Capítulo Cinco

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Lissa e eu estávamos sentadas no refeitório lotado.

- Esse horário vampiro é horrivel - resmunguei, pegando uma maçã e mordendo.

- Com o tempo você se acostuma - Lissa respondeu tranquilamente.

- Oh meu Deus! - uma garota apareceu ao nosso lado gritando.

Ela tinha cabelos cacheados e usava óculos, que a deixavam com uma aparência muito fofa.

- Você é a Rose, não é? Eu nem acredito que estou falando com você! Sua mãe é praticamente uma lenda! Praticamente não, ela é uma lenda! E você viveu esse tempo todo lá fora e não se lembrava mesmo de nada? Como...

- Natalie - Lissa a interrompeu e colocou a mão em seu braço - Vá com calma. Rose, esta é Natalie Dashkov.

Apertei a mão da enérgica Natalie com as sobrancelhas erguidas de surpresa.

- Eu fiquei muito curiosa para conhecê-la. Como é viver lá fora?

Dei de ombros, e então percebi os olhares das duas meninas focados em mim.

- Bem...É legal - me mexi na cadeira - Eu vivia numa cidade muito pequena, mas uma vez fui até Washington. Lá sim era incrível.

- Eu adoraria conhecer o Capitólio - Natalie suspirou sonhadora.

-  E os garotos? - Lissa perguntou.

- Normais. Alguns são bonitos, outros são babacas. O físico era bem parecido com o dos damphirs.

- Você tinha algum namorado?

- Não.

- Sério, Rose? - Lissa piscou maliciosamente.

- Nada sério, eu tinha um amigo chamado Mason. Sinto falta dele.

- Esse Mason era gatinho?

Eu parei e pensei um pouco. Mason era alto e tinha alguns musculos. Tinha cabelos cor de bronze bagunçados e os olhos dele eram verdes. Nada extraordinário, mas ele era bonitinho.

- Ele era bonitinho.

- Bonitinho? - Lissa ergueu uma sobrancelha.

- Ele era meu melhor amigo, eu não era apaixonada por ele.

- Eu não me incomodaria de beijar ele - Natalie suspirou - Quer dizer, eu nunca beijei ninguém. Sou muito tímida e tenho vergonha de tudo...

Lissa e eu nos levantamos e começamos a nos afastar, deixando Natalie tagarelando sozinha.

- Isso da ligação, eu sempre ficava pensando se você estava ali, você podia entrar na minha cabeça, mas eu não. É uma via de mão única.

- Eu não sabia o que significavam essas visões. Achava que eu estava ficando doida igual tia Emily.

Fiz uma careta ao lembrar que Emily não era minha tia de verdade, e sim apenas uma humana que fora compulsada.

Nisso um garoto apareceu no corredor, agarrou Lissa pela cintura e a beijou. Num movimento involuntário eu o agarrei pelo braço e torci, o imobilizando.

- Rose, solte! - Lissa gritou.

- Quem você pensa que é, idiota? - o soltei bruscamente - Você é louco de tentar atacar Lissa na frente da Guardiã dela?

O garoto se endireitou. Eu admito que ele era bonito - tinha olhos azuis gelo e cabelos negros - isso até ele abrir a boca.

- Você não é uma Guardiã - ele falou, com a voz carregada de sarcasmo - É só uma novata.

Antes que eu pudesse responder um educado "Vá a merda", Lissa se adiantou.

- Rose, quero que conheça meu namorado, Christian Ozera. Chris, essa é a Rose.

Ozera era o nome de uma das doze famílias reais. Ele seria um excelente partido para Lissa, no quesito política. Porque no quesito Rose Hathaway havia algo nele que eu não gostava.

- Nós temos que ir para as aulas. Estamos atrasados - Christian falou e então olhou pra mim - Até mais, Rose.

Lissa segurou a mão dele e pediu para que fosse na frente, então se virou para mim.

- Christian perdeu os pais há alguns anos. Eles viraram Strigoi - ela abaixou o tom de voz - Por escolha. Ele sofre muito com isso até hoje. Pegue leve com ele.

- Ele me parece um esquisitão.

- Rose!

- Tudo bem - eu cedi - Você tem aula do que agora? Nossos horários são diferentes.

- Economia doméstica e você?

- Aula particular com o Dim...Guardião Belicov.

Ela anuiu com a cabeça, séria.

- Então é melhor você ir. Não faça nenhuma bobeira, a Diretora Kirova está de olho, e qualquer coisa vai ser motivo para ela ir contra a decisão de você se tornar minha Guardiã.

- Moleza - menti.

Lissa me olhou desconfiada antes de se despedir e ir para a sua aula. Eu sai caminhando em direção ao galpão de treino.

No caminho, passei pelos jardins e me sentei em um banco. Olhei para o céu. Estava limpo, sem nuvens, e as estrelas brilhavam em pontinhos brilhantes. Suspirei e pensei em minha mãe.

Ela não era muito presente e eu me ressentia por isso. Ainda estou magoada, mas começo a entender o que ela fez. Ela quis me proteger.

Mas meu lugar é aqui, esse é o meu mundo. Eu não posso fugir do que eu sou. Do meu destino...

- Rose - uma voz me tirou de meus pensamentos.

Eu pisquei e virei a cabeça para o lado. Dimitri estava parado ao lado do meu banco, o cabelo estava solto, e a brisa fizera com que uma mecha caísse na frente dos olhos. Ele estava com os braços cruzados e uma expressão que eu diria ser zangada.

Merda.

O Toque do Espírito #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora