Uᴍ Cʜᴏʀᴏ Sɪʟᴇɴᴄɪᴀᴅᴏ

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O casarão Hill era preenchido de um frio e estranho silêncio.

05 de Março.

Há quase um ano uma de suas irmãs se casou, claro que, estavam sufocadas e queriam ir embora.

Enquanto Beatrice, Edith e Margareth preferiram se casar com homens de poder que já conheciam, as outras três irmãs mais novas estavam sob cuidados de um convento no interior.

Este era o motivo da casa estar tão silenciosa, a única coisa que se ouvia era o tilintar dos talheres.

Há mesa do café da manhã havia apenas Rosetta, e Jude, que nem dirigia um olhar a filha do meio, era uma vergonha aos seus olhos frios.

Charmosas e elegantes eram chamadas as outras filhas do senhor Hill, enquanto Rosetta era um pouco desastrada, até desengonçada.

Mas ainda adorável, com certeza, mesmo que ela não tivesse a graça das irmãs em suas reverências.

Ela era a cópia da mãe, olhos azuis que pareciam constelações, pele branca, e os mesmos longos cabelos ondulados e loiros queimados. Certo, seu rosto era um pouco mais rechonchudo, e tinhas bochechas um pouco mais gordinhas.

— Rosetta! - Seu pai disse alto quando o talher dela bateu na louça do prato que fez soar um som levemente estridente.

— Desculpe, pai. - Sussurrou olhando para baixo enquanto soltava a colher ao lado do prato e rosa pintou suas bochechas. — Eu acho...

— Não, não há tempo para distrações, suas desculpas já encheram meus limites. - O homem disse se levantando e usando o guardanapo de tecido e o apertou entre os dedos quase ossudos. — Trate de seguir o exemplo de Beatrice, ou então não irei poupar esforços com correções bem merecidas.

Sua voz era mais cortante que fio de navalha. - pensou a jovem ao se encolher na mesa, nitidamente magoada com as palavras do pai que agora saiu da ala do café da manhã e a deixou sozinha.

— Beatrice, Beatrice... - Resmungou baixo com a voz ferida. — Sempre Beatrice e suas irmãs perfeitas.

Suas mãos apertaram o tecido do vestido até os nós de seus dedos ficarem pálidos e lágrimas surgiram quase imediatamente nos olhos azulados.

Cansada e ferida, Rosetta empurrou a cadeira para trás e saiu da mesa, abandonando o café da manhã pela metade e em passos trêmulos foi a segurança de seu quarto.

Os olhos da jovem Hill chegou ao cômodo e fechou a porta seus olhos ficaram fixos no quadro de sua mãe.

— Se a senhora estivesse aqui... - Tirando os saltos ela foi até ele e se sentou aos pés da pintura. — Se você ainda estivesse aqui, mamãe, as coisas não teriam acontecido assim.

Ela fungou uma, duas, três vezes e então desabou, fazendo de tudo para abafar seu choro aos pés da pintura de Lílian.

Pelos próximos minutos seus olhos ficaram vermelhos de tanto chorar, antes dela se virar e finalmente levantar.

Encima de sua penteadeira, ela pegou um livro de couro e o abraçou, estava em branco e a Hill não tinha coragem de escrever nada desde a morte dela.

— Eu gostaria de ter a coragem para preencher essas folhas brancas. - Ela puxou uma respiração e largou o livro no mesmo lugar antes de olhar pela janela.

O sol do verão passava pelas folhagens, e, lá tudo parecia melhor do que em sua casa.

Mas sabia que deveria se preparar, tanto pelo baile que logo viria e tanto pela vontade de sair mesmo que momentaneamente de sua "prisão".

Suas criadas já corriam para lá e para cá, e no final de tarde Rosetta já tinha muitas opções de vestidos para usar, mas havia um que ela já tinha em mente.

Então quando finalmente anoiteceu, a jovem saiu silenciosa da casa enquanto segurava a vela, seus pés batendo no assoalho enquanto ia até uma sala no fim de um dos corredores.

A porta abriu com um leve ranger, no entanto, não era o suficiente para chamar a atenção e observou as coisas de sua mãe que ainda estavam guardadas ali.

— Onde está?? - Murmurou passando os dedos pelas coisas parecendo procurar algo em específico.

Tudo que ela queria era aquele vestido de sua mãe.

Aquele em que ela sempre contava que usou em seu primeiro baile quando tinha exatamente a mesma idade de Rosetta.

Em seu âmago a jovem sentia a necessidade de sentir ter um pedaço de sua mãe consigo, mesmo que fosse apenas um pedaço de pano em um dos bailes da alta sociedade.

— Talvez... Eu sinta um pouco de liberdade... - Disse antes de voltar ao quarto e deixar o vestido pronto para sua dama de companhia o lavar e arrumar para o baile.

Seu pai finalmente poderia a olhar agora, e talvez, visse como ela vinha se esforçando para ser uma lady tão graciosa quanto sua mãe.

Ela até mesmo se vestia como Beatrice as vezes, tentando passar um ar mais angelical, perdida em sua própria identidade.

Já a muito tempo a jovem não sabia mais quem era, além de querer ser o desejo de seu pai e fazer jus ao sobrenome de sua família.

Pelo menos, tentar soar assim.

Livro 1 - O Quartzo Rosa Onde histórias criam vida. Descubra agora