Concessões

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Esse Bravandale gostava muito de falar, as palavras dele pareciam intermináveis, como água jorrando de uma fonte. Mas havia uma coisa, o duque falava muitas besteiras, coisas que Wilhelm não dava a menor importância, e por isso mesmo não prestou atenção alguma. Ele estava entediado.

Nesse meio tempo a Srta. Leke voltou com um livro para Wilhelm, que aliás era de Montesquieu, mas não importava muito, de qualquer forma serviu para distraí-lo. Um alívio para o príncipe era saber que as princesas Elizabeth e Charlotte também não estavam muito animadas com o duque. Cada uma fazia sua própria atividade: jogar e tocar.

Mas apesar de não dar muita atenção a conversa do duque, vez ou outra Wilhelm ainda olhava para Bravandale e Katherine. Isso era tão estranho, Wilhelm não conseguia entender o motivo daqueles dois parecerem tão próximos. Não era ciúme claro, apenas curiosidade, afinal de contas, Wilhelm considerava-se muito melhor que o duque.

Bravandale tinha sim a sua beleza, era um homem vigoroso, com traços gentis e agradáveis, mas o príncipe sabia que superava o duque. Wilhelm era inteligente, esbanjava beleza, ele não era assim tão vigoroso, mas também não era magro como o marquês, e acima de tudo, Wilhelm era sincero e verdadeiro, qualidades que Bravandale dificilmente teria.

Ao perceber seus próprios pensamentos o príncipe escondeu uma risadinha irônica. Por que ele estava se comparando? Wilhelm sabia que era natural, mas ainda assim, por que fazer isso quando não importava o que a princesa gostava ou não?

— James é um caçador muito bom, o melhor em toda Gloucestershire.— Despertado de seus pensamentos, Wilhelm olhou para Katherine. Isso tinha alguma importância a ele?— Pelo menos é o melhor que conheço, e eu conheço muita gente.

— Bom para Bravandale então.— Todos na sala olharam pasmados para Wilhelm.

O príncipe deu de ombros. Ele foi sim grosso, e não fez esforço algum para não ser, a importância que Wilhelm dava ao duque era mínima, quase nula. Bravandale o encarou com força, visivelmente irritado com essa declaração. Wilhelm esperava o mesmo dos outros, mas ao invés disso eles começaram a rir. As palavras dele seriam vistas como uma piada.

— Katherine, minha irmã, só consigo imaginar as risadas que você dá com Wilhelm.— Tanto o príncipe, como Katherine, olharam para Elizabeth e sua ironia disfarçada.— Deve ser tanta alegria.

— Você não imagina os gritos que damos.— Novamente Wilhelm falou com sarcasmo, mas agora fitando Katherine com um sorrisinho desafiador. A princesa sorriu falsamente.— Assustam a casa inteira.

Olhando para Katherine, Wilhelm a desafiou.

— Meu marido é um homem de muito humor.— O olhar de desafio tornou-se então dela.— Ele sempre me leva ao limite.

— Estou comovido, sim, de fato estou.— Até mesmo os falsos elogios dela eram cheios de sarcasmo.

A princesa abriu levemente sua boca para falar algo, e Wilhelm fez o mesmo, pronto para responder. Mas o maldito Bravandale limpou sua garganta, lembrando aos dois que ele ainda estava lá. Era uma pena, estava começando a ficar bom. Katherine olhou para o duque feliz.

— Conte-nos uma história interessante sobre alguma caçada sua, James.— Quando Katherine acabou de falar, Wilhelm fez questão de bocejar.— Talvez dê algum ânimo ao meu marido.

— Uma história? Acho que já contei todas para você.— Bravandale olhou para a princesa arrogante, antes de fitar Wilhelm convivendo.— Katherine ama ouvir minhas histórias, meu príncipe.

Não parecia. Apesar de Katherine manter um sorriso no rosto, havia uma pequena pontada de irritação nesse sorriso. Ao perceber isso, foi Wilhelm que sorriu, e sorriu sarcástico para ela e o duque. Bravandale mentia, ou aumentava as coisas.

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