— Eu sou a mulher mais bela que existe na terra, sou jovem e tenho uma fortuna impressionante. Sou uma princesa, uma marquesa, sou...— O sorriso arrogante de Katherine não conseguiu manter-se, a apreensão voltou ao rosto dela.— Sou uma infeliz.
A maior vontade de Katherine era chorar. Fechando seus olhos, a marquesa respirou e tentou voltar a calma, sempre a calma, ela não deveria mostrar nenhum medo ou fraqueza, Katherine deveria ser corajosa. Abrindo novamente seus olhos, ela sinalizou para suas damas voltarem a arrumá-la. Como as coisas desandaram assim? Tudo isso era só para ver James.
— Mais rouge nos lábios, minha marquesa?— Lady Monmouth perguntou com a mistura avermelhada nas mãos. Katherine assentiu.— E nas maçãs do rosto? Deseja pouco ou muito rouge?
— O suficiente para disfarçar qualquer medo que eu sinta.— As damas se entreolharam apreensivas com a resposta da marquesa, mas a baronesa obedeceu.— Nunca usei tanta maquiagem assim na vida.
— Tem certeza que é realmente necessário tudo isso, Katherine?— Soando quase suplicante, Bess perguntou. Mas... do que exatamente ela falava?— Isso é tortura, para todas nós! Sem falar que é perigoso usar tanta maquiagem.
Um momento de excesso não iria estragar o rosto de Katherine, pelo menos ela esperava isso. Mas Bess estava certa, isso seria uma tortura, já estava sendo. Só que... James enviou tantas cartas, bilhetes, pedidos e súplicas por uma conversa particular com ela, ele desejava explicar e pedir perdão pelo que aconteceu, então Katherine cedeu. De forma alguma foi sentindo pena dele ou pensando em perdoá-lo, certas coisas era impossíveis de perdoar, mas a marquesa consentiu apenas para se livrar logo desse... problema na vida dela.
— Bravandale deve ver claramente como não faz medo algum em mim.— O que era uma horrenda mentira.
— Então devemos dar graças a Deus que Frederica não está aqui.— Com as joias da marquesa, Lady Cottington comentou sombria.
Elas deveriam dar graças a Deus era quando tudo isso acabasse, até lá... seria um Deus me ajude. As damas voltaram ao serviço e Katherine voltou aos seus pensamentos. Ela deveria ser forte, corajosa e muito fria, James não era ninguém para amedrontá-la. Sim, esse era o melhor pensamento no momento, embora não estivesse fazendo muita diferença.
Logo a maquiagem da marquesa foi concluída, seu rosto estava mais branco e vermelho que o normal, mas assim que deveria ser. Maria aproximou-se então com as joias que Lady Cottington havia pego: primeiro um colar de pérolas, depois brincos de safira e por fim o enfeite de cabelo...
— Tem certeza que você quer usar isso, Katherine?— Com uma aigrette na mão, enfeitada com safiras e penas de pavão, Lady Courteney perguntou preocupada.— O prendedor dessa aigrette parece levemente com uma lâmina, além de ser afiado também.
— Por isso mesmo que a escolhi, assim terei algo para me proteger.— Caso fosse necessário. Bravandale não seria tolo o suficiente para cometer o mesmo erro duas vezes.
As damas, e principalmente Lady Courteney, arfaram assustadas com a fria resposta da marquesa, parecia até... uma ameaça.
— Não fale assim, Katherine, por favor, parece até que você...
— Eu matarei o duque de Bravandale.— Encarando fixamente seu reflexo na penteadeira, a marquesa afirmou sem hesitar. Maria quase deixou cair a lâmina.— Caso ele tente fazer algo, não hesitarei em cometer um crime.
Isto é, se ela fosse mais rápida que James... não, sem esses pensamentos. Suspirando, Katherine sinalizou para a dama das vestes colocar logo a aigrette, o que Maria fez, embora tremendo muito a mão. Assim que ficou pronto, a marquesa desceu para a sala verde com suas cinco damas de companhia, sentou em seu lugar e começou a esperar pelo duque de Bravandale.
VOCÊ ESTÁ LENDO
La Belle Anglaise
RomanceNo final do século XVIII, a princesa Katherine de Bristol é conhecida em toda a Europa por dois motivos: sua grande beleza e por ser a herdeira de todo o grande legado da sua família. A princesa parece ter uma vida quase perfeita, com pais amorosos...