Capítulo 4

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"Calma, Klaus," Kara sussurrou enquanto esperava no centro da arena por sua pontuação. "Mantenha-se firme."

Ela acariciou seu pescoço musculoso, sem saber se estava tentando acalmá-lo ou desacelerar seu próprio coração acelerado. Os pensamentos giravam em sua mente como um tornado. O começo perfeito para uma boa pontuação. O tropeço repentino e de partir o coração. Seu chapéu voando de sua cabeça.

O ser etéreo que o pegou, com olhos que perfuraram o peito de Kara e a deixaram sem fôlego.

Quem era aquela mulher?

Kara sabia de uma coisa com certeza, ela não era regular no circuito de competição. Não havia nenhuma maneira no inferno de que Kara não a tivesse notado se seus caminhos tivessem se cruzado antes. Só de pensar na mulher, a faísca que Kara experimentou profundamente quando elas se olharam percorreu seu corpo mais uma vez.

Sério, o que estava acontecendo? Isso era diferente de tudo que ela já havia experimentado antes, e era um maldito incômodo. O momento não poderia ter sido pior. Kara estava no meio de uma arena, esperando os resultados de uma competição que ela havia fodido completamente, e com um prêmio em dinheiro na balança e uma oferta de emprego, tudo o que ela conseguia pensar era em uma garota?

"É uma pontuação de setenta e sete para o número doze onze de Rock Creek Valley, Wyoming", foi o anúncio pelo alto-falante da arena. "K. Zor-El Montando Klaus."

Setenta e sete pontos. A notícia deu um soco no estômago de Kara. O placar foi suficiente para chegar à final, mas por pouco.

"Bom trabalho, pequeno", disse Kara, sem culpar seu cavalo por seus próprios erros. "Não se preocupe. Vamos arrasar na próxima rodada."

O cavalo bateu um pé como se dissesse: "Inferno, sim!"

Kara apertou levemente os calcanhares nos estribos, tudo o que foi necessário para que Klaus soubesse que era hora de voltar pelo portão, onde uma boa escovação e algumas fatias de maçã seriam sua merecida recompensa do dia. Ela pressionou o chapéu firmemente na cabeça quando saíram da arena, mas resistiu à vontade de se virar e procurar a mulher no meio da multidão. Ceder à tentação não a levaria a lugar nenhum.

Assim que passaram pelo portão e ficaram fora da vista da multidão, Kara desmontou e conduziu Klaus pelo resto do caminho de volta à sua baia. O desânimo pesava um pouco mais sobre ela a cada passo.

"Corrida difícil." J'onn tomou as rédeas dela, abstendo-se graciosamente de dizer eu te avisei .

"Ele hesitou na virada. Maldito seja, sei por quê, mas deveria ter percebido antes e tirado ele dessa situação." Kara arranhou a lateral do rosto de Klaus, bem no lugar que fez o elegante árabe praticamente se transformar em uma poça de alegria equina. "Vou ver se consigo alguns horários extras de treino para esta noite, repetir todas as sequências novamente até que a rotina esteja perfeita."

J'onn assentiu em silêncio. Ou ele não tinha visto o incidente com o chapéu ou foi educado demais para mencioná-lo. Provavelmente o último. Nada passava por esse velho idiota.

"Os cavalos são como as mulheres", disse ele, pegando uma escova e testando a rigidez das cerdas com a ponta do dedo nodoso antes de entregá-la a ela. Foi um comentário estranho, e Kara se perguntou se talvez ele não fosse muito educado para mencionar o incidente do chapéu, especialmente a mulher que pegou. Kara preferiu não discutir nenhum dos dois casos. Ela não gostava de ficar mortificada.

"Estou começando a entender por que Sylvie o deixou, meu velho, se a sua ideia de ser charmoso era dizer a ela que ela lembrava um cavalo." Era o tipo de zombaria gentil que os dois faziam o tempo todo no rancho, mas Kara parou, preocupada que seu próprio mau humor a tivesse levado longe demais e ela tivesse atingido um ponto sensível. "Desculpe. Eu não deveria ter dito isso."

"Está tudo bem." Ele soltou uma risada baixa e gentil. "Depois de vinte e seis anos, posso rir disso. O que eu quis dizer foi que os cavalos precisam ser mimados às vezes. Trabalhe demais e eles se desgastarão. Você dá a eles um pouco de diversão, um tratamento legal, e eles te agradeceram com resultados impecáveis."

Os olhos de Kara se estreitaram. "Você acha que estou trabalhando demais com Klaus?"

"Acho que você está trabalhando demais, mocinha."

"Oh. Bem." Os ombros de Kara tremeram com uma risada silenciosa. "Da próxima vez que estiver em Beverly Hills, com certeza reservarei uma manicure e pedicure."

"Brinque o quanto quiser, mas você está em Las Vegas neste minuto e tudo o que consegue pensar é em algumas horas extras de treino." J'onn lançou a Klaus um olhar que sugeria que ele esperava que o cavalo ficasse do seu lado. "Talvez se você se der um tempo livre e viver um pouco, você acabe em melhor forma para a próxima rodada do que se trabalhar duro."

Havia uma pequena parte de Kara que sabia que J'onn tinha razão, mas ela era teimosa demais para admitir isso, até para si mesma. Se Kara tivesse aprendido a costurar direito, ela teria bordado um travesseiro com o lema Vou descansar quando estiver morta. O trabalho duro era a única coisa que ela conseguia entender, e sua crença de que isso valeria a pena estava no mesmo nível de qualquer credo religioso.

"Agradeço o conselho, mas estou aqui sozinha e não acho que nenhum dos cassinos ou shows me deixarão trazer um cavalo como acompanhante. A menos que você esteja me convidando para sair." Kara ergueu uma sobrancelha, rindo da forma como isso fez o velho corar. "Quero dizer, você não é meu tipo habitual, mas..."

"Mas aquela garota na plateia com certeza era." J'onn não poderia parecer mais presunçoso se tentasse.

"Caramba." Kara manteve os olhos focados no pelo de Klaus, dando longas escovadas. "Eu sabia que você era muito esperto para ter perdido isso."

"Minha visão não é a mesma, mas eles colocaram o replay naquele jumbotron. Eu não precisei de óculos para ver como você olhava para ela, garota."

"Jumbotron?" Porra. Isso significava que toda a arena tinha visto. "Não sei o que você acha que viu, velhote, mas ela é apenas uma estranha que me entregou meu chapéu."

"Aposto que poderíamos encontrá-la em cerca de cinco minutos se você abandonasse a rotina teimosa e vive-se um pouco." J'onn cruzou os braços, oferecendo um olhar de desafio. "Vá esperar na porta principal e pegue-a quando ela sair. Ofereça-se para pagar uma bebida para ela por resgatar aquele pedaço de merda esfarrapado que você insiste em usar na cabeça."

"Sim, isso não seria assustador. E este é o meu chapéu da sorte." Quando Kara colocou a mão protetora no topo de seu amado chapéu, uma imagem se formou em sua cabeça de que ela faria exatamente o que J'onn havia sugerido. Ela balançou a cabeça rapidamente, afugentando a imagem. "Talvez esse tipo de coisa funcionasse na sua época, mas os tempos mudaram."

"Não tanto quanto vocês, idiotas, gostam de pensar." O uso da palavra 'idiotas' foi um grande indício de que J'onn não estava levando essa conversa muito a sério, provavelmente por isso que Kara o deixou continuar em vez de encerrá-la. "Você conhece uma garota de quem gosta e a convida para sair. Simples."

"Sim, bem, ao contrário de quando você era jovem e podia simplesmente bater na cabeça delas com um porrete e arrastá-las de volta para sua caverna, hoje em dia é uma boa ideia garantir que seu interesse seja correspondido primeiro."

"Ah, acho que era." J'onn bateu com o dedo abaixo de um olho, dando a Kara um olhar astuto. "Eu sei o que vi."

"Isso é..." Kara pigarreou, surpresa ao descobrir que estava seca e áspera. "Sabe, eu provavelmente precisaria de uma bebida."

"Vê?" J'onn sorriu. "Agora você está sendo inteligente."

"De água. Pra mim mesma." Kara colocou a escova de volta na caixa e verificou a alimentação e o abastecimento de água de Klaus antes de abrir o estábulo. Ela fez sinal para que J'onn fosse primeiro. "Se você quiser fazer um tour por aí , vá em frente. Vou reservar aquele tempo extra de prática como eu disse e depois subir para o meu quarto para tomar um banho quente."

J'onn suspirou. "A juventude é desperdiçada pelos jovens."

Poderia ser que ele estivesse certo, mas Kara tinha certeza de uma coisa. Ela tinha um propósito maior agora, e esse tropeço a colocou perigosamente perto de deixá-lo escapar. Por mais tentadora que fosse a promessa de diversão, Kara não conseguia perder de vista o motivo de estar em Las Vegas, e isso não envolvia ficar louca por causa de uma garota.

KARLENA - Viagens&EmoçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora