Erros Irreparáveis

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Em completo silêncio o rei encarava por uma janela o grande Pall Mall. Ele estava nessa mesma posição, de costas, fazia alguns minutos, e o único som escutado era o anel dele batendo na janela.

Esse silêncio não acalmava em nada a ansiedade de Katherine, muito pelo contrário, estava deixando ainda maior. A marquesa apertava com tanta força os próprios pulsos, que eles estavam começando a ficar vermelhos, doendo de verdade... Tudo isso era culpa de Wilhelm, e principalmente dele!

Não havia outra pessoa para culpar. Deixando a ansiedade de lado, Katherine voltou-se a Wilhelm e negou com a cabeça, usando uma expressão visivelmente irritada. Era culpa dele. Ele era o culpado por eles estarem em St. James e o culpado pelo absoluto silêncio do rei. Bastou o príncipe abriu sua boca para "dar uma explicação" e isso aconteceu.

Mas Wilhelm não parecia dar importância alguma, o príncipe apenas encarou Katherine de volta e revirou os olhos. O aperto da marquesa aumentou novamente, agora por raiva. Ele não poderia dar mais importância a isso!? E depois Wilhelm ainda tinha coragem de se dizer um iluminista!

— Isso é tudo?— Como? O casal parou de se encarar e migrou a atenção para o rei. Não recebendo uma resposta, o soberano repetiu:— Eu perguntei se isso é tudo? As "explicações" acabaram?

— Da minha parte sim.— Um homem completamente impossível! Novamente Katherine encarou o marido com raiva.— O senhor tem...

— Fiquei muito surpreso com sua vinda, Katherine, devo confessar com franqueza, mas não foi inesperado.— Soltando seus pulsos, a marquesa tentou mostrar calma, ele a esperava?— O Sr. Cruger, o prefeito de Bristol, você deve saber, me enviou um belo relatório dos seus estragos na cidade.

Finalmente o rei voltou-se a eles, e com uma expressão no rosto que estava longe de ser considerada feliz e satisfeita. Mas... uma pequena indignação surgiu no rosto da marquesa.

— Como assim "seus estragos"? Não tenho culpa alguma pelo que aconteceu!— Era uma injúria essa afirmação. Katherine estava doente, acabado de abortar! Mas o rei ainda assim assentiu e pegou uma folha na sua caixa vermelha. Os olhos da marquesa arregalaram.— Foi aquele... americano que me culpou? Não surpreende-me isso, todos sabem como ele ama seus conterrâneos traidores.

Que homenzinho mais... era melhor esquecer do americano. Katherine respirou e encarou o rei orgulhosamente, até que o contínuo silêncio dele fez o orgulho virar arrependimento. Ao lado da marquesa, Wilhelm tentava descobrir quem era esse Sr. Cruger, o americano.

— O que... aconteceu em Bristol foi... terrível. Não tenho nem palavras para descrever como estou horrorizado e... espantado com uma coisa dessas.— O rei olhou olhou o relatório de Cruger e depois voltou a encarar Katherine, ele estava decepcionado. Palavra alguma seria pior que esse olhar.— Uma coisa dessas dificilmente iria acontecer nos tempos de Alfred.

As pupilas de Katherine dilataram e ela sentiu uma coisa ruim na garganta. Havia sim algo pior que um olhar decepcionado: a comparação era muito pior.

Não conseguindo manter seus olhos nos do rei, a marquesa encarou o príncipe e depois encarou um lugar qualquer na mesma do monarca, o olhar preocupado de Wilhelm conseguia ser pior que a decepção do rei. Katherine não conseguiria ficar com raiva enquanto ele estivesse preocupado com ela.

— Fui eu quem deu a permissão para a Guarda Germânica atirar, meu rei.— As pupilas da marquesa dilataram novamente ouvindo o marido. Wilhelm havia perdido a cabeça!?— Eu já não havia deixado isso claro? Katherine não tem culpa nenhuma.

Realmente, Wilhelm havia perdido a cabeça. Para falar dessa forma irreverente e desrespeitosa com o rei, só estando louco mesmo. Ele não iria ajudá-la em nada assim.

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