Capítulo 7 - Eu posso jogar baseball, senhor grilo?

44 3 0
                                    

"Nada é permanente, exceto a mudança."

Millport.

Uma pequena cidade do Arizona, entre Phoenix e Tucson, com menos de 20 mil habitantes.

A cidadezinha e a noite combinavam muito bem.

Foi o que Neil notou quando começaram a caminhar pela cidade até que chegassem no esconderijo - o que queria dizer uma casa abandonada que Neil se apropriaria junto ao seu irmão.

O "esconderijo" era como os outros.

Um ambiente com espaço o bastante para que sobrevivessem e discreto o bastante para que não estivesse no radar de ninguém. Três cômodos em uma kitnet, um quarto, uma cozinha e um banheiro. Espaço esse que os irmãos quase não fariam proveito.

Eles tinham chegado e Ronnie ainda murmurava cansado.

— Neil, por que a gente não pode só colocar um lençol aqui e deitar?

— Porque a gente tem que ver se tem bichos e insetos, ou você quer que uma barata suba em cima de você? — Disse Neil fingindo que ia pegar Ronnie, o fazendo se arrepiar e dar um sorriso nervoso.

— Nojento! Você é nojento.

— Ei, não sou nojento. Mas o lugar tá abandonado, né. Temos que fazer uma vistoria antes de deitar aqui e dormir.

— Eu tenho pena de mim. — Coitadinho do Ronnie. — Neil riu e negou com a cabeça, passando uma vassoura no chão que já estava lá, jogada, como se esperasse a chegada deles por todo esse tempo, e de certa forma, estava.

— Isso, meu servo. Limpe todo o lugar, por favor. — Ronnie sentou e colocou os braços atrás da nuca.

Neil umedeceu os lábios e - se segurando muito para não dar um tapa fraco em seu irmão - continuou o que estava fazendo.

Ele teria que fazer de qualquer forma mesmo. E ninguém faria por ele. Muito menos seu irmão pestinha que fugia de qualquer trabalho.

Ele revistou tudo como se sua vida dependesse daquilo, porque realmente, se eles encontrassem algum bicho dariam o esconderijo para o bicho, seja lá o que ele fosse.

Neil suspirou aliviado quando não encontrou nada.

— NEIL! — A voz de Ronnie ecoou e Neil correu até ele segurando a vassoura como se fosse uma arma, usando um lenço no cabelo.

— Que foi? — Neil perguntou de olhos arregalados.

— Uma barata!

— ONDE? — Neil quase pulou pra cima da cadeira que Ronnie estava.

— Aí no seu pé!

Neil gritou e saiu correndo até quase ter pulado da janela do esconderijo, só então olhando pra sala e procurando o bicho.

Não tinha barata nenhuma, mas tinha a risada estridente de Ronnie.

— Ronald. — Neil olhou com os olhos estreitos pro irmão, enquanto o irmão segurava a barriga e ria. — Ronald. — Ele avisou novamente.

— Que foi? Conseguiu espantar a barata?

— Sem livros até semana que vem!

Isso não era nada. Mas Neil sempre tentava pegar alguns livros em bibliotecas ou tentava arrumar algo para Ronnie. Por mais que fosse um livro a cada seis meses, e o menor fosse obrigado a reler os livros, ou quadrinhos até que tivessem que os descartar.

— Você é muito chato, Neil! — Ronnie disse, mesmo não ligando muito, porque sabia que Neil não levaria aquilo a sério.

— Sou mesmo. Agora bora, vai se trocar, vamos dormir. Amanhã a gente tem um dia longo e precisamos conversar, baixinho. — Neil disse enquanto arrumava um lençol por cima do colchonete de solteiro que estava no chão, ele se deitou e percebeu que Ronnie ainda estava parado no canto.

Príncipio das Raposas - Livro 1 (Os Irmãos Josten)Onde histórias criam vida. Descubra agora