rehab

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Uma clínica de reabilitação nunca será nem de perto um lugar aconchegante ou pacífico. A energia do lugar é sempre meio caída. Recheada de pessoas fodidas, não era lá um resort de paz e boas vibrações.

O processo de negação é muito longo. Seu corpo e mente fazem um esforço para que você odeie tudo e todos. Odiar aqueles que trabalham ali, é como se dificultar o trabalho deles fosse sua vingança, mas você sabe que isso só atrapalha você mesma, mesmo assim você faz. Odiar aqueles que te colocaram ali, mesmo que você saiba que essa era a solução e que não tinha mais jeito, você manipula suas lembranças para que você consiga se encher mais de ódio, e odia-los por terem te colocado ali.

Faz parte do processo. Pelo menos do seu.

Nas primeiras semanas você não fala nada. Absolutamente nada.

"Pode se apresentar para nós" o rapaz que faz o exercício, do grupo de reabilitação, fala para você.

O silêncio absoluto o faz sorrir.

As pessoas sentadas em um círculo. Observando você.

"Tudo bem, não tem problema. Leve seu tempo. Estamos aqui para você, caso queira compartilhar."

Você revirou os olhos.

Pensando em como atrapalharam sua carreira. Era para você estar na Itália, você conseguiria lidar com isso, você estava fazendo isso. Em negação, mas estava, iria fazer.

Enfim, as mentiras que você contava para si mesma.

Odeia a positividade de quem está trabalhando lá. Odeia quem está lá e quer fazer amizade.

Odeia tudo.

O lugar tem um jardim lindo, mas que você se força a odiar também. Não quer achar nada bonito nesse lugar. Você quer sair. Sair dali. Imediatamente.

Havia uma árvore imensa no meio do jardim. Você passava as tardes ali, lendo. Todas as porras do dia, alguém aparecia para quebrar o silêncio.

"Por que você está aqui?" Um senhor perguntou.

Ele era velho. E estava numa clínica de reabilitação? Jesus. Seria essa a prova de que esses programas não funcionam mesmo? Que merda de ironia. Chegar aos 70 e ainda ter que ser internado.

"Férias" você responde.

Ele ri. Genuinamente.

"O que você faz?"

Você balança o livro na frente dele.

"Não, eu digo..." ele faz o que você estava querendo evitar, senta-se ao seu lado "o que você faz da vida?"

"Fico chapada para esquecer os problemas da minha vida. E você?"

Ele assente, processando as informações.

"Você é cética"

"Essa sou eu no meu momento mais feliz, acredite"

Ele ri novamente.

"Você está entediada, é só isso"

Você suspira.

"Só isso?" Você repete, "não porque estou internada contra a minha vontade, e sim porque estou entediada" você arqueia os lábios "faz total sentido"

Ele fica em silêncio por um momento, esfregando as mãos trêmulas e manchadas, sobre as pernas.

"Você ainda não respondeu minha pergunta..."

Você olha para ele de canto de olho. Talvez se você responder de uma vez, a conversa morre e ele te deixe em paz.

"Sou atriz"

FATAL FAME - PEDRO PASCALOnde histórias criam vida. Descubra agora