Capítulo 5

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Point Of View
Cheryl Blossom

Depois do que foram um pouco mais de nove dias de trabalho e uma desconfiança de que eu não deveria estar lá, voltar para o meu devido lar é um alívio. É uma pena que o tempo seja curto e eu só tenha um pouco dessa noite e amanhã para ficar em casa, porém depois dessa semana estranha, é mais do que o suficiente poder olhar para o teto e não ver um lustre enorme, que aliás deve custar o preço da minha casa inteira. Encaro a porta de entrada, respiro fundo e sorrio, em paz, antes de abrir a mesma e sentir o cheiro bom de biscoitos e café, assim como a temperatura familiar abraça o meu corpo. Deixo minha mochila no canto da porta e vejo minha mãe sentada no sofá vendo um filme antigo, assim como ouço o som do meu pequeno irmão brincando de carrinho e fazendo sons de buzina. Eles ainda não perceberam que eu voltei e aproveito disso para chegar perto da mamãe lentamente e apoiar minhas mãos atrás do sofá.

-Você não deveria estar deitada?- Dona Penelope leva um pequeno susto e vira o rosto em minha direção, sorrindo logo depois e esticando a mão fraca para tocar meu rosto.

-Cheryl.- Sua voz é baixa e tranquila. Dou a volta rapidamente no sofá e beijo sua bochecha assim que estou sentada. -Como foi no trabalho? 

-Foi bom, mãe.- Respondo-a no mesmo tom baixo e calmo e acaricio seu ombro, desamassando aquela parte da camisola. Me lembrei automaticamente da princesa, mas decidi não pensar muito naquilo, afinal, não era o momento -Tudo bem com a senhora? Você fez biscoitos? Por que se levantou?

-É muito chato ficar deitada.- Ela diz em um suspiro, piscando lentamente os olhos. -Seu irmãozinho me ajudou a fazer os biscoitos, pegou todos os ingredientes para mim. 

-Que bom.- Sorrio apenas com os lábios e deito minha cabeça no encosto do sofá, observando-a.

-Não vai vê-lo?- Meu sorriso aumenta de tamanho, lembrando da pequena presença brincando com o carrinho, e balanço a cabeça positivamente algumas vezes. -Ele sente sua falta.

-Também sinto falta do Jay.- Suspiro. -Ele cuidou de você?

-Vocês dois são os melhores filhos que eu poderia ter.- Pisco algumas vezes, olhando a pessoa que eu mais amo nesse mundo falar tranquilamente enquanto assiste uma cena romântica dos personagens indo ao cinema. Aperto meus lábios um no outro e levanto minha cabeça para chegar mais perto e deixar um beijo em sua têmpora.

-E a senhora é a melhor mãe.- Digo baixinho e Penelope sorri só com os lábios, piscando lentamente. -Com sono?

-Quero terminar de ver o filme.- Ela diz em quase um sussurro.

-Tudo bem.- Digo no mesmo tom.

Não demora muito tempo até ela pegar no sono e eu ter que acordá-la para levá-la até o quarto. Observo minha mãe na porta e percebo que ter passado tantos dias longe dela foi mais difícil do que pareceu, então apenas sorrio tranquila, encosto a porta e vou em direção ao quarto do meu irmão, que um dia foi de nós três, depois de nós dois e agora virou apenas do pequeno Jason de sete anos, já que não durmo mais com tanta frequência aqui. Ele está lá, sentado no chão e encostado na minha cama, brincando com o carrinho que o dei em seu aniversário. Observo ele brincando que o carro está andando em uma estrada de legos e por um momento fico com vontade de voltar à ser uma criança que se contenta com pouco. Lembro que quando dei esse carrinho para o Jay, fiquei receosa de que meu irmão enjoasse rápido, mas, não, desde que ele o tirou da caixa, aquele carrinho virou seu brinquedo favorito.

-Comeu todos os biscoitos, não é, seu pestinha?- Assim como aconteceu com a mamãe, Jason também se assusta com a minha voz, então olha para mim e abre um grande sorriso.

Não existe o Certo, existe o NósOnde histórias criam vida. Descubra agora