𝐆𝐀𝐑𝐎𝐓𝐀 𝐃𝐎𝐒 𝐒𝐎𝐍𝐇𝐎𝐒 𝐌𝐀𝐋𝐈𝐆𝐍𝐀 ━━ eles entendem não apenas o mal, parecia, mas também a extravagância de truques pelos quais o mal se apresenta como bom.
Ela, um pesadelo disfarçado de sonho...
Andromache fascinou e despertou suspei...
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CAPÍTULO 1 ───────────────── Domingo, 15 de outubro, 1978
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A tempestade chegou à costa nordeste da Escócia mais cedo do que o esperado, tornando até mesmo a luz do dia difícil de atravessar as nuvens escuras que pairavam sobre o céu. A chuva golpeava os vitrais da Avery Manor nas terras altas de Inverness. Parecia que a própria natureza ecoava a angústia que se instalara uma semana antes, quando Andromache se trancara em seu quarto.
Com um olhar vazio e uma mente agitada, ela mordiscava os lábios, sem perceber o gesto nervoso. A inquietação havia consumido sua alma; as mãos tremiam mais do que o habitual ao pintar um quadro, a tinta dourada pingando em seu vestido preto, manchando a delicada seda que fora tão cara.
Seus longos cabelos, com poucas ondulações, tão escuros quanto uma noite sem luar, caíam sobre os ombros até a cintura, adornados com pequenos cristais entre os fios. Sua pele macia e pálida, bochechas levemente rosadas pelo frio, realçavam os detalhes mais delicados e harmônicos de seu rosto sereno, atento a cada pincelada dada à tela quase finalizada.
Andromache era tão delicada quanto qualquer retrato ou porcelana já pintado ao longo dos tempos.
Inspirando profundamente, ela absorveu todo o ar que seu peito permitiu antes de soltá-lo suavemente. Seus ombros relaxaram, e ela ajustou a postura, afastando os cabelos do rosto antes de dar a última pincelada. Um sorriso satisfeito iluminou seus lábios ao contemplar o retrato de sua família.
― Incansavelmente dedicada, que orgulho! ― ressoou o timbre pelo cômodo, frio e profundamente sarcástico.
Ninguém nutria ódio maior por Athos Avery do que sua própria irmã.
Ciente disso, um sorriso autoconfiante traçou-se até o canto de seus lábios caminhando quarto adentro. Seus olhos percorreram as cortinas pesadas nas janelas e a gigante estante de livros cobrindo uma parede inteira.
Athos afundou-se na poltrona por trás do quadro, acendeu um cigarro, e dispersou a fumaça com um gesto casual da mão.
― Você não parece feliz em me ver.
― Deveria estar? ― retorquiu, guardando os pincéis e limpando as mãos em um lenço. ― O que o traz de volta? ― sua pergunta foi retórica, mas a resposta de Athos poderia ser qualquer uma.
― Para te lembrar de que não precisa fazer votos em todos os aniversários de nosso pai ― respondeu de maneira desdenhosa, derrubando as cinzas no assoalho propositalmente. ― Não nos importamos com votos, muito menos se eles vêm de você, Andy.
― Foi ele quem me pediu ― Andromache levantou-se, virando-se de costas para o irmão, sentindo o olhar dele pesar sobre seus ombros. ― Desculpe por roubar seu lugar, Athos.
