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CAPÍTULO VINTE E UM


Embasbacado, fiquei parado com a boca aberta enquanto Yibo andava pelo apartamento e contemplava as guloseimas. Ele caminhou sobre o açúcar e parou para passar o dedo em uma tigela com resto de chocolate derretido. Suspirei antes de voltar à bancada para encará-lo e, no caminho, removi uma bola de massa de outra tigela.

Como ele sabia? Como descobriu? Virei e amassei a bola – um brioche fofo e pegajoso – e senti meu rosto em chamas. Achava que tinha disfarçado tão bem... Arrisquei uma espiadela enquanto Yibo lambia o chocolate do dedo; seus olhos se tornaram mais apreensivos quando parei de amassar a massa do brioche e passei a esmurrá-la.

Descarreguei na coitada a frustração de uma vida sem O. Ô, dó.
Com o dedo limpo de novo, Yibo enganchou uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. E eu amassando/esmurrando. Estremeci quando ele me tocou; era impossível ignorar a gloriosa imagem de Yibo em cima de mim.

– A gente vai falar sobre isso – ele perguntou calmamente e mergulhou o nariz em meu pescoço. Me inclinei para seu corpo por um breve momento e me recompus em seguida.

– O que tem pra falar? Nem sei do que você está falando. Está delirando por causa do jet lag? – falei brincando, evitando seus olhos e imaginando se podia me livrar daquilo. Talvez eu realmente pudesse convencê-lo de que ele era o doido ali... Porra, como ele sabia?

– Ômega  do Baby-Doll, sem essa. Conversa comigo. – Yibo roçou o nariz em meu pescoço.
– Se vamos fazer isto, precisamos conversar um com o outro.

Conversar? Claro. Eu podia conversar. Talvez ele devesse saber no que estava se metendo; um ômega condenado a vagar pela Terra sem O. Ergui a bola de massa e a arremessei à parede. Ela escorreu e escorregou, pegajosa como aqueles assustadores insetos de geleia com que eu brincava quando criança. Me virei para Yibo – meu rosto ainda vermelho, mas eu já não me importava.

– O que era pra ser aquilo? – ele perguntou calmamente, apontando para a bola de massa.

– Brioche. Era pra ser um brioche – respondi rápido, freneticamente.

– Aposto que teria ficado bem gostoso.
– Dá muito trabalho. Trabalho demais, eu diria.
– Podemos tentar de novo. Eu ficaria feliz em ajudar.

– Você não faz ideia do que está oferecendo. Tem alguma noção do quanto é complicado? Da quantidade de etapas? De quanto tempo pode exigir?
– Quem espera sempre alcança...
– Yibo, você não faz ideia! Eu quero tanto, provavelmente mais do que você.
– Dá pra fazer crouton com isso, não dá?
– O quê? Do que você está falando?!

– Brioche. É tipo um pão, não é? Ei, para de bater a cabeça na bancada!

O granito era frio contra minha pele derrotada e quente, mas bati com menos força quando percebi o princípio de pânico em sua voz.

Ele sabia e ainda estava ali. Na minha cozinha, com aquele casaco azul que deixava  todo seu corpo macio e tépido e sexy e viril e lindo. E então havia eu, coberto de mel e passas, batendo a cabeça na bancada depois de assassinar um brioche.
Assassinando meu brioche. Que ótimo nome para... Xiao Zhan , concentra!

Coração quase saltara do peito quando o vira na porta do apartamento. Xiaozinho não fizera por menos, tremendo involuntariamente. Num primeiro momento, Cérebro havia se desligado em choque e negação, mas agora analisava a situação, inclinado a considerá-lo um candidato válido, dada a distância e o tempo que Yibo atravessara para descobrir a causa do problema. Espinha Dorsal se retesara; sabia instintivamente que uma postura adequada proporcionava uma vitrine mais bonita... E quem podia culpá-la? Já Nervos... tremulavam.

Amor entre as paredes ( pt UmOnde histórias criam vida. Descubra agora