007

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Emma acordou sem saber que horas eram. Mas estava evidente que era de manhã, a luz do sol transpassava a janela e brilhava intensamente.

Mais uma vez havia esquecido de fechar as cortinas e se xingou por isso, pois queria ter aproveitado mais o fato de ter dormido abraçada com Jenna.

Do mesmo jeito que a morena se enroscou nela quando voltaram da despedida, deitando seu braço esquerdo e a abraçando pela cintura, se encontravam desse mesmo jeito. Jenna a segurava como se não quisesse que ela escapasse durante a noite — e não queria mesmo.

Vê-la com o semblante relaxado e aproveitando o sono, Emma se lembrou das coisas que ela havia dito e sorriu um pouco triste. Quais eram as chances do que ela disse ser verdade? Quais eram as chances dela se lembrar daquelas palavras quando acordasse? Em sua mente, eram praticamente nulas.

Para o seu desespero, gostava tanto de Jenna. Gostava do jeito que ela mexia no cabelo e ficava nervosa com facilidade. Gostava como ela tinha uma boa relação com a mãe que, tecnicamente, era madrasta. Gostava quando ela perdia a linha com Lu e Alice fingia que não estava brava. Mas gostava muito mais quando Jenna a olhava e a ouvia o que tinha dizer. Como uma boa pessoa apaixonada gostava tudo nela.

No entanto, o que tinha a oferecer à Jenna? O que tinha para chamar a sua atenção? O que tinha de extraordinário para Jenna ficar com ela e não voltar com ex? Nada. Não tinha nada, assim pensava.

O dinheiro que ganhava lhe dava uma vida confortável, conseguia se manter estável e não passava perrengues. Quando começou a trabalhar como acompanhante só queria o dinheiro rápido para as contas, não podia deixar sua mãe perder a casa e ficar sem o tratamento adequado. Depois que ela morreu, continuou trabalhando para quitar todas as dívidas. Claro que Isabel ajudava, mas não ganhava muito trabalhando como garçonete.

Quando conseguiu quitar as contas, continuou trabalhando para conseguir abrir o próprio negócio. Há dois anos vinha juntando dinheiro para conseguir abrir um restaurante onde ela e a irmã poderiam trabalhar juntas. Isabel também juntava uma grana, mas em quantidade muito menor. Com o dinheiro que receberia de Jenna ao final de toda mentira, já poderia ir correr atrás do seu sonho e deixar de ser acompanhante de luxo. Só que vinha se sentindo tentada a devolver o que já tinha recebido e esquecer dela para não ter que lidar com a dor de um amor não correspondido.

Desde que entrou nessa vida, sempre pensou que no dia em que a deixasse, teria seu restaurante, encontraria alguém legal e formaria uma família. Era só isso que queria, não precisava de nada mais a não ser viver sossegadamente. E então Jenna chegou e já até imaginou essas coisas ao lado dela. Agora, tinha dormindo em seus braços uma mulher que apareceu de repente e que seria capaz de fazer tudo por ela. Mas eram de mundos tão diferentes e sabia que Jenna podia ter quem quisesse, o que quisesse, na hora que quisesse.

Porque Jenna olharia justamente para ela? E se olhasse, quem podia garantir que não seria uma conquista barata? Não queria julgá-la, porém não tinha como não pensar em tudo isso.

Uma CEO, herdeira de império e uma prostituta. Onde isso chegaria a algum lugar? Talvez o melhor mesmo fosse agradecer a hospitalidade dos Ortegas e voltar para National City.

Sabia que quando voltasse para casa Lena não a procuraria mais e seria melhor assim. Cada uma vivendo em seu lado do muro em que o mundo era dividido. O melhor a se fazer era não ultrapassar.

Dando um olhada em Jenna, passou a mão delicadamente em seu rosto e suspirou. Não queria deixá-la, mas não via muita solução para o seu caso.

Tentando se desvencilhar da morena, a sentiu a apertar mais contra si. Deveria ter saído dali antes, assim evitaria uma situação estranha.

Muito Bem Acompanhada - JemmaOnde histórias criam vida. Descubra agora