CAPÍTULO 3: Um grande amigo de quatro patas

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Já estava ficando tarde, e eu não podia ficar tão tarde na rua. Estava me arriscando andando sozinha, mesmo que a rua estivesse vazia. Nunca se sabe o que está escondido nas sombras.

Peguei o mapa para analisar mais uma vez, e estava só a duas quadras do meu apartamento, finalmente. Minha mãe ficaria uma fera se descobrisse que estou tão tarde na rua. Bem, na verdade acho que não... Ela nunca se preocupou muito pra onde ia. Talvez o meu pai fosse ficar bravo como sempre.

No caminho eu encontrei um gatinho cinzento de olhos azuis. Ele estava sentado na calçada olhando fixamente para mim. Os olhos dele brilhavam como o luar, e ele não parecia ser arisco. Eu tentei me aproximar e tentar um meio de contato, fazendo gestos com a mão e chamando ele, até conversando: – Oi gatinho, o que está fazendo sozinho aqui a essa hora da noite? Está perdido? – Como pensei, eu não obtive nenhuma resposta. Na verdade, estranho seria se ele me respondesse.

Ele ficou apenas me observando dos pés a cabeça, talvez me julgando ou coisa do tipo, coisas de gatos. Quando fui me aproximar para tentar um contato, ele se virou e correu para a outra direção. – Eii, espera! – Era tarde, ele tinha fugido. Era uma pena, tinha achado ele simpático. Enfim, eu continuei caminhando em direção ao meu apartamento.

Denovo, os postes de luz, as casas e as árvores próximas eram a minha única companhia

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Denovo, os postes de luz, as casas e as árvores próximas eram a minha única companhia. Bem, eu nunca tive muita companhia além de minha amiga, mas agora é diferente. Estou realmente sozinha nessa cidade, sem conhecer ninguém. Antes ficar sozinha era uma opção, agora é só o que tenho. Nem sei se é certo que minha amiga ainda mora aqui. Espero que sim.

Ainda, nenhuma alma viva nas ruas. Achei estranho, pelo menos alguém eu deveria ter encontrado depois de caminhar tanto. Era como se estavam se escondendo de algo, ou alguém. Toque de recolher e ninguém me avisou? Espero que não. Odiaria ser multada ou presa. Talvez a cidade só seja pequena com poucos habitantes.

Estava começando a esfriar, apenas a minha jaqueta não era o suficiente para me aquecer. A madrugada consegue ser congelante nessa época do ano. Na verdade, parece mais gelado do que o normal. Posso acabar pegando um resfriado.

Por sorte, finalmente cheguei no meu apartamento. Ele tinha vários andares, não imaginaria que seria tão alto! Era melhor eu entrar antes que esfriasse mais, pois parecia que ia chover.

 Ele tinha vários andares, não imaginaria que seria tão alto! Era melhor eu entrar antes que esfriasse mais, pois parecia que ia chover

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Entrei na recepção do prédio, que era limpa, e muito bem cuidada. Me impressionei. Parece que aquela fama ruim do lugar não passa de boatos para afastar os turistas. Não tinha ninguém na recepção. Deveria ter pelo menos uma pessoa atendendo quem chegasse. Tinha uma televisão fora do ar num suporte na parede, onde só se via e escutava estática, que ecoava por aquela sala vazia. Na mesa tinham jornais e revistas, que com certeza foram deixadas ali recentemente, pelo carteiro talvez.

Olhei ao redor na tentativa de achar alguém, mas nada. Notei que tinha um bilhete sobre o balcão, que eu não aguentei de curiosidade e peguei para ler. Nele estava escrito "Alice Crimson: Quarto n° 73, localizado no 4° andar; Depois das 20:00 favor não fazer barulho para não incomodar os vizinhos. Obrigado pela compreensão".
Era um bilhete para mim. Com certeza foi deixado pelo proprietário do prédio pois sabia da minha chegada. Legal da parte dele, mas não deixa de ser inusitado.

Com o aviso dado, peguei a chave do meu apartamento no gancho, e subi para o 4° andar até o meu apartamento. O elevador estava em manutenção, infelizmente. Tinha uma placa e algumas fitas impedindo-me de usá-lo. Não me importei, e comecei a subir as escadas.

Os degraus eram de concreto, e os corrimões eram de ferro maciço. Deveria tomar o máximo de cuidado pra não cair das escadas, pois com certeza uma queda não seria nada agradável. Acabaria com meus ossos quebrados, ou então pior.

Cheguei no meu andar, e agora era só procurar o número 73. Passando em ordem crescente, 71... 72... Aqui! 73! Achei finalmente o meu apartamento. Peguei a chave, coloquei na fechadura e abri a porta, depois de muitas horas de viagem e caminhada. Precisava de um descanso.

Quando finalmente dei o primeiro passo, eu escutei um miado vindo de baixo. Olhei para baixo e era o mesmo gatinho cinzento que tinha encontrado na estrada a alguns minutos atrás! – Oi! Que coincidência te encontrar por aqui! Tudo bem, meu amigo peludo? – Estiquei a mão e ele me deixou acaricia-lo dessa vez. Uma vitória para Alice Crimson!

Entrei no meu apartamento, fechei a porta, coloquei a mochila sobre a cômoda e me deitei exausta na cama. Enfim tinha chegado!

O gato tinha se sentado na janela, e ficou me observando com seus belos olhos azuis, enquanto apenas descansava por alguns minutos. Não sei por que ele ficou me observando tão fixamente... Espero que não seja nada. Mas, ainda assim, foi muita coincidência a gente ter se encontrado depois de termos nos visto. Talvez nosso destino esteja interligado. Meus pais nunca acreditaram no destino. Talvez nunca acreditaram em nada que eu acredito. Só de pensar, fico um pouco cabisbaixa e pensativa...

Pelo menos, agora eu não estava sozinha. Eu tinha um grande amigo de quatro patas ao meu lado. Tenho certeza que seremos grandes amigos. Espero que ele goste de mim. Vou fazer de tudo para não perder ele também...

Continua...

Continua

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