Capítulo 1 - La vie en Rose

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Já faziam três dias que eu não comia apropriadamente. Por algum milagre eu ainda não havia sido infectado, mas se a situação não melhorasse não era muito distante a possibilidade de morrer de fome.

Eu estava no bairro do Brooklyn quando tudo ocorreu e consequentemente não pude ir muito longe de lá. Já faziam 6 meses desde a desistência do governo em tentar controlar o surto. Não havia mais eletricidade, água encanada, internet ou qualquer tipo de recurso básico gerado por seres humanos. Pelo menos com o caos espalhado a expectativa de vida na terra aumentou mais cem anos com o fim da poluição em massa do meio ambiente.

Durante todo esse tempo estive sozinho, cheguei a encontrar outros sobreviventes por aí, ou grupos deles. Todavia eu não tinha intenção de viver! Quanto mais se esforçar para sobreviver. Eu só gostaria de perder a vida de forma tranquila sendo infectado e me tornando mais um zumbi sem consciência. Sem suicídio doloroso, sem morrer de fome ou quem sabe ser morto por um maluco tentando brigar comigo por comida.

Mas por algum motivo esquisito o universo impediu tragicamente qualquer possibilidade que eu tivesse de ser morto tranquilamente. Em um dia atípico, uma estranha coincidência ou quem sabe uma força mágica que impedia que isso acontecesse.

No fim, em algum momento a morte me encontraria. Merda! Eu só gostaria de poder dormir tranquilo, eu não tinha uma boa noite de sono fazia meses.

[...]

Não sabia que horas eram, muito menos que dia poderia ser, somente que faziam alguns meses. O sol estava começando a nascer e eu caminhava incansavelmente pela estrada fantasma que pouco habitava pessoas, recursos ou sequer zumbis. Não sabia como tinha ido parar ali, mas sabia que estava bem longe de alguma possível civilização.

Depois de algumas horas andando acabei encontrando um mercado abandonado na esquina da rua, eu tinha pelo menos alguma esperança de encontrar alguma comida enlatada.

Entrei no estabelecimento, que tinha a porta de vidro quebrada, como um sinal de que havia sido invadida anteriormente por alguém.

Eu não tinha armas para me proteger, afinal o único objetivo era simplesmente morrer. Então se algo acontecesse, eu estaria com sorte.

Caminhei lentamente através das prateleiras do mercado. Havia sangue seco espalhado pelo chão. E as prateleiras tinham um cheiro ruim e alguns vermes que se misturavam com a comida perecível causando um cheiro terrível no lugar. Abri minha mochila e saquei uma máscara que com certeza aliviaria o forte odor.

Ao fundo do corredor era possível observar uma prateleira com enlatados. Corro em direção ao lugar e ponho minhas mãos em uma lata limpa de salsicha enlatada e meus olhos brilham.

"Não se mecha!" - Direciono meus olhos a voz e vejo uma arma apontada pra mim.

Merda! Uma morte dolorosa? Sério isso universo... Levanto as mãos até a cabeça e falo.

"Eu só estou procurando um pouco de alimento! Não como faz dias, vou só pegar uma lata e dar o fora!"

Ele está sentado no chão, seu rosto está coberto por uma balaclava. Pelo seu corpo forte ele parece ser um homem de trinta e poucos anos. Em sua mão direita uma pistola está apontada em minha direção. Estava me perguntando porque o mesmo não tinha levantado e percebo o ferimento que sangrava em sua coxa esquerda.

"Você foi mordido?!" - Sua linguagem corporal se torna tensa. - "Não, caralho! Eu não estaria apontando uma arma para você se eu fosse a porra de um zumbi!"

"Eu sou médico! Posso te ajudar... se você me matar agora e ficar com esses ferimentos, pode infeccionar e você não vai muito longe."

Ele parece concordar e aponta a arma para uma direção. No caixa haviam alguns itens de primeiro socorro e algumas garrafas de vodca.

Me aproximo lentamente dele e o vejo abaixar as calças. O ferimento era bem pior do que parecia. Realmente não era uma mordida. Mais como um corte profundo!

"Como você conseguiu esse corte?" - pergunto.

"Sem perguntas!" - Ele afirma com o gatilho apontado sobre a minha testa.

Foco minha atenção na ferida e jogo metade da garrafa de vodca para limpar a ferida. Observo-o se contorcer de dor e comemoro por dentro, maldito! Não haviam agulhas ou linha para suturar, então o máximo que eu poderia fazer era esterilizar e enfaixar apertado o suficiente para estancar o sangramento.

Termino de enfaixar e o ajudo a levantar, quando percebo que ele abaixa a guarda, puxo a arma de sua mão e aponto em sua direção.

"Abaixe essa arma!"

"Por que eu faria isso?" - Destravo a arma e aponto para o seu rosto.

"Hey, doutor... você vai matar alguém que acabou de salvar?"

Ele puxa meu braço com força, disparo! Mas a arma estava sem munição. "Merda, esse maldito estava blefando!"

Ele enrosca seu braço no meu pescoço em um mata leão e aperta com força me fazendo perder a respiração.

"Desculpa, merdaa, desculpa!!!"

Sinto seu aperto afrouxar e ele me solta, cuspo no chão e coloco minha mão sob minha garganta sentindo o ar voltar. Começo a hiperventilar e meus olhos embaçar, merda! Crise de ansiedade logo agora.

Sinto um tapão forte na minha cabeça e volto aos meus sentidos.

"Tá locão é maconheiro?" - "Você ia me matar? Eu salvei você!"

"Você ia atirar em mim!" - Ele diz o óbvio. "Você apontou a arma para mim primeiro!"

Observo seus olhos virarem e o mesmo agarra suas coisas do chão e caminha mancando até a saída.

Enfio o que dá na mochila e o sigo apressadamente, mas ele não tinha ido muito longe por conta do ferimento.

"Espere aí..." - Corro ofegante em sua direção. "O que você ainda faz aqui?" ele responde irritado.

"Você sabe como sair desse lugar? Sabe onde estão os zumbis?" - Pergunto desesperado. "Eu não vejo uma alma viva faz uma semana!"

Ele definitivamente não era a pessoa ideal que eu gostaria de compartilhar a viagem, mas eu não via uma pessoa a tanto tempo que meu cérebro já estava a beira da loucura. Eu estava com medo de viver, mas mais assustado ainda de ficar sozinho.

"Por favor..." - Deixo meu orgulho de lado e imploro. "Se você se machucar eu posso te ajudar, não serei um peso morto, então... por favor me ajude a sair daqui!"

Ele não diz nada e só sai andando, concluo que ele não se opõe a ideia e começo a segui-lo a uma distância apropriada. Ele parece conhecer o caminho.

O sol começava a se por. Meus olhos se direcionam ao céu laranja e se enchem de lágrimas. Vejo as ruas vazias, o sangue seco espalhado pelo chão, os carros com vidros quebrados, as raízes e plantas florescendo sob o concreto e não consigo segurar a depressão que me paira.

Levo minha mão até a boca, me impedindo de fazer qualquer som, ele para de andar e olha para trás, pela primeira vez em horas. Seus olhos me observam com pena e ele parece por um segundo entender.

ZONA 313 - YUNGIOnde histórias criam vida. Descubra agora