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Três semanas haviam se passado desde aquele fatídico almoço em família. Eram 21 dias que Jenna não tinha notícia nenhuma sobre Emma. Parecia até que ela tinha sumido do mapa ou sido abduzida. Todos os dias ligava para ela e mandava mensagens, mas não tinha resposta nenhuma. Embora estivesse chateada, sabia que não poderia julgá-la por agir daquela forma.

Dois dias depois que tinha agido da forma mais equivocada possível com Emma, foi quando começou a se dar conta que estava totalmente errada naquela situação. Não deveria tê-la culpado por nada, mas na hora da raiva descontou toda sua frustração em cima dela.

No terceiro dia, quando já tinha plena consciência que havia sido uma estúpida, ficava triste pelos cantos por não estar com ela. Quando a noite chegava, a saudade apertava a ponto de fazer seu peito doer. O cheiro dela estava nos seus travesseiros, em seu cobertor e ela estava em sua memória, isso  a fazia desejar mais e mais a sua presença.

Se arrependia profundamente de tudo o que disse para Emma e não a criticava por ter saído da mansão sem mais nem menos. No seu lugar, talvez também tivesse feito o mesmo.

A cada dia que ficava sem noticias da loira, sentia mais mal por tudo o que tinha feito. Em nenhum momento se arrependeu de ter socado a cara do irmão ou ter gritado em alto e bom que ele tinha um caso com Aline e acabado com futuro casamento dele com Bella. Mas com Emma... com Emma ela sabia que tinha errado.

Já fazia algumas horas que estava na estrada. Detestava dirigir, mas estava fazendo isso sem nem reclamar. Aquele esforço era por um bom motivo.

Era final de tarde de uma sexta-feira, o sol já estava deixando o céu para dar lugar a lua. Independente disso, Jenna não faria nenhuma parada até chegar onde deveria. Estava a poucos minutos do seu destino final e queria chegar lá o mais rápido possível.

Saindo da avenida principal, seu GPS indicava para entrar a esquerda e seguir mais alguns metros. Nesse momento, tirou o pé do acelerador se sentindo nervosa. Não tinha planejado o que falar, era provável que não seria ouvida, mas, ainda assim, iria tentar.

Parando o carro em frente a uma casa de cerca branca, desceu e se encaminhou para a porta principal. Havia um pequeno caminho de pedra, nas laterais havia grama e flores muito bem cuidadas e mais a frente alguns degraus de madeira levando a uma pequena varanda.

Não fazia ideia se tinha alguém naquela casa, tudo parecia quieto demais e extremamente silencioso. As janelas da frente não davam vestígios de ter alguém ali. Até pensou em desistir fazer aquilo naquele momento, mas seguiu em frente. Respirando fundo, tocou a campainha e esperou que alguém aparecesse.

Uma ruiva com uma menininha no colo abriu a porta minutos depois.

— Pois não?

— Oi — disse sem jeito brincando com os dedos das mãos para aliviar a tensão. — Eu sou...

— Jenna Ortega. Todos sabem quem você é — a interrompeu.

— É, sou eu. Você é...?

— Isabel. Minha irmã não está — colocou a criança no chão. — Vai lá com a mamãe, Esme.

Jenna observou a menininha de uns cinco anos correr para algum lugar dentro da casa.

— Se sabe que eu quero falar com a sua irmã, é porque sabe o que aconteceu.

— Sei. Entra — deu espaço para Jenna passar.

Sem certeza se deveria fazer o que Isabel disse, Jenna hesitou por um momento, mas depois entrou.

— Emma vai demorar a chegar?

— O turno dela acaba as dez — apontou para o sofá. — Senta. Fique a vontade.

— Turno? — olhou para Isabel arqueado a sobrancelha.

— Ela está trabalhando numa lanchonete. Se você tivesse chegado mais cedo, teria a encontrado aqui.

Assentindo lentamente com cabeça, Emma se sentou no sofá menor.

A casa era toda bem arrumada. No chão havia brinquedos espalhados, mas provavelmente era porque a pequena Esme brincava por ali.

— Como a achou aqui? Midvale é distante de National City e mais ainda de Metrópolis.

— Minha mãe que me disse que ela estava aqui. Longa história — olhou para o chão, mas depois fitou Isabel. — Ela deve estar me odiando, não é? Eu me odiaria. Sendo sincera, me odeio.

— Odiando, não. Emma não é capaz de sentir isso. Agora magoada ela está. Muito. Nunca a vi assim antes.

— Eu quero reparar o erro que cometi — olhou para Isabel que estava sentada em uma poltrona a sua frente.  — Eu a culpei por uma coisa que ela não teve culpa. Não deixei ela nem ao menos se explicar e destinei minha raiva a ela.

Isabel escutava o que Jenna dizia atentamente. Parecia que estava realmente arrependida e tentando arrumar as coisas, mas ainda era cedo para tirar conclusões.

— Ficar chateada por ela não ter dito logo o que sabia, eu até entendo. Agora dizer que estava apaixonada por ela e julgá-la pelo que ela fazia, é que nunca vou entender.

Fazia. Essa palavra ecoou mais forte em sua cabeça.

— É, eu sei que agi errado — suspirou. — Eu só...

— Escuta, Jenna. Ou prefere que eu te chame de senhorita Ortega?

— Só Jenna.

— Certo, só Jenna — maneou a cabeça em afirmação. — Não é pra mim que você tem que explicar nada. Não fui eu que me envolvi com você, não fui que descobri sobre o que o seu irmão fazia com sua ex e, muito menos, não fui eu que ouvi você dizendo que era uma fraude e todas as outras coisas. Não tem que dizer nada pra mim.

— Acho melhor eu ir embora e voltar em um outro momento — se levantou.

— Fica. O jantar já está quase pronto.

— Não quero incomodar, Isabell.

— Não vai. Você fica, e quando ela chegar, você tenta falar com ela — sugeriu. — O que acha?

— E se ela não quiser falar comigo?

— Acho que é um risco que você vai ter que correr — deu ombros se colocando de pé. — Está disposta a correr esse risco?

— Eu faria qualquer coisa para tê-la de volta.

— Então vamos, vou te apresentar o resto da família.

Jenna seguiu Isabel um pouco sem graça. Havia agido mal com a irmã dela e em troca estava sendo muito bem tratada. Não havia raiva no olhar da ruiva e em nenhum momento parecia que ela estava a  julgando por alguma coisa. Se tivesse sido recebida a gritos e sido jogada para fora daquela casa a ponta pés, talvez se sentisse um pouco melhor.

Enquanto acompanhava Isabel, reparava disfarçadamente em tudo a sua volta. A casa não tinha nenhum luxo, mas era aconchegante e dava a sensação de lar. Haviam fotos espalhadas pela parede e uma a chamou a atenção.

— Quem é essa com a Emma? — parou para olhar o retrato.

— Nossa mãe — respondeu quando percebeu do que se tratava a pergunta. — Aí ela já estava doente.

— Elas se parecem — comentou analisando a foto de uma Emma sorridente com uma mulher também loira, mas bem abatida.

— Sempre dizem isso. Eu acho que a adotada sou eu, mas quem se importa, não é? — riu do que disse. — No fim, o que vale mesmo é só o amor e a consideração que temos.

— Ela me disse uma vez que você era melhor coisa na vida dela.

— E ela é na minha. Vamos?

Assentindo, Jenna voltou a segui-la até chegarem na cozinha. Havia uma mulher negra de cabelos longos e escuros mexendo alguma coisa numa panela no fogão e Esme ao seu lado fazendo várias perguntas.

— Kelly, temos uma convidada para o jantar.

— Ainda bem que eu sempre faço bastante comida, pois sua irmã chega quase comendo o reboco das paredes — desligou a trempe do fogão e se aproximou das mulheres no meio da cozinha. — Prazer, sou Kelly a quase esposa da Isabel, cunhada favorita da Emma e a outra mãe da Esme — estendeu a mão.

— Sou Jenna Ortega — apertou a mão com um sorriso —, mas acho que isso você já sabia.

— Não. Não sei quem você é, não.

— Me desculpa. Não quis parecer convencida ou algo assim. É só que...

— Relaxa — Kelly começou a rir e Isabel a acompanhou. — Eu sei quem você é. Emma falou como é engraçado como você fica nervosa, e eu não poderia perder essa chance.

— Ela falou de mim?

— Pessoas apaixonadas falam muito da pessoa por quem ela está apaixonada. E... bom... estando junto ou não, chateada ou não, ela ainda é apaixonada por você.

— Então ela ainda é apaixonada por mim? — um pequeno sorriso surgiu em rosto.

— É, sim — Isabel respondeu. — Até demais. Eu não te apresentei, mas essa é a nossa filha. Vem cumprimentar a visita, filha.

Acanhada, mas ao mesmo tempo com um sorriso sapeca, Esme se aproximou das mães parando bem em frente a Isabel.

— Oi, moça bonita — fez um aceno com a mão.

O coração de Jenna derreteu pelo jeitinho que ela falou.

— Oi, Esme — se agachou um pouco para ficar da altura dela. — Você é uma menininha muito bonita.

— Minhas mamães e minha tia Emma também acham.

— Toma cuidado com ela — Isabel alertou Jenna que a olhou confusa. — Ela chega toda tímida e de mansinho e quando você vê, ela quer sua alma.

— Isabel!

— Desculpa, amor.

Era aquilo que Isabel e Kelly tinham que Jenna desejava ter. Mas não imaginava isso com mais ninguém além de Emma. Conseguia se imaginar claramente tendo uma filha ou filho com ela. Podia ver uma sendo a mãe mais brincalhona — Emma — e a outra mais brava.

O jantar foi servido pouco tempo depois. Isabel e Kelly contaram como se conheceram, que desde então estão juntas e que vão se casar em breve. Jenna escutava tudo com atenção e fazia algumas perguntas e comentários esporádicos.

— Emma não tinha me dito que você era mãe — comentou quando Esme tinha acabado de comer e foi brincar.

— É porque ela não sabia disso.

— Como assim? — franziu o cenho com a resposta de Alex.

— Bom — Kelly começou a retirar os pratos da mesa. — A decisão de adotar Esme foi de repente. Eu sou psicóloga e assistente social. Eu visitava a família temporária dela, que também ficava com outras ccrianças, e foi assim que eu a conheci. Uns meses atrás, um casal mostrou interesse em adotá-la e tudo parecia que iria dar certo, mas de uma hora para outra eles a devolveram. No dia que ela iria voltar para a família temporária dela, Isabel acabou chegando no meu escritório para me levar para almoçar e a viu.

— O jeito que eu vi Esme encolhida no canto e de cabeça baixa foi o mesmo jeito que eu vi a Emma pela primeira vez — Isabel complementou.

— Assim que Isabel botou os nela e me olhou, eu sabia o que se passava em sua cabeça — sorriu ao se lembrar do momento. — E então entramos com o processo de adoção.

— Assim como minha mãe não pode deixar Emma para trás, eu não pude deixar Esme.

Agora Jenna conseguia entender porque Emma era tão apegada a irmã. Elas tinham uma ligação muito bonita.

— Emma não sabia desses planos — viu Isabel negar com a cabeça. — Porque?

— Nossa intenção não era esconder nada dela, só queríamos dizer quando tudo desse certo e Esme estivesse conosco — Kelly terminou de explicar a história. — Não queríamos dar falsas esperanças que ela seria tia.

— E quando ela voltou de Metrópolis, conheceu a nossa filha.

— Gostaria que eu e meu irmão fossemos como vocês. Mas, segundo palavras dele, eu só sou a bastarda da família.

O casal não entendeu o que aquelas palavras de Jenna significavam. Emma contou sobre o que aconteceu entre as duas, mas não disse nada sobre a vida pessoal da morena.

— Bastarda? — Kelly retornou para a mesa se juntando a noiva e a Jenna.

— Emma não contou sobre isso?

— Não. Ela só contou o que envolvia diretamente ela.

— Ah! — Emma assentiu com a resposta de Kelly.

— Quer ir brincar com a Esme? — a Myers mais velha mudou de assunto quando percebeu o desconforto de Jenna. — Eu e Kelly vamos arrumar tudo aqui.

— Não querem minha ajuda? — perguntou à Isabel.

— Só mantenha minha filha ocupada que vai estar ajudando. Hoje é sexta, ela dorme mais tarde e ficaremos grata se você a cansasse por nós.

— Acho que posso fazer isso — sorriu para Kelly.

Jenna passou horas brincando com menininha que se mostrou muito falante. Estar com a Esme até a fez esquecer que estava nervosa e que em algum momento Emma chegaria e tentaria conversar com ela.

Mesmo se Emma tentasse evitá-la, a mandasse embora, gritasse ou a xingasse, não iria desistir dela. Não dava para desistir da pessoa que a trouxe felicidade em pouco tempo, que acalentou seu coração e que a mostrou que ela seria capaz de amar de novo.

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Os capítulos vão ficar menores agora, mas não murmurem.

Até o próximo capítulo!

Muito Bem Acompanhada - JemmaOnde histórias criam vida. Descubra agora