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CAPÍTULO DEZESSEIS


– Fizemos aquilo cedo demais. Devíamos ter esperado.

– Esperamos o suficiente. Você está brincando? Sabe que eu tinha razão. Era hora de fazer aquilo.

– Era hora, uma ova! Se tivéssemos esperado só mais um pouco, não estaríamos nesta situação.

– Bem, eu não lembro de ouvir você reclamar na hora. Aliás, parecia bem contente, pelo que lembro.
– Eu não podia reclamar, minha boca estava cheia. Mas eu sabia. Sabia que era errado, que o que estávamos fazendo era completamente errado.

– Ok, desisto. Me fala, como posso dar um jeito nisso?

– Bem, pra começar, você está segurando de cabeça pra baixo – falei, pegando o mapa e endireitando-o. Nos encontrávamos parados no acostamento havia cinco minutos e tentávamos descobrir como chegar a Nerja.
Depois de aterrissar em Málaga, passar pela alfândega e pelo sistema de aluguel de carro e finalmente sair do centro da cidade, estávamos perdidos. Como Yibo  era o motorista, eu me encarreguei do mapa. E, com isso, quero dizer que Yibo  pegou o mapa a cada dez ou quinze minutos para analisá-lo, murmurar algo e jogá-lo de volta para mim. Não escutou absolutamente nada que eu disse; em vez disso, confiou em seu mapa interior, aquele inato a todos os alfas. Aham. Também se recusou a ligar o GPS que nos forneceram, determinado a nos levar ao destino da maneira tradicional.

Razão pela qual estávamos perdidos. Pegar um trem teria sido fácil demais. Yibo  precisava de um carro para circular pelos cenários de suas fotos, que eram, afinal, o motivo da viagem. Após voarmos durante toda a noite, ambos nos encontrávamos exaustos, mas, aparentemente, a melhor maneira de combater o jet lag é se adequar ao horário local o quanto antes. Tínhamos combinado não tirar nenhum cochilo até que pudéssemos dormir de verdade naquela noite.
Agora, discutíamos para saber em que curva havíamos errado. Eu estava devorando uns churros comprados na estrada quando fizemos a curva supostamente errada; a partir daí, passamos a brincar de De Quem É a Culpa.

– Só estou dizendo que, se certa pessoa estivesse olhando pra estrada em vez de se empanturrar, não estaríamos…

– Me empanturrando? Sério? Você roubou quase todos os meus  churros. E eu falei pra você comprar seus próprios churros quando encostamos!
– Mas no começo eu não estava com fome! Aí, você começou a estalar os lábios e lamber aquele chocolate, e eu… Bem, eu me distraí.
– Ele tirou os olhos do mapa, agora espalhado no capô do carro, e abriu um sorriso, quebrando a tensão.

– Se distraiu? – sorri de volta e cheguei mais perto dele.

Enquanto Yibo  examinava o mapa, eu examinava Yibo . Como alguém que tinha acabado de ficar um século dentro de um avião podia estar tão maravilhoso? Mas estava: jeans desbotado, camiseta preta, jaqueta azul-escura da North Face. Mandíbula forte suplicando para ser lambida. Quem é que lambe mandíbula? Eu. Eu lambo mandíbula. Ele cruzou os braços, e seus lábios se moveram em silêncio enquanto tentava decifrar o mapa. Me meti entre seus braços e me derramei no capô tão desavergonhadamente quanto uma modelo de calendário de oficina.
– Posso fazer uma sugestão?
– É uma sugestão lasciva?
– Estranhamente, não. Podemos ligar o GPS, por favor? Eu queria muito chegar antes de ter que voltar pra San Francisco – choraminguei.

Como tinha comprado a passagem de última hora, teria de retornar um dia antes de Yibo . Mas… cinco dias na Espanha? Eu não estava reclamando.
– Xiao Zhan , só maricas usam GPS – Yibo  falou, virando o mapa novamente.

– Bem, esta maricas está louca por um jantar, um banho, uma cama e para se ver livre do jet lag. Então, a menos que você queira ver uma versão espanhola de
Aconteceu naquela noite, ligue o GPS, Yibo .
– Peguei-o pela jaqueta e o puxei para mim.

Amor entre as paredes ( pt UmOnde histórias criam vida. Descubra agora