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CAPÍTULO QUATRO
As noites seguintes foram abençoadamente calmas. Nada de batidas, nada de palmadas, nada de miados, nada de risadas. É verdade que Clive se sentia um tanto abandonado de vez em quando, mas tudo o mais ia muito bem no apartamento. Conheci alguns dos vizinhos, incluindo Euan e Antonio, que viviam no andar de baixo. Não vira nem ouvira Yibo desde o Risadinha e, embora estivesse grato pelas noites de sono perfeito, também estava curioso sobre o motivo de seu desaparecimento. Euan e Antonio ficaram encantados em me atualizar.
– Gato, espere até ver nosso querido Yibo. Que espécie de alfa! – exclamou Euan. Antonio tinha me pegado no corredor, a caminho de casa, e em segundos um coquetel surgira em minha mão.
– Sim! Ele é sofisticado! Ah, se eu fosse uns aninhos mais jovem – Antonio cantarolou, abanando-se enquanto Euan o fuzilava com os olhos por cima de seu Bloody Mary.
– Se você fosse uns anos mais jovem, o quê? Por favor. Aquele alfa nunca foi para o seu bico. Ele é um filé… e você e eu não passamos de salsichas.
– Fale por você – riu Antonio, chupando sugestivamente o talo de seu aipo.
– Cavalheiros, por favor. Falem-me desse cara. Admito que, depois do show que ele deu durante a semana, estou um pouco intrigado a respeito do homem por trás das batidas na parede.
Ao perceber que eles não iriam retribuir se eu não abrisse o bico, contei sobre as travessuras que Yibo fazia de madrugada.
Os dois se agarraram a cada palavra como sanguessugas. Falei das sucessivas pessoas com quem ele tinha ficado e Euan e Antonio deduziram o resto.
Yibo era um fotógrafo freelancer que viajava pelo mundo. Ambos supuseram que ele estava fora a trabalho no momento, o que explicava a qualidade do meu sono. Yibo trabalhara em projetos do Discovery Channel, da Sociedade Costeau e da NationalGeographic – só coisa grande. O meu vizinho já tinha ganhado prêmios por suas fotos e, anos antes, tinha até mesmo passado um tempo cobrindo a Guerra do Iraque. Sempre deixava o carro quando viajava: um velho e desconjuntado Land Rover do gênero encontrável em uma savana africana.
A partir do que Euan e Antonio me contaram – o carro, o trabalho – e do fórum internacional de orgasmos do outro lado da parede, comecei a montar o perfil desse homem, que ainda não tinha visto. E estaria mentindo se dissesse que não ficava mais curioso a cada dia.
No fim de uma tarde, depois de deixar algumas amostras nos Nicholson, decidi voltar a pé para casa. A neblina tinha se dissipado, desvendando a cidade e oferecendo um belo começo de noite para um passeio. Enquanto contornava a esquina rumo a meu apartamento, notei que o Land Rover não ocupava seu posto habitual, atrás do prédio. O que significava que ele andava por aí.
Yibo estava de volta a San Francisco.
Embora tivesse me preparado para outra rodada de trepada pelas paredes, os dias seguintes transcorreram sem grandes acontecimentos. Eu trabalhei, caminhei, cuidei de Clive. Saí com minhas amigas, fiz um maravilhoso pão de abobrinha na minha já bem disciplinada Kitchen Aid e passei algum tempo pesquisando sobre minhas férias.
Todo ano, eu saía de férias completamente sozinho por uma semana. Sempre para um destino excitante, e nunca fui duas vezes para o mesmo lugar. Houve um ano em que passei uma semana caminhando em Yosemite. Em outro, pratiquei esportes radicais num acampamento de ecoturismo, nas florestas tropicais da Costa Rica. Em outro, foram sete dias de mergulho na costa de Belize. E neste ano… eu não sabia para onde iria. A Europa estava se tornando financeiramente impossível no atual estado da economia, então a descartei. Considerava o Peru, já que sempre quis conhecer Machu Picchu. Claro que ainda tinha muito tempo, mas, geralmente, metade da diversão era decidir onde eu queria passar as férias.
Também consumi bastante tempo no olho mágico. Sim, confesso. Sempre que ouvia uma porta se fechar, corria para bisbilhotar.
Clive me olhava com um sorrisinho. Ele sabia exatamente o que eu pretendia. Por que estava me julgando, no entanto, jamais saberei, já que suas orelhas se empinavam sempre que ele ouvia ruídos vindos da escada. Ainda sofria por sua Purina.
Eu ainda não tinha visto Yibo de verdade. Uma vez, cheguei ao olho mágico só para vê-lo entrando em seu apartamento, mas tudo o que peguei foram uma camiseta preta e um despenteado cabelo escuro. Podia ser loiro-escuro – era difícil dizer sob a luz fraca do corredor. Precisava de uma iluminação melhor para uma investigação melhor.
Outro dia, voltando do trabalho, vi o Land Rover se afastar do meio-fio enquanto eu virava a esquina. Ia passar pertinho de mim! Aí, precisamente quando eu estava prestes a vê-lo pela primeira vez, a enxergar  o homem por trás do mito, tropecei e caí de bunda na calçada. Felizmente, Euan me viu, me socorreu – assim como ao meu ego ferido e ao meu traseiro dolorido –, me levou para dentro e me serviu uma dose de uísque.
Tudo continuou sossegado naquela noite. Eu sabia que Yibo estava em casa, pois o ouvia ocasionalmente: uma cadeira sendo arrastada, um ou dois risos tranquilos. Mas nada de harém e, portanto, nada de batidas na parede.
De fato, nós dormimos juntos na maioria das noites. Ele punha Glenn Miller e Duke Ellington do seu lado da parede, e eu escutava descaradamente. Meu avô costumava tocar seus velhos discos à noitinha, e os estalidos e rangidos da agulha no vinil soavam reconfortantes conforme eu adormecia, com Clive aninhado a mim. Concedo isto a Yibo: ele tinha bom gosto musical.
Essa tranquilidade era boa demais para perdurar, entretanto, e o mundo voltou a desabar algumas noites depois.
Primeiro, fui submetido a uma nova sessão do Castigado. Ele tinha sido um menino mau outra vez e seguramente mereceu a retumbante punição que recebeu – palmadas que duraram no mínimo meia hora e que terminaram com exclamações de “Isso! Aí mesmo! Meu Deus, é aí mesmo!” antes que a parede começasse a tremer de fato. Não dormi naquela noite; apenas fiquei deitado, revirando os olhos e ficando cada vez mais frustrado.
Na manhã seguinte, do meu posto no olho mágico, peguei Castigado partindo e consegui dar uma boa olhada nele pela primeira vez. De rosto rosado e brilhante, era um garoto corpulento, com quadris e coxas cheios de curvas e uma bunda realmente avantajada. Era baixo – baixo mesmo – e rechonchudinho; precisou ficar na ponta do pé para o beijo de despedida em Yibo, e eu deixei de vê-lo porque o fiquei observando. Me espantou seu gosto para encontros. Castigado era exatamente o oposto do que eu tinha visto de Purina, que parecia uma modelo.
Prevendo que Purina não demoraria a bater o ponto, na noite seguinte, dei a Clive uma meia repleta de erva-de-gato e uma tigela cheia de atum. Minha esperança era que ele ficasse entorpecido e com sono antes de a ação rolar. Mas os presentes tiveram o efeito contrário. Meu garoto estava pronto para a farra quando os primeiros acordes de Purina soaram através da parede, por volta de uma e quinze da madrugada.
Se Clive pudesse usar um smoking, o teria feito.
Antes, com um ar blasé, ele inspecionou o quarto e, principalmente, a área em frente à parede. Quando Purina iniciou os miados, porém, não conseguiu se conter: saltou de novo contra a parede. Pulou do criado-mudo para o armário e deste para as prateleiras, escalando travesseiros e até um abajur – tudo para chegar mais perto de sua amada. Quando percebeu que nunca conseguiria atravessar o estuque, entoou uma serenata numa grotesca versão felina de Barry White, seus miados competindo com os dela em intensidade.
Quando a parede começou a tremer – e Yibo estava quase lá –, fiquei admirado com o fato de os dois conseguirem manter o foco e o controle mesmo com aquele estardalhaço. Afinal, se eu podia ouvi-los, eles também deveriam ser capazes de ouvir Clive e seu pandemônio. Mas, pensando bem, se eu estivesse sendo empalado pelo Pau Maravilhoso do Trepador de Paredes, provavelmente conseguiria compartimentar as ações…
No entanto, neste momento, eu não estava sendo empalado por coisa alguma, e sim ficando irritado. Me sentia cansado, com tesão e sem nenhum alívio à vista.
Na manhã seguinte após essa noite de sono abreviada, me arrastei até o olho mágico para mais uma sessão de Vigia do Harém. Fui recompensado com um vislumbre do perfil de Yibo quando ele se inclinou para o beijo de despedida em Purina. Foi rápido, mas o suficiente para ver seu maxilar: forte, definido. Um ótimo maxilar. A melhor coisa daquele dia foi a visão do maxilar. O resto foi uma merda.
Primeiro, houve um problema com o empreiteiro da casa dos Nicholson. Aparentemente, ele não apenas tirava intervalos de almoço exagerados, como fumava baseado no sótão todo santo dia. O terceiro andar do imóvel cheirava a um show do Grateful Dead.
Depois, uma remessa inteira de azulejo para o piso do banheiro chegou rachada e lascada. O tempo necessário para encomendar e enviar tudo de novo atrasaria o projeto em, no mínimo, duas semanas, arruinando qualquer chance de entregá-lo no prazo. Em qualquer construção maior, o prazo não passa de uma estimativa. No entanto, eu nunca havia perdido um deadline e, sendo aquele um projeto importante, fiquei enlouquecido (não no bom sentido) ao constatar que não existia nada que pudesse fazer para acelerar as coisas – exceto pegar um avião para a Itália e trazer os malditos azulejos eu mesmo.
Depois de um almoço rápido, durante o qual engasguei, cuspi refrigerante no chão e passei vergonha, parei em uma loja a caminho do trabalho para olhar uma nova bota de caminhada. Planejava fazer trilha na Marin Headlands, no próximo fim de semana.
Enquanto examinava alguns modelos, senti uma fungada quente na orelha que me fez estremecer instintivamente.
– Ei, você – ouvi e me petrifiquei de terror. Lembranças me assolaram, e eu vi manchas. Senti frio e calor ao mesmo tempo, e a experiência mais pavorosa, mais terrível da minha vida desfilou diante dos meus olhos. Virei e dei de cara com…
He Peng, aquela metralhadora desgraçada que roubou meus Os.

– Uau, uma beleza na redondeza. Xiao Zhan! – ele cantarolou, recrutando seu Tom Jones interior.
Engoli a bílis e lutei para manter a compostura.
– Peng, que bom te ver. Como você está? – balbuciei.
– Não posso reclamar. Fiscalizando restaurantes pro meu velho. E você? Como vai o negócio da decoração?
– Negócio do design, e vai bem. Aliás, eu estava mesmo voltando para o trabalho, então, se você me dá licença – gaguejei, começando a passar por ele.
– Ei, calminha, lindo. Já almoçou? Posso conseguir um desconto para você numa pizzaria pertinho daqui. O que acha de cinco por cento? – ele disse. Até a voz dele era escrota.
– Puxa, cinco por cento! Por mais que soe muito tentador, vou recusar – ironizei.
– Então, Zhan, quando posso te ver de novo? Aquela noite… caramba! Foi demais, não foi? – Peng piscou um olho, e eu surtei.
– Não. Não, Peng. Mil vezes, não! – exclamei, a bílis subindo outra vez. Lampejos de dentro e fora, dentro e fora, dentro e fora. Meu Xiaozinho guinchou em legítima defesa. Nós dois não estávamos muito bem, é verdade, mas eu sabia o pavor que ele sentia da metralhadora. Só por cima do meu cadáver.
– Ah, bonito, que é isso! Vamos fazer a magia acontecer – Peng arrulhou.
Ele se inclinou em minha direção, e pude perceber que tinha comido salsicha recentemente.
– He Peng, só pra você saber, estou prestes a vomitar no seu sapato. Por isso, se eu fosse você, daria uns passinhos pra trás. – Ele ficou branco e recuou. – E, só para constar: eu prefiro pregar minha cabeça na parede a fazer a magia acontecer com você outra vez. Você, eu e cinco por cento de desconto? Acho que não. Tchauzinho! – falei através dos dentes cerrados e saí da loja, indignado.

Marchei de volta ao trabalho, irado e sozinho. Nada de azulejos italianos, nada de bota de caminhada, nada de alfa, nada de O.
          ***
Passei a noite no sofá, em pânico. Não atendi ao telefone. Não fiz jantar. Engoli restos de comida tailandesa direto da embalagem e rosnei para Clive, que tentou roubar um camarão. Ele disparou para debaixo de uma cadeira e ficou me olhando.
Assisti a Barefoot Contessa, o que geralmente me animava. Ela fez sopa de cebola francesa e almoçou na praia com o marido, Jeffrey. Normalmente, ver os dois juntos me deixava todo tranquilo e sonhador. Eles eram tão fofinhos.
Nessa noite, me deram náusea. Eu queria estar sentado em uma praia do East Hampton, enrolado num cobertor e tomando sopa com Jeffrey. Bem, não aquele Jeffrey, mas um equivalente. O meu Jeffrey.
Porra de Jeffrey. Porra de Barefoot Contessa. Porra de almoço na praia.
Quando já era tarde o bastante para ser justificável ir para a cama e deixar para trás aquele dia horrível, arrastei minha tristeza até o quarto. Fui pegar o pijama e notei que não havia lavado nenhuma roupa suja. Droga. Revolvi a gaveta de pijamas à procura de alguma coisa, qualquer coisa. Tinha várias peças bem sexy, do tempo em que O e eu estávamos em sintonia. Eu era um ômega masculino mas amava lingerie e tinha as mais belas. Porém hoje só queria um pijama.
Resmunguei e me irritei e finalmente retirei um baby-doll cor-de-rosa. Era pregueado e fofinho, e, embora eu adorasse usar lindas lingeries para dormir antes, agora odiava. Era um lembrete concreto do meu O desaparecido. Certo, já tinha se passado um tempo desde que eu tentara fazer contato. Quem sabe esta noite? Sem dúvida, eu estava tenso; um alívio viria muito a calhar.
Enxotei Clive e fechei a porta. Ninguém precisava ver aquilo.
Pus INXS para tocar, pois precisava de toda a ajuda possível. Michael Hutchence, o vocalista, sempre me fazia chegar quase lá. Subi na cama, arrumei os travesseiros atrás de mim e me enfiei sob os lençóis. Minhas pernas nuas deslizaram pelo algodão fresco. Não há nada como a sensação de pernas  em lençóis de seiscentos fios. Talvez aquela fosse mesmo uma boa ideia. Fechei os olhos e tentei acalmar a respiração. Nas últimas – e poucas – vezes que tentara encontrar O, eu ficara tão completamente frustrado, que, no fim, me encontrava quase em prantos.
Nessa noite, iniciei com um apanhado das fantasias de sempre. Primeiro, um pouco de Catalano; deixei minhas mãos escorregarem sob a barra da camisa e subirem até os meus mamilos. Enquanto pensava em Jordan Catalano/Jared Leto beijando Angela Chase/Claire Danes no porão da escola, me imaginei no lugar dela. Senti o beijo dele, denso e pesado, em meus lábios, e, depois, seus dedos deslizaram sobre minha pele, em direção a meus mamilos. Quando suas/minhas mãos começaram a acariciá-los, experimentei o habitual frêmito no ventre, e o calor se espalhou por todo o corpo.

Com os olhos ainda fechados, a imagem mental mudou para Jason Bourne/ Matt Damon atacando minha pele. Ambos fugíamos do governo, e somente nossa química física nos mantinha vivos. Os meus/seus dedos percorreram levemente a minha barriga e escorregaram para dentro do short. Senti que aquilo estava dando resultado. Alguma coisa lá dentro despertava, se remexia. Arfei ao perceber o quanto estava pronto para Jason, e para Jordan.
Céus. O pensamento dos dois trabalhando juntos para trazer O de volta me fez estremecer, literalmente. Gemi e me preparei para o melhor.
Clooney. Visões de Clooney surgiram enquanto meus dedos brincavam, circulavam, provocavam e serpenteavam. Danny Ocean… George, de Vivendo e aprendendo.
Então, fui com tudo.
Dr. Ross. Terceira temporada de Plantão médico, depois do penteado tipo César ter  sido retificado. Hummmmmm… Gemi e suspirei. Estava dando certo. Eu estava ficando excitado de verdade. Pela primeira vez em meses, o meu cérebro e o restante do meu corpo pareciam estar em sintonia. Rolei de lado, a mão entre as pernas, quando vi o dr. Ross se ajoelhar diante de mim. Ele lambeu os lábios e me perguntou quando tinha sido a última vez que alguém me fizera gritar.
Você nem imagina. Me faça gritar, dr. Ross.
Detrás de olhos bem apertados, eu o vi se inclinar para mim, sua boca cada vez mais próxima. Empurrou meus joelhos gentilmente, beijando o interior de cada coxa. Eu podia sentir sua respiração em minhas pernas, e isso me fez estremecer.
A boca do dr. Ross se abriu, e aquela língua perfeita de Clooney surgiu para sentir meu gosto.

Tum.
– Ai, meu Deus.
Tum, tum.
– Ai, meu Deus!

Não, não. Não!

– Yibo… Hummmm… Hi-hi.
Eu não podia acreditar. Até o dr. Ross parecia confuso.
– Está… hi-hi… bom… hi-hi… demais! Há-há-há-há!

Suspirei ao sentir dr. Ross me deixando. Eu estava molhado,duro e  estava frustrado, e agora Clooney achava que alguém estava rindo dele. Começou a se afastar…
Não, não me deixe, dr. Ross. Você não!
– Isso! Isso! Oh… Oh… Há-há-há-há!
A parede passou a tremer, e as batidas da cama começaram.
Já chega. Ria disto, seu babaca!
Eu me levantei, e Catalano e Bourne e o adorado dr. Ross se esvaíram em nuvens de fumaça carregadas de testosterona. Abri a porta e irrompi do quarto, possuído. Clive ergueu uma pata e estava prestes a me repreender por tê-lo colocado para fora, mas, quando viu minha cara, sabiamente me deixou passar.
Marchei até a porta de entrada, meus pés esmurrando o assoalho de madeira. Estava mais do que furioso. Estava lívido. Tinha chegado tão perto. Escancarei a porta da frente com a ira de um orgasmo interrompido. Comecei a martelar a porta dele. Martelei e martelei, como Clooney estivera prestes a fazer. Bati de novo e de novo, sem esmorecer, sem trégua. Ouvi passos rumo à porta, mas não parei. A frustração do dia e da semana e dos meses sem O rompeu em uma invectiva jamais vista.
Ouvi trancas sendo abertas e fechos sendo removidos – e continuei com as pancadas. Comecei a gritar:
– Abre a porta, desgraçado, ou eu derrubo a parede!
– Calma. Pare de bater – ouvi Yibo dizer.
Então, a porta se abriu, e eu vi. Lá estava ele. Yibo.
Emoldurado por uma luz suave que vinha de trás, Yibo segurava a porta com uma mão e um lençol branco em volta da cintura com a outra. Olhei-o de alto a baixo, minha mão ainda suspensa, cerrada em um punho. Ela pulsava das batidas.
Ele tinha o cabelo castanho, todo em pé, provavelmente por causa das mãos do Risadinha enterradas nele enquanto Yibo o comia. Os olhos eram de um âmbar  cortante, e as maçãs do rosto, tão fortes quanto o maxilar. Para completar o pacote? Lábios convidativos .
Jesus. Como eu perdi isso de manhã? Contemplei seu corpo longo, esbelto. Era bronzeado, mas não de um bronze falso – um bronzeado da vida, do tempo, um bronzeado viril. Seu peito subia e descia conforme ele arfava, a pele coberta de uma fina e sexy película de suor. À medida que meus olhos desceram mais, divisei pequenos gominhos em seu torso, o que me levou ainda mais para baixo. Para baixo dos abdominais definidos. Para baixo daquele V que alguns homens têm e que nele não era esquisito nem do tipo AB Toner.
Yibo era deslumbrante. Claro que era. Precisava disso  tudo?
Arquejei sem querer quando meus olhos chegaram mais baixo do que eu pretendia. Eles eram arrastados como que por um ímã: mais e mais para baixo. Para baixo do lençol – que, por sua vez, já se achava mais baixo em sua cintura do que deveria ser legalmente permitido…
Ele.
Ainda.
Estava.
Duro.

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Amor entre as paredes ( pt UmOnde histórias criam vida. Descubra agora