𝐈𝐏𝐀𝐍𝐄𝐌𝐀 𝐆𝐈𝐑𝐋, Charles Leclerc

𝟎𝟎𝟏

🇧🇷 𝟎𝟎𝟏. Charles Leclerc jamais deixaria a sua mulher com o nome sujo no serasa;

OS LÁBIOS DA LOIRA A MINHA FRENTE se separam em completa descrença no exato momento em que eu fecho a boca, completamente esperançosa de que receberia o completo apoio e incentivo de minha melhor amiga, Gabriella.

— Você fez o quê?!

Franzo levemente o cenho, olhando de um lado para o outro, envergonhada pelo grito de minha amiga na área central da imensa sala de estudos completamente lotada.

— Fala baixo! — Murmuro, alarmada. — E sim, eu comprei.

Embora soubesse que ela entendeu logo na primeira vez que eu falei, a incredulidade era presente em seus olhos verdes que, como os de uma águia, prenderam-se fixamente em meu rosto. Sentia como se um par de chifres crescesse em minha cabeça a cada fragmento de estranheza que se intensificava em sua face.

— De onde você tirou esse dinheiro, Helena Cecília? — Indagou, autoritária. — Das duas uma, ou você assaltou um banco, ou andou rodando bolsinha no calçadão. Qual foi?

— Nenhuma das duas. — Reviro os olhos, chacoalhando a caneta de ponta fina em minha mão destra. — Peguei um empréstimo no Nubank.

Uma risada seca e incrédula escapou dos lábios da mais velha, que apenas negou com a cabeça, claramente desacreditada.

Talvez nem eu mesma esteja acreditando.

— Eu não estou acreditando nisso. — Diz, quase que lendo os meus pensamentos. — Desde quando você tem limite para isso?

— Eu peguei exatamente dois mil e quinhentos reais. Foi tudo o que tinha disponível para mim.

Lembro-me da minha imensa alegria transformada em frustração quando acessei a minha conta no banco on-line em certa manhã, e dei de cara com um limite adicional para empréstimos que fora enviado dos céus. Entretanto, como eu ainda sou apenas uma estudante sem renda fixa, era óbvio que o saldo não era lá essas coisas.

As condições de um universitário normal não eram bem a melhor coisa do mundo, e a minha, muito menos. Digamos que, entre os fodidos, eu conseguia me destacar como a rainha deles.

No final das contas, o valor oferecido cobriu apenas o ingresso. Mas eu não estava reclamando, muito pelo contrário. O dinheiro que arrecadei apenas com as minhas economias não cobriu nem metade do que seria necessário para sobreviver nos três dias de GP, o que me deixou em uma enorme saia-justa durante bons meses.

Eu já conseguia me ver escalando muros e cercas elétricas para ter acesso à pista, se não fosse pelo roxinho que eu estava prestes a dar um belo calote.

— E como você planeja pagar, Helena? O dinheiro da sua pensão mal dá para arcar com os materiais do curso.

— Já desinstalei o aplicativo, amiga. — Dou de ombros. — Quando eu me formar, talvez tente um acordo com eles.