Capítulo - 2

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     Freen Narrando


Uma tarde quente de verão. O sol brilhava forte e alto, refletindo na água cristalizada do mar. A água está convidativa, sento-me na pedra e mergulho os meus pés na mesma, suspiro de prazer, está morninha. Fico um tempo aqui, sem pensar em nada, apenas saboreando o momento quando a água fica extremamente gelada adquirindo um azulado escuro, fazendo-me estremecer. Algo na água me chama atenção e a vejo, o seu corpo pálido sem vida boiando, as ondas a trazendo para mim. Agito-me e tento alcança-la com o braço estendido e a mão batendo na água, querendo a trazer para mim. O desespero e a angustia me invade pela demora quando o que eu mais quero é tirá-la de dentro da água tão fria até que os meus dedos tocam a sua pele gélida e sem vida, grito a chamando, tentando fazê-la se acordar, porém, isso não acontecia... As ondas a traziam e a levavam para longe de mim em um vai e vem agonizante.

Quero tirá-la da água! Ela precisa se aquecer!

As lágrimas escorrem dos meus olhos e pisco várias vezes tentando limpá-las, perco-a de vista. Levanto-me rapidamente e olho em volta, gritando o seu nome, até que a vejo novamente... O seu corpo de repente em decomposição sendo devorado por vários peixes.

- Não! - grito. - Soltem-na! Não faça isso com ela!

Eles não param, os seus dentes afiados mordem mais o corpo dela, deixando-me nauseada com a imagem horrível que sou obrigada a presenciar. Continuo a gritar, ordenando em vão... Mas, algo acontece... Os lábios dela se curvam em um sorriso malvado, enquanto, os seus olhos castanhos opacos se abrem e me encaram com tanto deboche que me deixa sufocada.

- A culpa é sua! - Rebecca acusa com a voz impiedosa.

Caio de joelhos, aos prantos.

- Não! Não é a minha culpa. Por favor, livre-me desse peso. Eu não aguento mais. - imploro com dor.

- Contemple a minha morte, Freen... Por que a culpa é sua... Apenas sua...

- Não! - grito muito alto, sentando-me desesperadamente na cama. O meu corpo está banhado de suor e minha cabeça dói muito. Sinto os meus músculos tensos e os batimentos cardíacos elevados, enquanto, a angustia me faz derramar algumas lágrimas.

Mais um pesadelo.

Não consigo me livrar deles, e muito menos do peso no meu peito que comprime o meu coração. A culpa e o remorso me abatem. Doze anos no mesmo pesadelo que me consome e me faz relembrar a morte de Rebecca. Morte que ela faz questão de me visitar todas as noites enquanto durmo para me condenar, como se eu não me martirizasse o suficiente quando estou acordada.

Deus. Eu não consigo ter nenhuma paz em minha vida. Desde que Rebecca se foi, tudo perdeu o sentido, a vida se transformou em um borrão em preto e branco que mesmo que eu tentasse mascarar com muito álcool, drogas e mulheres, nada era capaz de me proporcionar prazer ou felicidade. Sensações momentâneas chegavam rápidos. Mas da mesma maneira que chegavam, partiam, deixando-me no alento, nesse frio que corrompe os meus ossos e a minha alma.

Não tem um dia em que não me arrependa por ter causado tanta dor e o fim de Rebecca. Durante os dozes anos, todos os dias, ao abrir os olhos desejava que Rebecca estivesse viva. Necessitava ver o seu sorriso e sentir o seu doce perfume de morangos... E eu quis que a vida fosse como um conto de fada ou de magia que a qualquer momento pudesse encontrar uma lâmpada mágica ou uma máquina do tempo para voltar atrás e fazer tudo diferente, deixaria a Rebecca bem longe de minha maldade.

Se eu não tivesse surgido em seu caminho, ela estaria viva, provavelmente formada por Harvard e casada com alguém que a valorizasse e a amasse da forma que ela era. Se eu não tivesse cruzado o caminho de Rebecca, ela teria tido a oportunidade de viver. Ela teria tido a oportunidade de ser feliz.

El Sabor De Lá Venganza { FreenBecky }Onde histórias criam vida. Descubra agora