Capítulo V - A Maldição

13 2 0
                                    

Mariposas-alvas perseguiam o tímido cintilo dos vagalumes, voando sob o alpendre verdejante dos pinheiros. Lado a lado, trotavam sobre a sela de seus robustos cavalos, cujas passadas mastigavam a neve. Amora, a loba, acompanhava-os silente por trás, atenta como uma sentinela.

Minerva não lembrava da última vez desde que viajara ao lado de alguém, se é que isso havia acontecido em algum momento do último decênio. Vez ou outra, ela desviava os olhos da estrada e os pousava nos galopes de seu companheiro, avaliando sua postura na sela.

Depois de uma longa viagem, ela sempre parava numa clareira profunda na floresta ou à margem dum rio de trincar os dentes — congelante, assim como tudo naquele deserto morto de neve prata.

— Tem uma gruta aqui perto — ela avisou, sua voz murmurosa abafada pelo elmo que escondia sua face. — É um bom lugar para descansarmos.

Porém, ela sempre esquecia que nem toda raça daquele mundo possuía uma audição tão aguçada quanto a sua para ouvir os seus sussurros. Ele simplesmente continuava encarando o caminho, inerte à sua advertência. Suas palavras se perdiam ao vento que os separava, soterrando sua voz sussurrante sob a neve.

— Luci! — Decidiu elevar o tom. — Está me ouvindo?!

Kinley, num susto, virou-se para ela, tirando enfim os olhos do trajeto. Já fazia um tempo desde que alguém, senão sua mãe e irmã, chamara-o pelo primeiro nome.

— Estou agora — replicou ele. — O que você queria?

Minerva inspirou fundo, buscando fôlego para continuar a exclamar:

— Eu sei de um lugar para a gente descansar!

Ele riu baixo daquela atitude e puxou as rédeas de seu cavalo, moderando o ritmo dos galopes enquanto se aproximava dela. Suas montarias agora caminhavam lado a lado, encurtando a distância entre suas vozes.

— Não há mais necessidade de gritar — murmurou ele. — Estou bem aqui ao seu lado agora.

— Há uma gruta perto daqui — Minerva abaixou o tom. — Estamos viajando há bastante tempo, Amora e Mirtilo precisam descansar um pouco.

Kinley olhou para baixo, observando os passos leves daquela besta negra que se escondia sob a alcunha de Amora. Adestrada e obediente, a loba apenas seguia sua mestra em silêncio.

— Mas não era você quem estava com pressa para salvar sua família?

— Isso é verdade — respondeu ela. — Mas não posso fazer os meus companheiros sofrer por causa da minha impaciência. Além disso, vai ser uma ótima oportunidade para começar a fazer a sua liturgia de purificação.

Ele sacudiu a cabeça devagarinho, arqueando um sorriso.

— Tudo bem — cedeu ele. — Vamos fazer uma pausa.

Kinley juntou alguns gravetos secos e os trouxe para a caverna no sopé da montanha, enquanto Minerva ainda caçava na floresta. As providências e as rações estavam longe de serem suficientes para um homem, uma mulher, dois cavalos e um lobo.

Ele fez a mecha com os galhos e a cercou com os pedregulhos largados no chão da gruta. Uma fogueira em estrela — como costumavam sempre fazer nos acampamentos do exército. Bem menor do que estava acostumado a fazer; mas não era como se precisasse aquecer um batalhão inteiro.

Apenas ele, ela e mais três animais.

Esfregou cascalho e aço para nascer uma faísca, e dela cultivou uma pequena brasa na mecha. Ele rodeou as chamas tímidas com suas mãos, preservando-a até que crescesse e crepitasse sobre toda a fogueira. As labaredas, então, começaram a afugentar as sombras com sua luz e o frio com seu calor.

A Megera de MonteprataOnde histórias criam vida. Descubra agora