a menina, indo para cima do adulto.

Sento na barriga dele como apoio e acerto socos em sua face, a raiva me domina.

- Então, a putinha sabe bater? - Ele fala enquanto apanha, sangue sai da sua boca.

Seguro a gola de sua blusa para cima.

- CALA A BOCA, SEU DESGRAÇADO, QUEM BATE EM MULHER É COVARDE.

- Covarde é ela que não revidou.

Me viro para minha amiga, os olhos têm culpa, as mãos e pernas são trêmulas, ela não tem reação, está assustada, apavorada.

- Eae? Não vai me bater?

Me viro para o homem, meus olhos relaxam e meu sorriso se abre. Sádico, mas cansado.

- Você machucou minha amiga e quis me colocar contra ela. - Cuspo as palavras. - Eu vou te bater a ponto de não identificar sua face no necrotério.

Socos, repetidos, cada vez com mais força, mais intensidade, mais, mais, MAIS. Sangue, gritos, desespero. Esse filho da puta fudeu tudo para mim, ele vai pagar, eu vou matá-lo."

- Tony? - Pisco, retornando à realidade. - Vamos, a aula vai começar.

Anna me encara meio triste, mas apreensiva, cerro os dentes em resposta à minha irritação. Vou até a garota a abraçando, o professor já saiu de cena. 

Apoio minha cabeça em seu ombro, fazendo carinho em sua cabeça.

- Eu vou matá-lo.

- Não, Tony, tá tudo bem, eu mereci.

- Ninguém merece apanhar Anna. - Sinto seus lábios se contraírem.

Ficamos assim por alguns minutos, meus braços em torno de seu corpo e os dela em torno da minha cintura. Sinto sua respiração bater na lateral do meu pescoço, onde Rudolph marcou messes atrás. A recordação me entristece, mas não é momento para isso.

Vamos para a aula, eu na esperança de que tudo se resolva, e ela na inquietação pela bochecha machucada.

Um amor impossível  (rudony)Onde histórias criam vida. Descubra agora