pedro

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Ele se lembra perfeitamente. As luzes fracas e indiretas do ambiente, as vozes de conversas paralelas dos convidados, o gosto forte da vodka do drink que ele bebeu, a música do ambiente que era algo que fazia com que ele flutuasse. Era Wicked Game de Chris Isaak, em um arranjo muito peculiar, mas que fez com que ele parasse imediatamente e procurasse da onde vinha aquele som. De repente, nada mais tinha importância naquela sala.

Era você. Ele nunca vai esquecer. Ele podia jurar que sua voz estava alcançando lugares na mente dele que ninguém jamais ocupou. O seu arranjo de notas era tão autêntico, você transformou aquela música em algo muito particular. Ele ouviria você para sempre.

Para um homem que borbulha todo tipo de sentimento, não acreditar em amor era ceticismo. Mas acreditar em amor à primeira vista era infantil. Vivendo a realidade dele, sendo quem ele é, levando a vida que ele leva, ele já havia desistido de amar há muito tempo atrás. Perder o tempo focado no trabalho era a melhor coisa que ele poderia fazer. Construir um sonho, que ele dividiu com sua mãe, e fazer dele a sua realidade, se tornou algo tão necessário, que as vezes ele se sentia como um cavalo com cabrestos e antolhos.

Como ele poderia saber quem era a pessoa certa? Como confiar em alguém? Como diferenciar quem se aproxima por conveniência ou interesse? Como ele poderia se abrir e amar tão fortemente alguém, que ele não saberia se estaria disposto a se derramar nele, como ele era disposto a se derramar em tudo que ele tocava? A lógica era tão básica quanto a matemática, se você não ama, você não se machuca. E, convenhamos, ele é intenso demais para viver nesses tempos e nessa vida que ele mesmo escolheu para ele.

Quem estaria disposto a endossar tamanha autenticidade? Quem estaria disposto a aceitar a maturidade de assumir ser imaturo? Os olhos dele sempre deixaram claro que ele ainda vê o mundo com olhos de criança, e estava longe de se importar em ser um problema.

As coisas e circunstâncias encheram o coração latente dele de conformismo. As vezes a melhor escolha é estar sozinho, do que empurrar alguém para esse mundo cheio de padrões e julgamentos que ele aprendeu a viver. Para toda escolha existem renúncias, e felizmente, apesar de tudo, ele aprendeu a ser sozinho. Em termos, porque estava sempre cercado de pessoas. Família e amigos. A comodidade também havia se tornado uma grande aliada.

Ele estava conformado de talvez, nunca encontrar alguém que não mude a forma de falar ou se comportar pelo simples fato de ele ser ele. A não ser aqueles que ele já conheceu, ou que o conhecia antes de ele ser o que ele se tornou hoje. Já estava conformado em talvez não encontrar alguém para dividir a vida lado a lado. Já estava conformado em pensar que talvez ele já tenha conhecido o grande amor da vida dele e tenha deixado passar, tenha deixado escapar, escorregar por entre os dedos.

A idade batia a porta, e ele estava feliz em recusar, em não atender as chamadas. "Você precisa de estabilidade", "Com todo esse dinheiro e ainda não comprou uma casa?", "Você não quer uma família para chamar de sua?"... por que se preocupar em tentar encaixar um triângulo em um quadrado? Ele não era normal, muito menos convencional, é claro que ele tinha seus princípios, suas convicções, seus desejos, ele não queria ser o diferentão, a quebra se padrões, não era isso, mas ele era uma pessoa muito ímpar e ele sabia. E não pretendia abrir mão disso.

Mas não é fácil ignorar o fato de que ele era um homem, apesar de tudo. Com necessidades e interesses. Poderia até ser conformado com muitas coisas, mas ele não era alheio a nenhuma delas.

E então, ele conheceu você. Sem explicações. Sem avisos.

Destruindo todo e qualquer tipo de paradigma. Naquela noite ele sabia que nada mais iria ser o mesmo, uma voz sussurrava dizendo que não havia como evitar, a intuição dele dizia que aquela era a mudança, a reviravolta que ele não conseguiria se esquivar, poderia não ser ali, poderia não ser naquele mês, naquele ano, mas iria ser você e ele não conseguiria evitar.

FATAL FAME - PEDRO PASCALOnde histórias criam vida. Descubra agora