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CAPÍTULO DEZENOVE

Olhando meu reflexo no espelho, tentei me avaliar objetivamente. Quando era menino, especialmente naqueles charmosos primeiros anos da adolescência, eu costumava me enxergar de um jeito muito diferente. Via um cabelo  lambido, uma pele pálida, desinteressante. Via olhos escuros monótonos e joelhos salientes que dividiam pernas magricelas. Via um nariz ligeiramente arrebitado e um lábio inferior no qual iria tropeçar a qualquer momento, se não tivesse cuidado.
Uma tarde – eu tinha quinze anos –, minha avó me disse que a roupa que usava   ficava bem em minha pele. Fiz uma careta e discordei:
– Obrigado , vovó, mas ontem só dormi três horas, e se tem uma coisa que não estou hoje é bonito. Cansado, pálido, não bonito.
Revirei os olhos como  adolescentes fazem, e ela pegou minha mão.
– Sempre aceite um elogio, Xiao Zhan. Aceite pela intenção de quem o faz. Vocês ômegas sempre distorcem o que os outros dizem. Apenas agradeça e siga em frente. – Ela sorriu do seu jeito sereno e sábio.
– Obrigado. – Sorri também e retornei ao molho de macarrão, virando o rosto para que ela não me visse corar.
– Me parte o coração ver como essas meninas novinhas se criticam, nunca se acham boas o bastante. Nunca se esqueça: você é exatamente como deveria ser. Exatamente. E quem disser o contrário, bem, é um panaca. – Ela soltou uma risadinha; tinha baixado a voz naquela última palavra, o mais próximo que minha avó chegaria de um palavrão. Tinha uma lista de xingamentos, e xingamentos muito pesados, e panaca se achava quase no topo.
No dia seguinte, na escola, comentei com uma colega que seu cabelo estava lindo, e a resposta dela foi passar a mão por ele com carinha de nojo.
– Você está zoando? Mal tive tempo de lavá-lo.
Vovó tinha razão.  Ômegas realmente não aceitavam um elogio. Bem, não vou mentir e dizer que, a partir de então, nunca mais tive um dia de cabelo feio ou nunca mais escolhi a roupa errada. Mas fiz, sim, um esforço consciente para ver o bonito antes do feio e me enxergar de uma maneira mais clara.
Objetivamente.
Complacentemente. E, conforme meu corpo continuou mudando, me tornei mais consciente das características que eu podia ver positivamente em vez de negativamente. Nunca me considerei deslumbrante, mas dava para o gasto.
Agora, enquanto me olhava no espelho do banheiro, sabendo que Yibo estava à minha espera, fiz um pequeno inventário.
Cabelo  lambido? Nada de lambido. Brilhante. A pele pálida? Bronzeada e, me atrevo a dizer, um pouquinho brilhante? Pisquei para mim mesmo e segurei uma risadinha maníaca. Minha boca tinha aquele lábio inferior ligeiramente carnudo, cheio o bastante para prender Yibo e não deixá-lo fugir. E as pernas que transbordavam da renda que mal cobria minhas coxas? Não tão magrelas. Para falar a verdade, acho que iam ficar ótimas em volta de Yibo…
Assim, ajeitei meu cabelo mais uma vez e fiz meu checklist mental; estava excitado com os rumos da noite. Havíamos voltado correndo para casa, praticamente nos despido na entrada, e, agora, depois de pedir um tempinho para mim, eu estava pronto para sair e exigir meu Yibo. Afinal, quem eu queria enganar? Desejava esse homem. Queria-o para mim e não o dividiria com ninguém.
Pela primeira vez, Cérebro concordava com Xiaozinho. Especialmente depois que ele escalou Espinha Dorsal e deu uma voadora em Cérebro para mostrar de uma forma sutil que precisávamos daquilo. Merecíamos aquilo. E estávamos prontos. Quanto a Nervos? Bem, continuavam dando voltas em meu estômago, mas isso era de se esperar, certo? Quero dizer, fazia muito, muito tempo; um pouquinho de nervoso era normal. Será que eu estivera enrolando a semana toda? Talvez.
Mais ou menos. Um pouco.
Yibo tinha sido mais do que paciente, disposto a ir devagar, no meu ritmo, mas, pelo amor de Deus, o cara não era de ferro.
Eu estava determinado a não permitir que Nervos transformassem outra noite espanhola em uma sessão de abraços e arrulhos. Olhei para o espelho e tentei me enxergar como Yibo me enxergaria. Sorri de um jeito que eu achava ser sedutor, apaguei a luz, respirei fundo mais uma vez e abri a porta.
O quarto havia sido transfigurado em algo saído de um conto de fadas. Velas tremeluziam na cômoda e nos criados-mudos, banhando o lugar com uma luz aveludada. As janelas se encontravam abertas, assim como a porta da pequena varanda com vista para o mar, e escutei o bater das ondas, estilo romance de banca. E lá estava ele: cabelo despenteado, corpo atlético, olhos fogosos.
Yibo me examinou, seu olhar me percorrendo de alto a baixo, e um sorriso se espalhou pelo seu rosto em aprovação à minha escolha de roupa.
– Hum, aí está meu Ômega do Baby-Doll – murmurou e esticou o braço. Tentei enrolar por mais um segundo, porém Espinha Dorsal agarrou minha mão e a entregou a ele.
Poucos centímetros nos separavam no quarto escuro, conectados por nossos dedos entrelaçados. Senti a aspereza de seu indicador conforme ele traçava círculos na palma da minha mão, os mesmos círculos que traçara muitas semanas antes, quando seu feitiço começara a agir sobre mim. Nossos olhos se achavam repletos um do outro. Yibo respirou fundo.
– É um crime o quanto você fica lindo assim – ele disse. Então, me puxou e me fez rodopiar para ver melhor o baby-doll cor-de-rosa. Quando girei, a borda rendada se levantou um pouquinho, mostrando os babados. Um ruído grave ressoou em sua garganta, e, se não estou enganado, foi um rugido. Droga…
Ele me puxou para perto, agarrou meus quadris e me pressionou contra seu corpo, meu peito de encontro a seu peito. Depositou um beijo sob minha orelha, me deixando sentir apenas a pontinha de sua língua.
– Então, tem algumas coisinhas que preciso que você entenda – Yibo murmurou e me afagou com o nariz. Suas mãos acariciaram meus babados e se fecharam de surpresa em minha bunda. Engoli em seco. – Está ouvindo? Não quero você distraído – ele murmurou de novo, pincelando com a língua a lateral do meu pescoço.
– É meio difícil me concentrar com a sua distração cutucando minha coxa – gemi e deixei que ele me curvasse para trás o suficiente para que a parte de baixo de meu corpo ficasse pressionado contra ele, suas partes duras se moldando perfeitamente às minhas partes macias. Yibo riu lascivamente contra meu pescoço e deu diversos selinhos em minha clavícula.
– Eis o que você precisa saber. Primeiro, você é fantástico. – Suas mãos agora viajavam em direção à minha região lombar, os dedos massageando e manipulando. – Segundo, você é fantasticamente sexy.
Minhas mãos desabotoaram apressadamente sua camisa e a empurraram para trás de seus ombros, fazendo que nosso ritmo passasse de vagaroso e calmo para rápido e frenético. Já as suas mãos se esgueiraram pelo meu pênis, e suas unhas arranharam levemente minha barriga e levantaram o baby-doll para que ficássemos pele com pele, nada entre nós. Passei a mão por suas costas, e minhas unhas, mais agressivas, se enterraram e o ancoraram em mim.
– Terceiro, apesar deste baby-doll cor-de-rosa ser incrivelmente sexy, a única coisa que quero ver pelo resto desta noite é meu Doce Xiao Zhan. Eu preciso te ver. – Yibo arquejou em meu ouvido e me ergueu, e minha perna direita automaticamente se enroscou em sua cintura.
Uma vez mais, a Lei Universal do Trepador de Paredes ditara que pernas rodeassem sua cintura.
Ele me ergueu novamente e me colocou gentilmente no colchão. Inclinando-se, me deitou sobre meus cotovelos. Com a camisa pendendo dos ombros, piscou um olho e acenou para seu estado de seminudez. Me estiquei, enfiei um dedo por trás do botão de sua calça e o abri – sem sinal de cueca. Puxei o zíper um centímetro para baixo, expondo o caminho da felicidade que conduzia para baixo, para o lugar onde todas as coisas boas viviam. Sem cueca.
– Você tem alguma coisa contra roupa íntima? – sussurrei, erguendo um joelho e prendendo-o entre minhas coxas.
– Tenho tudo contra a sua roupa íntima. Não é um absurdo que ela continue aí? – Yibo empurrou o quadril para frente, fazendo que eu sentisse tudo.
Deixei minha cabeça cair para trás, desarmando Nervos, que ameaçavam dar as caras. Caiam fora, Nervos! Isso vai acontecer.
– Absurdo nenhum. Tenho o pressentimento de que ela não vai ficar onde está por muito tempo – murmurei e me deitei na cama para esticar os braços sobre minha cabeça e estirar meu corpo ao longo do seu, encorajando seus lábios a dançarem mais um pouco em meu busto. Senti-o lamber e sugar minha pele. Arqueei meu corpo em sua direção, ansioso por mais. Eu necessitava de mais. Yibo começou a afastar as alças do meu baby-doll, me descobrindo e se permitindo o acesso que precisava para me fazer entrar em órbita.
Sentir sua boca em mim, em meu peito e mamilos, quente e molhada, divertida e descuidada. Era irreal. E falei isso a ele.
– Isto é irreal – gemi sobre o topo de sua cabeça conforme sua pele arranhava minha pele deliciosamente. Seus lábios se fecharam em meu mamilo direito, e meus quadris iniciaram um movimento próprio, insinuando-se loucamente sob ele; minhas pernas agora se achavam firmemente envoltas em sua cintura. Lábios e língua e dentes se demoravam em meu busto enquanto Yibo se alternava entre os mamilos, acariciando-os e beijando-os igualmente. Eu estava rodeado por Yibo, e até mesmo seu cheiro – partes iguais de temperos apimentados e conhaque espanhol – me excitava.
Palavras desconexas escapavam de minha boca. Tive consciência de alguns “Yibo” e de um ou dois “Nossa, que delícia”, mas, de resto, me ouvi dizendo coisas como “Hum” e “Oh” e um altíssimo “Aaaaaaaiiiaaaiiiiuuuu”, para o qual, sinceramente, não existe grafia correta.
Yibo ofegava em minha pele, e seu hálito também me deixava louco cada vez que me cobria. Minhas mãos tinham ficado livres para percorrer o país das maravilhas que era seu cabelo, e, quando afastei uma mecha de seu rosto, fui recompensada com a incrível visão de sua boca em mim, seus olhos fechados em clara adoração. Ele me mordeu suavemente, cerrando os dentes em minha pele febril, e minhas mãos quase arrancaram seu cabelo. Foi fenomenal.
Com uma mão, Yibo acariciava de cima a baixo minha perna, me incitando a apertá-lo cada vez mais entre minhas coxas, seus dedos prodigiosos começando a se aproximar da borda da renda. Era a última fronteira: a fronteira rendada.
Senti minha respiração parar quando ele fez o último avanço; seus dedos roçaram a costura do shortinho. Também a respiração de Yibo se tornou lenta, e, sem parar de me tocar, seu rosto ficou de frente para o meu, e tivemos esse momento, esse momento calmo, em que apenas nos… encaramos. Espanto – só assim consigo descrever a sensação de suas mãos me tateando, delicadamente, reverencialmente. Nossos olhares se travaram um no outro quando sua mão se livrou e adentrou a renda e, com uma precisão dolorosamente perfeita, me tocou profundamente.
Meus olhos se fecharam, meu corpo inteiro inundado de infinitas sensações. Minha respiração voltou a se acelerar, e a pressão intensa que antes circulava ao redor e dentro e fora agora era como um “hum” baixo e constante, logo abaixo da superfície da minha pele. Me movi com ele conforme seus dedos me exploravam e deixei escapar o menor dos gemidos. As sensações eram tão intensas, e a energia – meu Deus, o que era a energia que nos cercava?
Yibo não podia ter consciência de toda a emoção que rolava atrás de minhas pálpebras fechadas. O coitado só estava matando a curiosidade – finalmente. E, à medida que seus dedos se tornaram mais hábeis e confiantes, algo incrível começou a acontecer. Aqueles ínfimos feixes de nervos que se achavam adormecidos havia séculos principiaram a despertar para a vida. Meus olhos se arregalaram quando um calor muito específico, brotado no âmago, passou a circular por mim.
Yibo com certeza estava gostando daquilo. Seus olhos turvos transbordavam desejo enquanto eu me contorcia sob ele. Eu me contraía e me libertava ao seu toque.
– Nossa, Xiao Zhan, você é tão… você é lindo – murmurou, seus olhos contendo algo mais do que desejo agora, e senti frêmitos atrás de meus globos oculares.

Amor entre as paredes ( pt UmOnde histórias criam vida. Descubra agora