O Toque do Espírito #Wattys2017

Capítulo Seis

Merda.

Dimitri descruzou os braços e tirou o cabelo do rosto.

- Você está matando aula para ficar aqui sentada?

- Estava pensando - confessei - Sente aqui.

Dimitri ergueu uma sobrancelha e não se mexeu. Eu estiquei meu braço e toquei sua mão, o puxei levemente, até que ele cedeu e se sentou ao meu lado. Voltei a olhar para o céu estrelado e apontei.

- Ali está Castor. Pólux.

- Ursa maior - ele apontou - E Ursa menor.

Eu olhei para ele surpresa. Dimitri deu de ombros.

- Eu também gosto de olhar as estrelas. Me fazem sentir....

- Um pontinho no Universo - completei.

Dimitri olhou nos meus olhos. Eles eram quentes e convidativos, o sorriso dele surgiu lentamente.

- É assim mesmo que eu me sinto.

Percebi que a minha mão ainda estava sob a dele. Dimitri não tinha feito nenhum gesto para afastá-la, e eu não queria.

Desviamos nossos olhares para o céu outra vez.

- Na minha terra há uma história que diz que todas as pessoas quando morrem se tornam estrelas. Elas criam asas e voam para o céu.

- Estrelas com asas? Você quis dizer anjos?

- Não - ele balançou a cabeça - Estrelas.

- E de onde você vem?

- Sibéria. Um vilarejo chamado Baía.

- Sibéria, é? Terra de tundra, neve, ursos polares - provoquei.

Dimitri riu, e eu senti um arrepio descer pela minha espinha.

- Acho que você não conhece a Sibéria. Lá também existe outra lenda que diz que todas as pessoas possuem um milagre que está destinado a alguém - ele se virou na minha direção, e a luz da lua banhou sua fisionomia - E quando essas duas pessoas se encontram, é como se fossem almas gêmeas. Ninguém morre antes de conhecer seu milagre.

- Você acredita nisso? - minha voz era apenas um sussurro.

- Com todas as minhas forças, às vezes tenho a impressão que já o encontrei.

Dimitri voltou a olhar nos meus olhos, e senti sua mão dar um aperto quase imperceptível na minha, como se ele estivesse apenas se mexido um pouco.

Foi naquele instante que eu me apaixonei por Dimitri Belicov.