Point Of View
Toni TopazObservo, enquanto eu mal consigo ficar parada, o Range Rover preto da ministra entrando pelos enormes portões do castelo, com tantos guardas em volta esperando para fechar o caminho e proteger as pessoas de dentro do veículo que parecia ser a própria carruagem da Cinderela, e espero até que eu veja Veronica saindo de dentro com o celular na mão, rindo de algo que a mãe falava, para finalmente dar as costas e sair correndo do quarto, ansiosa e nervosa demais para esperar que ela mesma venha até aqui.
Tropeço diversas vezes nestes saltos e resmungo em todas, sem exceções. No fim, eu paro em frente a escada e incentivo à mim mesma, dizendo “Vamos lá, Toni”, mas assim que piso no primeiro degrau, eu tropeço e me prendo ao corrimão, subindo de novo para o início, e agora eu já estou sem paciência o suficiente para aguentar essa tortura que chamavam de calçado. Tiro os saltos e desço as escadas correndo, a mão direita segurando os saltos e a esquerda a borda do vestido excessivamente longo e bufante para apenas mais uma das reuniões de ministros que eu sempre precisava participar. Sinceramente, eu dou tudo se conseguir convencer a Veronica a me ajudar a despistar meus pais, pois meus planos são justamente esses: inventar um motivo para não aparecer naquela sala e aproveitar que o castelo estará temporariamente vazio para respirar um pouco, sem a pressão de toda essa responsabilidade de princesa. Mas, primeiramente, eu acho que tenho tempo suficiente para conversar com a Veronica sobre tudo que omiti, e só depois penso em me preocupar com a minha fuga de cômodos e em uma maneira de dizer que não estou muito bem, que Veronica ficará para me ajudar e que por isso não vamos participar daquela coisa repetitivamente chata. Quero dizer, já se passaram mais de três semanas desde a noite de 27 de julho e Veronica tem vindo até o castelo desde então. Eu já não deveria ter contado? Ela é minha melhor amiga.
Chego até o salão principal e já a avisto na porta conversando com Reggie. O guarda estava em sua pose de sempre: reto, os ombros largos, as pernas posicionadas formalmente, os braços aos lados do corpo como se estivesse de guarda e não conversando com a ex namorada, e eu sei que ele estaria mais leve e tranquilo se Hermione não estivesse bem ao lado deles, conversando com a minha mãe, elegante e comportada, como sempre. Fico receosa com a presença da rainha, já que estou com os pés no chão e ela abomina isso, considerando que em sua visão, não há motivos para ficar descalça se eu tenho sapatos o suficiente para montar minha própria loja, então mesmo contra a minha vontade, vou até elas, colocando os saltos de volta no caminho e tropeçando como se tivesse acabado de sair de uma festa agitada no meio da madrugada.
A rainha me olha dos pés à cabeça, tentando encontrar algo para julgar e eu sorrio inocente quando ela sorri satisfeita, assentindo levemente e voltando ao seu papo com a ministra. Hermione me olha, e não falando nada, ela me puxa para um abraço e sussurra um “bom te ver, querida” assim que nos separamos. Eu assinto com a cabeça, a agradecendo sinceramente pela demonstração agradável e aleatória de afeto, e me viro para a sua filha, que continuava olhando encantada para Reggie e que não dizia nada, apenas estava ali, a ouvindo atentamente e provavelmente querendo abraçá-la, mas infelizmente seria inapropriado um guarda abraçando ou ao menos conversando com a filha de alguém tão importante do castelo, então ele só a ouve. Isso é meio triste, só que não há nada que eu possa fazer para ajudar sem ser julgada, também.
Fico parada um tempo ali e espero que ela repare em minha presença, mas como isso não acontece, eu a puxo pelo braço.
-Aí depois a gente se fala, Mantle. Eu acho que a Toni está puxando meu braço agora, eu só não tenho certeza disso, mas depois a gente se fala, pode ser?- Reviro os olhos com o tom meloso e a atenção totalmente virada para o guarda que não deve estar ao menos sorrindo. -Beijo, beijo.
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Não existe o Certo, existe o Nós
FanfictionApós a Revolução Inglesa que deu inicio a monarquia constitucional, o Reino Unido passou por uma crise econômica, afetando todos os moradores dos países pertencentes a união, principalmente os ingleses. No estopim da instabilidade econômica, guerras...