Capítulo 2 - Luizinho e Gaguinho

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"Rogo não deixá-lo

Ou voltar após seguí-lo."


Portland era um lugar bom em sua essência, dava para ser tão discreto quanto possível, Stefan não lembra quanto tempo ficou dirigindo aquele carro, mas ele dirigiu sem parar até que chegassem em uma farmácia.

Stefan procurou comprar todo o necessário — tintas para cabelo, lâminas de barbear, um par novo de meias listradas para cada um e band-aids — e seu irmão acordou no banco do carro enquanto Stefan pagava os produtos, o pequeno acordou desesperado, e seu irmão lhe fez um sinal de dentro do estabelecimento, avisando em um sinal "só deles" em língua de sinais, que queria dizer "Estou com você." era a forma de assegurar seu irmão menor que tudo ficaria bem, foi a forma deles conversarem sem que sua mãe notasse, pois a mãe dos meninos nunca tinha nem levado língua de sinais em consideração.

Stefan já achava interessante e fez as aulas de língua de sinais no período que moraram na Alemanha, por ser obrigatória na escola em que passou alguns meses por terem uma aluna surda, a qual curiosamente fora a garota que Stefan se interessou, a que ele se esforçava para se comunicar na linguagem dela, não que ele realmente se importasse com ela. Mas ele queria praticar o que ele tinha aprendido.

Os poucos meses com prática frequente, e um pouco mais de prática quando com a família ou em viagens, fizera Stefan ser quase fluente, e ele ainda tinha um pequeno livro com todos os sinais que poderia alojar dentro de 250 páginas, e que ele fez questão de ensinar para o pequeno "Cole", para que eles tivessem um ao outro em alguns momentos de necessidade, onde sua mãe não deveria os entender.

Não que eles fossem carinhosos, porque não eram. Não tinham tempo pra isso, mas ambos entendiam que o tempo que dispendiam naquele aprendizado, era a forma deles de dizer que se importavam um com o outro, e o " estou com você." era sua forma mais completa de dizer "eu te amo", de mostrar ao outro que suas existências importavam para alguém em algum momento de suas não-vidas.

Então os olhos que estavam já lacrimejando do irmão menor se acalmaram ao ver aquele simples gesto de Stefan, então ele pegou o que tinha acabado de comprar e entrou no carro, já tentando se preparar para explicar o que tinha acontecido e...

— Pensei que você tivesse explodido com a mamãe, mas eu lembrei que...que ouvi você tossindo por causa da fumaça e ouvi a mamãe dizer adeus. - O menor disse assim que Stefan fechara a porta e fizera menção de falar. - Que bom que não - Ele deu um sorriso brilhante que fez o mais velho querer sumir por um instante, ele havia dito o que tinha acontecido com tanta naturalidade.

Mas então é claro, lhe caiu a ficha. Ele não era uma criança como as outras das que eles às vezes viam em programas de televisão dos hotéis em que casualmente ficavam, o pequeno não tinha tido uma criação comum. Era tão fugitivo quanto o mais velho. Ele não precisava explicar nada, seu irmão já tinha entendido tudo.

Seu irmão se lembrava de tudo, exceto por um mínimo detalhe — fora Stefan quem colocara fogo em Mary, que ouvira sua mãe em seus últimos suspiros ensinar Stefan onde colocar fogo no carro para que ele pegasse fogo por mais tempo, e assim não explodisse quando ele pusesse fogo no veículo.

Stefan, na verdade, agradeceu pela sorte de seu irmão mais novo não ter se lembrado desse detalhe, ou apenas não tê-lo comentado ao falar do incidente.

— Ei, eu tava pensando nos nossos nomes novos, que tal Luizinho e Gaguinho? - Stefan segurou uma risada e negou com a cabeça. — Claro que você vai ser o Gaguinho, senhor "Ga-ga-garotas!" — Então ele imitou o irmão mais velho quando tinha começado e tentado mostrar interesse em "amor", e o mais velho não resistiu a dar um soco brincalhão no braço do mais novo, que ria descontroladamente.

— Eu acho, só acho, que alguém está querendo ficar sem seus livros. — Neil ameaçou com a voz macia.

— É melhor deixarmos esses nomes para lá, né? — Ronnie riu nervosamente. — Podemos procurar uma escola para ninjas? Seria irado! Imagina só, eu vou te dar um raiá! — ele disse fazendo menção a um chute. — Todo dia, com minha perna esquerda super hiper mega poderosa!

— Pra isso você precisa ter uma perna esquerda super hiper mega poderosa, Sunny. — Stefan disse, chamando o irmão pelo apelido. — E você é um idiota, esses nem parecem nomes de verdade, sabia?

Sunny era um apelido simples, que significava justamente o óbvio. Stefan nunca foi muito criativo. Mas seu irmão mais novo sempre seria o sol para si. O motivo de levantar da cama e se manter lutando, o apelido poderia passar despercebido por qualquer um, mas para os irmãos significava cumplicidade.

— Parecem sim! Você que tem mal gosto. — O menor fez careta e deu de língua pro irmão que dirigia.

— Se você diz, baixinho. — Ele umedeceu os lábios — Estamos indo pra um hotel, que tal cabelos castanhos e... — Ele fazia suspense enquanto batia as mãos no volante de forma que trouxesse emoção para o momento. — óculos!

— Tá brincando? — O menor quase pulou no carro e começou a fazer sua dancinha característica sentado no banco de passageiro do carro. - Eu vou usar óculos, eu vou usar óculos...Quem vai usar óculos? - Ele cantarolava heroicamente. — EU VOU USAR ÓCULOS!

Então o maior fez sinal para que o pequeno parasse, e então magicamente o menino se tornou um anjo em comportamento, ele ficou parado, mas sorrindo largamente, porque ele tinha uma vitória, uma coisa boa.

Quem dera pudesse continuar assim para sempre.

Príncipio das Raposas - Livro 1 (Os Irmãos Josten)Onde histórias criam vida. Descubra agora