Capítulo 8

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- E não teve irmãos? - Essa era uma das suas várias perguntas, eu me sentia em um interrogatório, mas até que não me importava em responder.

- Mamãe tinha alguns problemas para engravidar, por isso já me tiveram um pouco mais velhos - Dou de ombros.

- E ela... - Fico sem entender quando ela desvia o olhar, se mantendo focada nos legumes que cortava.

Após ela fazer questão de me acompanhar em um pequeno tour do lado de fora da casa, entramos quando o sol já estava se pondo, e Camila me chamou para lhe fazer companhia enquanto preparava o jantar.

- Hm, quer saber como ela morreu? - Pergunto ao deduzir seu desconforto.

- Me desculpe, não quero ser inconveniente ou insensível - Volta seu olhar para o meu.

- Devido a alguns problemas, foi recomendado uma cirurgia para a retirada de útero, e durante a mesma houve algumas complicações, fazendo mamãe ter algumas paradas respiratórias e não resistir - Falar sobre isso nunca vai parar de doer, mas devido a quantidade de vezes, me ajuda a aceitar cada vez mais a falta que ela faz. - Mas e seus pais? - Questiono quebrando o silêncio que se fez. - Animados com a ideia de se tornarem avós? - Penso um pouco. - Você tem irmãos? Quantos anos você tem? - As perguntas saiam naturalmente.

- Sim, eles estão animados - Sorrir provavelmente da minha curiosidade repentina. - Estão contando os dias para conhecer a mulher responsável por carregar a criança - Novamente desvia o olhar dos legumes para mim. - Então se prepare para ser paparicada por dois avós babões, já que assim que eles souberem da sua existência, não vão demorar para chegarem aqui - Fico sem jeito, pensando em como tudo isso vai ser durante esses meses. - E não, não tenho irmãos, assim como você - Se vira para colocar uma panela no fogo. - Quanto a minha idade... - Dá de ombros antes de me encarar por cima do ombro. - Quantos anos acha que eu tenho? - Não gosto disso, tenho medo de chutar longe demais e a pessoa não gostar.

- Hm... - Começo a analisar ela melhor, pensando em diminuir qualquer idade que invada minha mente. - Acho que uns... - Penso bem, afinal Camila parece ser uma mulher madura o suficiente para saber tomar qualquer decisão da sua vida, sem contar que é super confiante para isso. - Trinta? - Faço uma pequena careta.

- Trinta e cinco - Na verdade a idade chegou a passar por minha mente, mas não resolvi arriscar muito. 

Ela volta sua atenção para a panela. 

- E já não pode engravidar? - Ela para seus movimentos, nisso me fazendo perceber que fui longe demais. - Desculpe - Peço pressionando os lábios.

- Tudo bem, pode perguntar o que quiser, mas nunca deixando de seguir as cláusulas do contrato - Assinto, anotando mentalmente que preciso ler esse contrato de uma vez por todas, mesmo não fazendo mais sentido, afinal se assinei terei que cumprir tudo o que estiver lá.

- Por que contratar uma barriga de aluguel? - Era a minha primeira pergunta.

- Sempre quis ter filhos - Dá de ombros. - E acho que agora é o momento certo.

- Não é casada? - Apesar do "óbvio", eu gostaria de ter certeza.

- Tive alguns romances durante minha vida, mas nada que durasse muito, e que muito menos incluísse planos como esse - Assinto já me preparando para outra pergunta, ou voltando o foco da primeira.

- Por que escolheu não gerar? - Ela sorrir minimamente.

- Não é uma opção.

- Porque?

- Não tenho o forninho necessário - Sua voz soa divertida.

- Oh - Mesmo sendo uma das minhas hipóteses, não deixo de ficar surpresa com a confirmação. - Mas isso não te deixa triste ou algo do tipo? - Fica sem entender. - Além de não poder gerar, também não terá nenhuma participação, geneticamente falando - Sorrir.

- Mas é claro que eu terei - Após sua fala ela arregala os olhos. - Quer dizer - Força a garganta. - Hm... um primo meu doará os espermas - Sorrir amarelo, me deixando completamente confusa com sua reação levemente nervosa. - Ai meu Deus! - Rapidamente tira a panela do fogo. - Por pouco não queima - Ela estava visivelmente tentando sair do assunto. - O jantar está quase pronto, por que não sobe e toma um banho? - Fala sem me encarar, se certificando que todas as chamas estão apagadas. - Acompanho você - Rapidamente vem até mim, sorrindo contida ao colocar sua mão em meu braço.

- Eu sinto muito se te deixei desconfortável, vou tentar controlar mais minha curiosidade - O silêncio estava me corroendo, e eu não queria esse clima entre nós.

- Sua curiosidade é normal - Sua voz é suave. - Assim como a minha, e eu imagino quantas peças de quebra cabeça estão tentando se juntar na sua mente, a situação é nova para qualquer pessoa que estivesse no seu lugar - Me encara. - Apenas tenho alguns limites que ainda não me sinto pronta para compartilhar com você - Atingimos o andar de cima.

- Tudo bem, eu entendo perfeitamente - Falo por fim, decidindo ficar em total silêncio.

- Sabe que pode me chamar a qualquer momento, certo? - Assinto. - Vou terminar o jantar e trago para você - Informa antes de me deixar sobre a cama. Ela pega a bandeja de mais cedo e caminha para fora do quarto, fechando a porta em seguida.

Suspiro encarando a porta fechada, tenho que ser mais paciente e menos curiosa, afinal acredito que mesmo que seu desejo seja evitar determinados assuntos, com o tempo tudo pode mudar, pois querendo ou não vamos nos tornar pessoas próximas, já que estarei carregando sua criança.

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