"Falei mal de você, mas volto atrás. Amor próprio é bom, mas o seu é mais."𝙍𝙮𝙖𝙣
Droga, será que eu exagerei?
Não, ele merecia ouvir isso. E no fim, até que foi bom ter dito tudo aquilo.
Eu só quero alguém pra conversar. Só isso.
Estou em uma praça qualquer, em um banco qualquer. Agora eu já não choro mais, porém meu olho ainda está vermelho, só olho para baixo respirando baixo, para disfarçar e controlar
- Oi, desculpa, mas você está bem? - olho de relance pra garota, mas desvio o olho rapidamente. Quando essa menina chegou aqui? Misericórdia.
- Hmm, tô sim. - digo simples, olhando para as minhas mãos, enquanto junto uma palma com a outra.
- Eu acho que eu te conheço, parece que já te vi em algum lugar.
- Talvez já tenhamos nos visto mesmo. Sinto o mesmo sobre você. - digo sorrindo fraco.
- Ah! Lembrei, você que derrubou do Luiz lá na quadra mais cedo, né? - ela dá uma risada.
- Haha, fui eu sim. Mas não era a minha intenção! - concluo
- É, eu vi que foi um acidente. - ela olha pro céu.
- Pelo menos você acredita. - sorria enquanto, também, olhava pro céu.
- Aliás, meu nome é Gysllane.
- Ryan. - digo simples.
- Ryan... Gosto desse nome. - ela olha pra mim de novo. - você parece uma boa pessoa.
- Posso dizer o mesmo.
- 'Tá Ryan, me diz o que aconteceu. - ela se arruma no banco.
- Não é nada de mais, eu prometo. - ela não parece se convencer.
- Você pode confiar em mim, a minha boca é um túmulo.
Penso bastante antes de dizer qualquer coisa. Não sei se posso confiar em uma pessoa que eu acabei de conhecer, e provavelmente, não vou ver de novo.
Mas na verdade isso é bom. É eu queria alguém pra conversar mesmo.
- Hoje, especificamente, não é um dia muito bom pra mim... - dou uma risada fraca.
- Hoje? Por que? - ela se aproxima de mim.
- 10 de dezembro... - digo lembrando. - hoje completa cinco anos que o meu pai morreu... - minha voz treme ao sair. Isso ainda é um tabu pra mim, é muito difícil falar sobre.
- Ai meu Deus, eu não fazia ideia... Por isso você 'tá tão tristinho - ela olha pra mim com um olhar tristonho. - eu sinto muito.
- Que nada, você não tem que sentir muito. 'Tá tudo bem - sorrio fraco.
- espero que você fique bem Ryan. Não precisa ficar assim, se precisar de algo eu 'tô aqui, ok? - ela sorri.
- ok - digo rindo.
Ela está certa, meu pai não iria querer me ver assim, eu sei disso. Ele sempre dizia que nos piores momentos é importante sorrir para que venha a felicidade, e que tá tudo bem chorar também, mas um sorriso ou uma risada sempre vai melhorar o nosso dia. Ele sempre me dizia aquela frase.... Como é mesmo?
Ah sim, "o amor é fogo que arde sem se ver"
Sendo sincero eu nunca entendi isso, não antes dele morrer. Acho que finalmente faz sentido.
Depois da morte do meu pai eu aprendi a não sentir nada, não nego que isso é bom de vez em quando, mas agora eu quero sentir tudo. Eu quero me perder, incendiar, nadar além do mar, também quero sentir medo e tocar tudo que eu vejo.
Eu quero viver como nunca, assim como o meu pai.
Ainda é difícil, mas eu tô tentando descobrir andar sozinho por aí.
Ainda lembro como a praia era linda com o meu pai, talvez ela seja linda sem ele também.
Sei que meus olhos devem estar vermelhos agora. Não ligo, sei que tudo que eu sentia que precisava deixar eu deixei. Sei que tudo de ruim ficou pra trás, agora é viver o presente, pensar nas coisas boas.
Eu realmente precisava me deixar pra descobrir onde eu estava.
Desde que meu pai morreu eu me sinto só, mesmo com gente ao meu redor. Mas agora eu abraço a escuridão que sempre se fez o meu lar.