CONFISSÕES SOMBRIAS

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CONFISSÕES SOMBRIAS

  

       — Que esplêndida chama! — exclamou Verena quando ela e sua guardiã Tairiak se aproximaram de Menelak que liderava a marcha ao lado de Gerusa.

— Bela e sagrada — disse ele. — Uma fagulha do espírito de meu bom deus. Toque a chama, ela não queima.

— Mas sinto seu calor de longe.

— Sentirá ainda mais de perto, mas não ao ponto de se ferir.

Ela aproximou a mão temerosa. O calor era extremo, mas de forma diferente do que esperaria de fogo verdadeiro. Quando não mais suportou se afastou como de um choque e averiguou a mão, nem mesmo vermelha.

— Diga-me jovem Verena de Visigal, está com fome? — perguntou Menelak certo de que as necessidades humanas da garota superavam em muito a dos Nay'Zays, mesmo vendo sua magreza extrema.

— Muita, milorde.

Olhando em volta considerou que era um local não pior que outros para uma pequena parada. Estavam todos a pé e a garota parecia extremamente cansada. Eles traziam uma boa quantidade de alimentos ofertados pelos elfos: frutos secos, avelãs, nozes, pães e bolos élficos. Menelak parou a marcha e acariciou os ferimentos causados pela bruxa sob a armadura. Era a primeira vez que sofria tanto com um ferimento de combate.

— Vamos fazer uma rápida parada — Gerusa ordenou aos capitães compreendendo o pensamento do esposo. — E vamos ver o que tem de ferimento aí, querido. Porque não me disse que foi ferido?

— Isso pode esperar um pouco.

Pararam e começaram a se posicionar em guarda e se aprontar para uma rápida refeição.

Menelak retirou de sua própria bolsa algumas opções saborosas e colocou sobre um tecido élfico dobrado e sobre uma pedra cinzenta grande que havia sobre a terra.

— O que são? — perguntou a jovem olhando para um bolo de maçã, pães adoçados com mel e algumas frutas fatiadas e secas.

— Ora! São comida, guloseimas — respondeu Gerusa perplexa. — Nunca comeu um bolo?

— Comida de elfo! — disse com tom de desprezo e decepção. — Só escravos comem coisas assim — disse a garota, entre a fome extrema e o costume.

— Parecemos escravos? — perguntou Gerusa pegando uma fatia e saboreando calmamente com um sutil sorriso nos lábios.

— Isso não os deixa mais fracos?

— Quem lhe disse isso? — indagou Menelak que já visualizava manipulações Howaráks em andamento naquela e certamente em outras tribos humanas.

— A bruxa proibe nós nobres de comer qualquer tipo de doce ou frutas capazes de nos fazer fracos e mimados. Apenas os escravos devem comer isso.

— E vocês... nobres... o que comem?

— Carne, ervas, raízes, cogumelos e bolotas de carvalho.

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        Menelak mergulhou em lembranças vívidas da era da Aurora, quando então não existia criatura alguma que vivesse de carne. Em verdade a guerra dos cem deuses teve início devido ao canibalismo entre espécies. Mais especificamente, segundo descobrira Yrdu pessoalmente em suas investigações, os Howaráks ordenaram seus dragões a assassinar e devorar súditos de outros deuses de modo dissimulado e sem serem descobertos, buscando ainda culpar humanos por seus atos vis.Cisnes e cervos sagrados, unicórnios, Touros Brancos e sabe-se mais o que. Isso após corromperem diversas fontes de alimento pelo mundo como pomares, jardins naturais e campinas de gramamel sem fim. Então, quando um homem da aurora chamado Indrel, faminto e desesperado enfrentou uma besta assassina, salvando seu amigo Touro Durgan, e matando a fera assassina no processo, foi então acusado pelos Howaráks e assumiu seu ato dizendo que de tanto horror e fúria pela fome e no desespero de aliementar sua tribo, golpeou forte demais a criatura assassina que atacava seu amigo touro. Sem saber o que fazer com o corpo da criatura a queimou, então, ele, seus famintos filhos e leais companheiros não suportaram a penúria e sentiram-se de tal forma atraídos pelo cheiro da carne queimada que não puderam resistir.

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