CONSELHO DA ALDEIA

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CONSELHO DA ALDEIA

          Ao amanhecer Argner convocou as famílias chefes para uma reunião no salão da praça. O salão comunal rapidamente se encheu de pais e mães, anciãos e jovens casais. Argner iniciou as declarações fazendo todo murmúrio e burburinho cessar.

— Como perceberam, ontem entrei em acordo com o guerreiro dourado. Agora irei informá-los o que foi definido pelo acordo e se fará cumprir pelos juízes que serão deixados na aldeia por ele.

— Eu digo o que deve se sumprir — trovejou Cedrik engasgando em ódio. — Nós embebedamos todos eles e rasgamos suas gargantas uma a uma.

— Muito invejável sua coragem, Cedrik — ironizou Argner. — Irei esperar ansioso os resultados do seu grande feito heróico — disse se sentando e esboçando exaustão pelo início previsível e lamentável da conversa.

— Eu caminhei algumas léguas com esses homens, esse Menelak — disse o caçador Evrosil. — Não é um homem comum. É poderoso como deuses e tão sincero quanto um cordeiro. Se disse que irá ser bom conosco, eu acredito nele.

— Você acredita até no seu cão mais raivoso, Evrosil — gritou uma mulher furiosa. — Todos eles querem algo que não dizem logo de cara. Esse Menelak diz que quer apenas aliados agora. Mas logo que angariar mais poder vai querer carroças cheias de grãos. Depois nossas filhas como escravas e filhos como soldados. Mais tarde nossas terras e por último vai arrancar nossa vida com sua ganância. Pois eu digo, se os Reis Vräns já são insaciáveis, imaginem esse enviado dos deuses.

— Nenhum líder está satisfeito com o que consegue. Querem sempre mais — concordou outra anciã.

— Nossa única escolha é acabar com eles antes de partirem! — concordou outra mulher. — A bruxa tem bastante veneno guardado. E pode completar com suas magias, disse fazendo um gesto de esconjuro de bloqueio.

— Eu não farei parte disso! — decretou Argner de antemão, cravando uma adaga na mesa.

— Conversei olho no olho com esse homem por um bom tempo — declarou Viren, o pai de Verena. — Concordo com Evrosil. Ele não é como nenhum homem que já vi.

— Sim. Há um poder e uma verdade inabaláveis nele — a mulher de Viren, Aylin, apoiou o marido.

— Eu colocaria minha vida nas mãos dele se ele jurasse defendê-la — concluiu Viren.

— Ele poderia ter arrancado sua cabeça, Cedrik, e rido ao mesmo tempo, mas o poupou e ainda demonstrou respeito por você. Cem dentre cem outros guerreiros não teriam demonstrado a mesma misericórdia — confessou Argner — Eu não teria. Você foi covarde na luta.

Cedrik levantou-se indignado. Mas ninguém dedicou atenção a ele. Envergonhou-se e baixou a cabeça em concordância.

— O que quer que Menelak quis demonstrar com tamanha demonstração de piedade e fraqueza, ao poupar a vida de um inimigo em combate — disse Argner. — Demonstrou também que se importa com a miserável vida humana de um desconhecido qualquer.

— Algo raro! — concordou Viren.

— Este Menelak tem um amor e dá uma importância inexplicável a qualquer humano — reconheceu um ancião. — É espantoso ele ter poupado Lárida e ter se aliado a ela.

— Talvez então eles sejam realmente perfeitos servos do deus...como ele o chama mesmo? Rindu? — questionou um jovem guerreiro. — Não creio que tenhamos muitas opções aqui.

— Não temos! — concordou Argner. — A menos que alguém se ache capaz de fazer frente a eles?!

— Se conseguirmos embebedar o chefe, eu acabo com ele.

— De novo essa idéia genial? — indignou-se Argner, único que podia enfrentar Cedrik em combat.

— Caso não tenham percebido — disse uma mulher mais compenetrada e equilibrada — este Menelak e seus guerreiros não bebem até cair. São comedidos e sem desespero por cerveja como você, Cedrik. Nem com todo esforço do mundo vão conseguir embebedar um deles sequer.

— Então acabou nossa posse sobre os escravos? — indagou um ancião.

— Não exatamente! — disse Argner. — Eles são nossos para nos servir. Não para fazermos com eles o que quisermos. E devemos deixá-los livres para decidir seu destino.

— Duvido que um sequer irá decidir partir. Ontem festejaram aqui como se fossem um de nós — disse Viren sem grande indignação.

— Menelak também determinou que possam construir suas próprias casas e trabalhar nisso dois dias por semana — complementou Aylin.

— Não sei onde isso vai dar — uma anciã declarou sua preocupação.

— Só o tempo dirá. Mas quem sabe não conquistemos terras melhores — disse a mulher de Argner colocando as mãos sobre os ombros do marido e sorrindo com ambição. — Terras tomadas da coroa.

— Creio que em breve descobriremos isso e muito mais — Argner disse meio envergonhado.

— Você certamente tem um acordo para se dar bem, não é  mesmo, Argner? — Acusou Cedrik.

— Se quiser manter a língua dentro de sua boca, pare de usá-la como um maldito imbecil — Argner levantou-se de um salto empurrando sua faca contra a bochecha de Cedrik.

— Conselho encerrado, então? — Cedrik indagou indignado porém derrotado. — Não faremos nada e vamos esperar e torcer? Vou embora dessa aldeia condenada — disse e recuou.

Argner o deixou se afastar sem nada mais dizer. Estava aliviado em ver ele e sua burrice completa sumir de sua vista. Ele saiu batendo a porta e sendo seguido pela esposa envergonhada.


















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