Capítulo 6

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"Aí está meu lindo rapaz," Kara murmurou em sua voz mais suave ao entrar na baia de Klaus. Dado que era noite e a competição havia terminado, o lugar estava estranhamente silencioso. Klaus bateu o pé e aninhou a cabeça na lateral de Kara enquanto ela se aproximava, grato pela companhia, sem dúvida. Ela não conseguia se livrar da sensação de que ele estava triste. "Não há necessidade de se desculpar, amigo. Não foi sua culpa você ter tropeçado lá mais cedo."

Kara repassou mentalmente aqueles segundos pela milésima vez, tentando identificar o momento exato em que tudo deu errado. Ela se virou rápido demais? Seus sinais não eram claros? Ou talvez o problema fosse que o chapéu dela não estava bem colocado. Fosse o que fosse, eles trabalhariam nisso durante o treino desta noite e acertariam em cheio. Havia muita coisa em jogo para não o fazer.

Kara fechou os olhos, revivendo aquele instante em que seu chapéu levantou da cabeça e voou. Ela andava a cavalo desde que tinha idade suficiente para andar, e também usava chapéu na maior parte do tempo. Ela não conseguia se lembrar de ter acontecido algo assim antes, tão completamente do nada, sem o menor sinal de vento. Ela estava usando seu chapéu da sorte, aquele que envolvia sua cabeça como se fosse parte dela. Não houve nenhuma indicação de problema até que ele literalmente voou pelo ar.

Nas mãos da mulher com olhos ardentes.

A lembrança daquele encontro, por mais fugaz que tenha sido, colocou o corpo de Kara em chamas. Há quanto tempo ela não desfrutava da companhia de uma mulher em sua cama? Kara honestamente não conseguia se lembrar, porque a frequência era rara e os encontros em si eram fugazes.

O pai de Kara costumava dizer que a pecuária era um mundo masculino. Aconteceu que ela não concordava com ele, acreditando que não havia nada que um homem pudesse fazer que uma mulher não pudesse fazer de trás para frente usando salto alto - não que ela mesma usasse aquelas terríveis engenhocas, mas era uma citação que ela uma vez viu em um jornal. pôster da dançarina Ginger Rogers, e Kara imediatamente transformou isso em seu lema de vida. Por outro lado, Kara ainda não tinha conhecido uma mulher que quisesse mais da vida no rancho do que um ocasional passeio a cavalo ao pôr do sol e qualquer besteira que eles achavam que sabiam sobre ranchos pela televisão. Um pequeno vislumbre da realidade as fazia correr sempre.

Klaus deu-lhe outro carinho, fixando-a com aqueles grandes olhos escuros, como se quisesse dizer que nenhuma mulher poderia ser mais leal do que ele.

"Você está certo sobre isso, Klaus." Kara deu um tapinha em seu pescoço. "Honestamente, não sei por que tantas pessoas insistem em relacionamentos românticos com outros humanos. Prefiro ter um cavalo como parceiro. Você sempre sabe do que preciso e nunca me deixou em apuros."

Klaus enfiou o nariz em seu peito, cheirando e mexendo a boca para pegar as guloseimas que ele sabia por experiência própria que ela havia escondido ali. Ele pode ser um trabalhador esforçado, mas nem mesmo ele fazia isso de graça.

"Está bem, está bem. Talvez você seja mais parecido com um humano do que eu acredito." Kara tirou uma pequena maçã do bolso interno do colete. Ela abriu o canivete e cortou uma fatia, dando a Klaus seu presente noturno. "Depois disso, voltaremos ao trabalho."

Klaus soltou um som tão parecido com um suspiro humano que pegou Kara completamente de surpresa. Foi seguido por uma risadinha. Kara congelou, com o coração disparado. Klaus podia ter um número surpreendente de qualidades humanas, mas de jeito nenhum seu cavalo era responsável por aquele som específico.

"Tem alguém aí?" Kara chamou, irracionalmente temeroso da resposta de alguém que não se assustava facilmente ou não acreditava em fantasmas.

"Eu não sabia que os cavalos podiam suspirar."

KARLENA - Viagens&EmoçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora