A última lembrança que era capaz de reproduzir, era de estar no cemitério clamando para Naomi lhe mandar um afago, era seu aniversário, o primeiro em tantos anos que estaria só, sem sua amada. Sua esposa lhe acordava sempre com um cupcake, residindo uma velinha em cima, lhe desejando feliz aniversário. Depois faziam amor arduamente, uma tradição imutável, questão de ser mantida, só que esse ano… não seria concretizada.
Recordava-se que no ano anterior, ela o fez prometer que faria uma festa para comemorar a chegada aos famosos “enta”, alegando ser a idade que seria difícil sair, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta, oitenta, noventa… todos com o famoso “enta”. No entanto, não imaginou ou sequer previu no ano anterior, que chegaria ao famoso “enta”, sem sua amada… sem a tal festa que não queria de jeito nenhum, pois amava sua tradição de cupcake. Então fez o que de melhor vinha fazendo nos últimos tempos, beber para esquecer.
A dias, tinha pego a empregada que Sakura tanto insistiu para contratar, mexendo nas roupas da sua Naomi, segundo ela, as iria pôr para pegar sol para não mofar, não acreditou. Tinha certeza que ela iria roubar as roupas da sua amada, e isso não permitiria. Petulante e enxerida, era isso que aquela senhora era, ficava lhe dizendo que precisava beber menos e se alimentar melhor, hora, a mesma não via que era um homem de quase 40 bem crescido que sabia o que fazia?
Agora estava ali, embaixo de uma água congelante ao qual seus amigos o enfiaram, somente porque ele tinha passado da conta um pouquinho no álcool.
— ME LARGUEM SEUS IDIOTAS! O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO?! — se debatia, tentando a todo custo sair daquele chuveiro frio, mas era um contra três, então sem chances.
— Não vamos não, vai tomar esse banho frio e depois um comprimido, por fim um café forte, para ver se cura um pouco essa merda que fez. — Sasuke dita, externando visivelmente sua irritação.
— Vai a merda! — arriscou um tom forte, mas seu estado era tão debilitado que soou como um bebum. — Não sou criança, apenas bebi um pouco além da conta, afinal, não é todo dia que entra no ciclo dos “enta”. — Sua voz saiu irônica, com uma pontada de raiva.
— Não foi somente uma bebedeira para comemorar seu aniversário, está virando um alcoólatra, seus clientes não querem mais que os representam, pois você está sempre de ressaca, cheirando a álcool, se olha no espelho cara, e me diz o que vê? — Shikamaru o puxou com certa brutalidade para frente do espelho. O loiro fitou seu reflexo com aspereza, tudo que via era um cara com olheiras profundas, barba por fazer, cabelos enormes… um verdadeiro maltrapilho. Era isso que o definia nesse momento.
— VOCÊS NÃO SABEM NADA! EU ODEIO VOCÊS! ODEIO A VIDA PERFEITA QUE TEM, ODEIO QUE VOCÊ SHIKAMARU JÁ TEM UMA FAMÍLIA FORMADA, TEM UM FILHO LINDO, UMA ESPOSA QUE TE AMA… SAI, ODEIO SUA FELICIDADE COM A INO, ODEIO COMO SÃO OPOSTOS, MAS SE COMPLETAM. E POR FIM… TE ODEIO SASUKE, ODEIO QUE SAKURA ESTEJA VIVA E FAZENDO PLANOS PARA ENGRAVIDAR E OS MEU FORAM TIRADOS, PORQUE? DEUS ESTÁ ME PUNINDO? SOU UMA PESSOA RUIM? NÃO SIGO UMA RELIGIÃO, É POR ISSO? — a ira o emergiu potencialmente, externando-a em berros em meia a sua dor, elevou uma mão ao peito, apertando com uma força desmedida, queria arrancar seu coração, queria que ele parasse de bombear sangue, queria que ele parasse de bater, queria morrer. Em dado momento, chocou os punhos na bancada do banheiro com brutalidade, resultando nos perfumes e cremes de Naomi de encontro ao chão, quando se deu conta, o desespero dominou-o mais uma vez. — NÃO, NÃO, AS COISAS DA NAOMI, OS CREMES, PERFUMES, ACABEI COM ISSO TAMBÉM, SOU UM MALDITO QUE NÃO MERECE TER NADA. — cedeu ao chão junto às lágrimas que deslizaram de maneira espontânea, pequenas gotas que concentravam uma porcentagem da sua alma em agonia. A dor dilacerante enraizada em si, assemelhava-se a espinhos que perfuravam cada extremo do seu corpo, sentia tudo doer, suas mãos, sua cabeça, suas pernas, seus braços, todavia, a dor tinha um núcleo central, seu coração. A junção de tudo integrava uma perfeita obra da desgraça humana, se via muito bem retratado nisso. O pranto sofrido tirou os amigos do torpor que se encontravam, pelo desabafo dolorido do Uzumaki.
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Entre o coração e o desejo.
Fiksi PenggemarPara Naruto, a vida perdeu a cor quando sua esposa partiu. Uma dor que o liga ao passado e as lembranças que compunham um quadro de emoções retráteis. Mas tudo muda quando conhece a esposa do seu irmão, Hinata Hyuuga. No entanto, pela segunda tragéd...