014

778 95 23
                                    

Há pelo menos uma hora, Jenna estava olhando o convite de casamento de Luiza e Alice que havia chegado em seu e-mail algumas semanas atrás. Ela lia e relia sem parar como se já não tivesse decorado tudo aquilo que estava escrito. Cada vez que passava os olhos pela tela do celular, o nervosismo crescia dentro de si e com ele vários outros sentimentos que em sua maioria eram saudosos.

O jeito que aquele convite estava a deixando nem tinha tanto a ver com o casamento em si, mas sim porque tinha que marcar se iria levar um acompanhante à cerimônia ou não.

Ninguém deveria ficar tão aflito sobre ir em um casamento sozinho, mas Jenna estava. A madrinha de casamento de Alice seria Emma. E esse era o real motivo para seu atual estado de nervos.

Já havia se passado um ano desde que esteve numa situação similar a essa. Um ano que contratou uma acompanhante de luxo e se apaixonou por ela. Um ano que tinha magoado Emma. E um ano que não se viam ou se falavam.

A frequência como o presente podia repetir o passado era até impressionante. Um raio podia cair sim duas vezes no mesmo lugar. Mas a questão agora não era sobre ir sem ninguém. Agora se perguntava como olharia Emma depois de longos doze meses longe dela.

Estava há poucos metros de chegar no local que Alice e Luiza haviam alugado para a festa em Midvale. Os convidados de honra ficariam o fim de semana hospedados em um luxuoso hotel a beira mar. E Jenna tinha que enviar logo seu convite, pois o casamento estava para acontecer no dia seguinte a tarde e seu prazo para decidir estava no fim.

Sabendo que tinha adiado aquilo o suficiente, marcou a opção mais viável  e reenviou o e-mail.

Iria só.

Nesse longo período, não parava de se perguntar se Enma tinha encontrado alguém e tivesse curado um amor com outro amor. Seria triste vê-la acompanhada, mas, se acontecesse isso que tinha tanto medo, teria que aceitar que a perdeu para sempre. Doeria como um inferno vê-la com alguém. Só que esse foi um risco que assumiu quando disse a ela aquelas coisas. Pelo menos, durante a noite teria a despedia de solteira de Alice e Lu, poderia usar isso como desculpa para encher a cara e chorar de tristeza.

Ainda com o celular em mãos, viu uma mensagem de Alice pedindo que quando chegasse a encontrasse na cafeteria do hotel. Achou aquilo estranho, pois quando falou com Luiza minutos atrás — Lu cobrou a resposta do acompanhante — ela disse que estava com Alice verificando os últimos detalhes da cerimônia e por isso só se veriam na despedida que seria numa boate.

Respondendo a mensagem com um "Ok", foi alertada por seu motorista que haviam chegado.

O hotel escolhido era bastante bonito e extravagante, mas era algo que combinava com o estilo das duas noivas. Pelo que ficou sabendo, quem as ajudou a escolher o local foi Emma. Quando visitou Midvale, não fazia ideia de que poderia haver um lugar assim, mas tinha que confessar, a cidadezinha tinha seus encantos e surpresas.

Depois de fazer o check-in, foi para seu quarto. Lu tinha feito uma excelente escolha ao colocá-la de frente para o mar. Após pendurar o vestido que usaria na cerimônia e dar uma gorjeta ao rapaz que levou suas malas, saiu do quarto para procurar pela cafeteria. Minutos depois, estava sentada em uma mesa no canto que era bem iluminada pelo sol.

Distraída enquanto avisava Alice que já estava a esperando, não percebeu que alguém vinha em sua direção. Ao se dar conta que um corpo se esgueirava para sentar a sua frente, olhou para a mulher e sentiu seu corpo gelar.

— Vermelho combina com você — Emma disse com seus olhos azuis inquietos e um pequeno sorriso no rosto.

— Você aqui? — não era isso que queria falar, mas ficou nervosa o suficiente para não conseguir pensar direito.

— Alice me disse para encontrá-la aqui. E... bem, eu também sou madrinha desse casamento, então não seria tão estranho eu estar por aqui, não é?

— Desculpa — balançou levemente a cabeça tentando organizar os pensamentos. — É só que...

— Eu sei. Já faz um tempo — apoiou os antebraços na mesa.

— É. Um bom tempo.

As duas se olharam nos olhos ficando caladas. Tinham muitas coisas para dizer, mas estavam com medo de dizerem a coisa errada.

Jenna queria muito ultrapassar toda a barreira imposta por Emma e apenas abraçá-la. Porém, não faria nada por impulso. Já era bom estar a menos de um metro de distância da loira a vendo sorrir ao invés de vê-la com um semblante triste.

Os pensamentos de Emma não eram muito diferentes dos de Jenna. Tinha ideia que havia sentido falta da morena, mas agora a vendo tão perto é que percebeu que a saudade dela era muito maior do que imaginava.

Vendo que uma mensagem chegou em seu celular, Jenna desviou o olhar de Emma para poder lê-la. Assim que leu Alice dizendo que não poderia aparecer na cafeteria, pois teve que ir com Luiza resolver algumas coisas da cerimônia, sentiu vontade de estapeá-la. Ela havia armado aquele encontro.

— Sonsa — murmurou.

— O que?

— É que — deixou o celular de lado — Alice disse que não vai poder vir — se levantou. — Acho melhor eu ir.

Quando ia se afastar, sentiu uma mão quente pegar levemente em seu braço. Primeiro, olhou para a mão e depois para a dona dela que permanecia sentada. Por um segundo, sentiu seu coração falhar, mas logo começou a bater tão rápido que achou que ele iria escapar por sua boca.

— Fica — pediu com uma voz doce. — Porque não tomamos um café? Já estamos aqui mesmo.

— Emma, é... eu...

— Fica, Jenna. Eu estou pedindo pra você ficar e tomar um café comigo — percebeu que Jenna ficou indecisa. — É ruim a ideia de tomar um café comigo?

— Nada com você é uma ideia ruim, Emma.

— Então fica. Por favor.

— Tudo o que você quiser.

Emma não fazia ideia de onde tinha tirado coragem para pedir para Jenna ficar, mas queria que ela ficasse. Queria ao menos tentar conversar alguma coisa com ela como se fosse a primeira vez que faziam algo juntas. Queria conhece-la de novo.

Não fazia ideia que iria encontrar Jenna tão cedo, estava preparada apenas para vê-la na despedida de solteira do casal do ano. Ao olhá-la agora a sua frente, percebendo que sua perna direita tremia por ela estar nervosa, se sentiu da mesma forma que a encontrou a primeira vez em National City. Curiosamente, de um jeito parecido com esse.

Por longos minutos, Emma ouviu Jenna contando sobre como foi sua vida nos últimos meses. Basicamente, ela resumiu tudo ao trabalho. Quando Jenna quis saber sobre Emma, não falou muita coisa diferente dela, já que havia passado todo esse tempo apenas se dedicando ao restaurante — que estava indo muito bem por sinal. De qualquer forma, ambas se sentiam felizes por, finalmente, estarem conseguindo contar sobre suas conquistas e projetos uma para outra.

Todos os dias, uma das coisas que mais desejaram era ter a outra para partilharem suas alegrias. E ali estavam elas. Ainda que estivessem acanhadas, receosas e um pouco amedrontadas o suficiente para medir em suas palavras, essa era a primeira vez que se sentiam felizes depois de tantos meses.

As horas voaram estando juntas — internamente se lamentavam por isso. Não conseguiam parar sorrir. Não queriam sair daquela cafeteria por medo de tudo virar cinzas. No entanto, uma hora tiveram que deixar aquele lugar.

Lado a lado, as duas andavam pelo saguão em direção ao elevador. Apenas milímetros as separavam e tentavam se controlarem para não se tocarem.

— Parece cansada — Emma comentou quando viu Jenna bocejando pela décima vez.

Sim, ela estava contando.

— E estou. Muito trabalho e poucas horas de sono. Sem contar que a viagem até aqui não é curta.

— Deveria se cuidar mais — apertou o botão para chamar o elevador. — Não faz bem o que vem fazendo.

— Você acabou de me dizer que se dedica muito ao seu trabalho. Não faz bem o que vem fazendo.

— Prometo tentar melhorar — sorriu gentilmente.

— Então prometo fazer o mesmo.

Entrando no elevador, as duas foram apertar os botões de seus andares no mesmo instante, por causa disso, seus dedos se tocaram e seus olhares se cruzaram.

— Vai também para o quinto andar?

— Sim — Jenna respondeu se afastando um pouco de Emma enquanto ela apertava o botão, mas sem deixar de olhá-la.

— Que coincidência! Também estou nesse andar.

— É — concordou com a cabeça. — Coincidência.

E mais uma vez no dia, Jenna estava querendo estapear a prima e agora sua melhor amiga também, mas ao mesmo tempo queria agradece-las por tudo aquilo. Se não tivessem armado aquele plano, não teria tido uma tarde tão agradável ao lado de Emma.

Descendo no quinto andar, silenciosamente acabaram indo para a mesma direção no corredor. Suas mentes estavam borbulhando de pensamentos. Era muito mais barulhento dentro delas mesmas do que naquele extenso corredor.

— Eu fico aqui — apontou para a porta.

— E eu — Jenna apontou para a porte na frente da de Emma — fico aqui.

— Vo-o-cê vai para a despedia?

— Vou. Acho que nem Lu e nem Alice me perdoariam se eu não aparecesse para vê-las beber até esquecerem o nome — bocejou de novo.

— Elas me fizeram essa ameaça — Jenna riu do comentário e Emma a analisou por alguns segundos. — Deveria descansar. Assim vai aproveitar melhor a noite.

— Acho que vou fazer isso.

— Vou entrar — disse, mas sem nem se mover.

— Eu também vou. Não no seu quarto, no meu quarto — sorriu nervosa. Até que demorou falar alguma coisa movida pelo nervosismo. — Nã-não ri de mim — pediu quando Emma não se conteve. — Emma, não ri.

— É que você fica uma graça quando está nervosa. É difícil me segurar.

Tanto tempo sem ver e nem falar com Emma e ela tinha o mesmo jeito. O jeito que a fazia ficar nervosa.

Se durante a viagem até Midvale acabou adormecendo e as últimas horas foram um sonho, queria continuar dormindo, pois o que estava acontecendo era o começo de algo que vinha desejando há muito tempo.

— Vou entrar.

— No meu quarto? — perguntou à provocando. — Tudo bem — jogou as mãos para cima em rendimento. — Parei.

— Nos vemos mais tarde?

— Sim. Nos vemos, sim.

Por mais alguns segundos continuaram enrolando do lado de fora de seus quartos enquanto se encaravam. Então, Emma tomou coragem de abrir a porta e começar a entrar. Elas se olharam até que não se viram mais.

Fechando a porta, Emma se encostou nela respirando ofegante. Foi difícil se conter na presença de Jenna. E agora tinha a sensação de que havia corrido uma maratona e precisava urgentemente de oxigênio nos pulmões.

_____________

Voltei depois de algumas... várias... ameaças..........

KKKKKKK

Muito Bem Acompanhada - JemmaOnde histórias criam vida. Descubra agora