Capítulo 2

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Quando Kara abriu os olhos, a primeira coisa que imaginou foi que ainda era madrugada. O quarto completamente escuro e um clima de quem ainda teria horas e mais horas de sono. Sentiu o braço um pouco dormente e tentou puxa-lo, mas algo impedia o movimento.

Não algo, alguém.

Lena.

As memórias voltaram com tudo e Kara começou a se sentir mal. Mal por estar se sentindo tão bem. Por ter gostado tanto da noite passada. O plano não era esse, o plano era pegar uma grana fácil, que cobriu praticamente sua noite inteira onde teria que dormir com várias pessoas e poupar-se.

Poupar-se de ter que aguentar mais uma noite com homens ridículos que só queriam saber do seu corpo e de usa-la como se fosse descartável. E na verdade, ela era. Usada todas as noites, descartada após o pagamento.

Agora, Kara estava com vontade de devolver o dinheiro e fingir que nada aconteceu. Pedir para as duas amigas da linda morena esquecerem de como a conheceram e não a contarem que na verdade, a noite não havia passado de um "presente de consolo".

É claro que não seria assim, a realidade é que ela iria apenas seguir com sua vida. Porque devolver o dinheiro não adiantaria de nada, Lena não a chamaria pra um segundo encontro ou algo assim e definitivamente, se ela chamasse as amigas contariam a verdade e ela nunca mais olharia na sua cara.

Principalmente não do jeito que havia olhado ontem.

"Linda" foi do que ela havia a chamado. E Lena nem estava olhado para o seu corpo. Foi definitivamente a melhor parte da noite.

Suspirou e puxou o braço, deitando de lado e tentando enxergar um pouco de Lena no escuro. Foi quando viu pequeno relógio que tinha do lado da cama que já eram 8:45 da manhã. Deu praticamente um pulo, já começando a procurar por sua roupa.

Não demorou para encontrar, colocando o vestido e jogando a calcinha dentro da sua bolsa. Foi quando lembrou das palavras de Lena, pedindo para que ela não saísse sem deixar o número.

Ela havia concordado, mas será que valia a pena? Não daria certo qualquer coisa que fosse em relação a isso, ninguém queria ir para encontros ou se relacionar com uma garota de programa, ainda mais uma mentirosa, que a enganou por dinheiro. Então era melhor só sair dali.

Repetiu isso algumas vezes pra ver se entrava em sua mente, mas não adiantou muito. Pegou um pedaço de papel que tinha dentro da sua bolsa e procurou por uma caneta. Será que teria alguma ali?

Deduziu que não, após passar pelo menos uns dez minutos procurando. Abriu a bolsa e pegou o batom vermelho. Tentou deixar de uma maneira legível e colocou o papel sobre a cabeceira, que era bem espaçosa.

- Kara? – Escutou a voz rouca a chamar.

Engoliu seco. Olhou para trás, onde Lena começava a se sentar. Apenas acenou pra ela, sorrindo um pouco sem jeito.

- Deixou seu número? – Ela perguntou.

A loira assentiu. Ela viu Lena olhar ao redor e pegar o papel, sorrindo com uma cara de sonolenta. Voltou a se deitar, como se nem tivesse percebido que tinha acordado e então Kara se virou e foi embora.

Não sem antes olha-la mais uma vez.

❦ ❦ ❦

A vida de Kara nem sempre foi ruim. Ela cresceu em National City, em uma fazenda um pouco distante do centro. Nunca estudou em escola, seus pais eram contra o sistema de ensino, mas recebeu algumas aulas de matemática quando criança.

Não que tenha adiantado muita coisa, só sabia mexer com dinheiro e escrever números.

Por não ter estudado, estava sempre brincando ou ajudando os pais a cuidarem dos animais. Ela era feliz, sem ter muita noção da falta que faria um ensinamento pelo menos básico. Seus amigos sempre dizendo o quão sortuda ela era que não precisava estudar. Crianças que ainda não sabiam da vida.

Quando em Vegas - KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora