Não sei como nem o porquê, mas eu estava em mais um daqueles sonhos de novo, mas agora estava diferente. Estava muito real! A Keiko não parece uma invenção da minha mente, ela é uma pessoa de verdade! Além do mais, nos sonhos nunca aparecem pessoas que a gente nunca viu na vida, e não me lembro de ter visto a Keiko quando acordada, nem mesmo que de relance. Eu estou com medo. Não sei o que está acontecendo, mas não posso deixar a Keiko para trás. Se eu tiver que passar por cima dessa coisa, é isso que eu vou fazer!
– Saia da minha cabeça! Já cansei dessa brincadeira!
Os olhos nesse momento apagaram e se transformaram em uma fumaça preta e obscura que cercou o meu corpo por completo, e estava tentando entrar pelas minhas narinas, boca e ouvidos. Não conseguia me proteger pois a Keiko estava em meus braços. O máximo que podia fazer era ficar de boca fechada e segurar a minha respiração, pois tinha que manter a Keiko sã e salva.
Uma das minhas pernas perdeu forças, me fazendo cair de joelhos sobre uma delas, porém me esforcei pra não cair com as duas de joelhos. Não quero sucumbir pra essa coisa.
Voltei a me levantar e olhei para a saída do beco que estava à minha direita, porém com aquela névoa escura iria ser difícil sair dali. Porém é melhor do que ser tomada por aquela sombra e acabar morrendo, ou pior. Segurei a Keiko firmemente em meu colo e estava me preparando para correr como nunca, mas aquela coisa não sossegava. Parecia que sempre que aquilo se aproximava minha pele começava a queimar, porém não como fogo, era a mesma sensação que se queimar por causa de algo com temperatura baixíssima. Era como hidrogênio líquido direto na pele, me fazendo congelar e sentir minha pele quase se despedaçando ao mesmo tempo.
Tentei primeiramente me livrar daquela névoa maldita, tentando dissipá-la dando chutes ou pisões, mas nada surtia efeito. Aquilo voltava numa velocidade muito alta, sem dizer que a cada tentativa falha minha pele ficava mais gelada, me fazendo tremer como se estivesse no polo norte. Decidi correr o mais rápido possível, protegendo a Keiko de qualquer perigo. Não me importo de me ferir. Ela tem que ficar a salvo.
Percebi que aquela coisa só me fere onde não estou protegida pelas minhas roupas, então vou usar isso como nossa vantagem. Tirei minha jaqueta e usei ela para cobrir as pernas da Keiko, e puxei as mangas de minha blusa para cobrir o máximo das minhas mãos possível, e encostei o rosto da Keiko no meu peito, o protegendo dos danos que aquela coisa poderia causar. Meu rosto acabou desprotegido, mas não me importo. É só eu correr o mais rápido que eu posso... E assim fiz.
Arranquei rapidamente, impulsionando meu calcanhar direito no chão, dando passos largos e rápidos, protegendo a Keiko daquela coisa. Aquilo percebeu a minha tentativa de fuga, e me perseguiu rapidamente, procurando por pele exposta no meu corpo. Na medida que eu corria mais e me aproximava da saída, aquilo ficava agressivo, começando a queimar o meu pescoço e o meu rosto furiosamente, me fazendo sentir uma dor inexplicável. Apesar da dor eu não parei, eu corri o mais rápido que eu pude. Minha pele parecia que estava despedaçando e rasgando, mas não podia parar de correr, eu tinha que continuar!
Minhas lágrimas caíam descontroladamente por conta daquela dor forte, e meus braços começaram a perder as forças, mas eu consegui sair de dentro do beco rapidamente, atravessando por uma barreira de névoa que me feriu mais intensamente, me causando muita dor. Depois de correr alguns metros na estrada escura e vazia, eu olhei pra trás e vi que aquela coisa tinha parado de nos perseguir. Eu parei de correr com as minhas pernas bambas e fracas, com meu rosto queimando. Eu simplesmente caí de joelhos com a Keiko em meus braços, sem aguentar mais ficar de pé. Passei as mãos em meu rosto que estava gelado, e tentei me aquecer um pouco. Algo me dizia que eu estava gravemente ferida... Eu olhei para Keiko, analisando pra ver se ela estava bem. Por sorte, ela não levou ferimentos muito graves, apenas leves ematomas no rosto, talvez pelo frio intenso. Quando eu garanti que ela estava bem, comecei a tontear e a me sentir fraca, então, eu caí e desacordei...
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Cicatrizes do Passado
FantastiqueAlice é uma jovem adulta de 19 anos, que se mudou recentemente para a cidade de Green Valley depois de sair da casa de seus pais para tentar viver uma vida mais sossegada. Nessa estória vocês irão ver todos os acontecimentos na perspectiva de Alice...