CAPÍTULO 11: Olhos azuis e brilhantes

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Despertei daquele chão gelado, tremendo naquele intenso frio europeu, com o beco escuro e vazio me cercando apenas. Agora a pergunta que não quer calar: Será que funcionou?

Me levantei lentamente do chão, tremendo de frio, sentindo falta da minha jaqueta que estava me protegendo desde o início dessa jornada. Agora eu estava arrependida de estar usando tênis, pois com certeza botas seriam mais úteis nesse frio intenso e impiedoso.

Ao meu lado estava o tal galpão que ela tinha mencionado anteriormente, porém sua porta estava entreaberta desta vez. Antes ela estava fechada e obviamente trancada. Minha curiosidade acendeu como uma chama escaldante no meu peito, que me carregava até a porta sem eu perceber. Mesmo que com um leve receio, eu abri a porta daquele grande galpão de concreto, porta essa que era de ferro, do qual parecia bastante resistente apesar da idade, e estava bem cuidada, sem nenhuma ferrugem aparente. Lentamente eu empurrei a porta para entrar, da qual quebrou aquele silêncio com o som de suas juntas rangendo e ecoando por todo aquele beco pequeno, que era formado apenas por um corredor com espaço suficiente para se caminhar e correr, mas também que era muito fácil de alguém ser encurralado.
O galpão estava escuro e muito difícil de enxergar qualquer coisa que poderia estar na minha frente. Ativei o interruptor, mas ao mesmo tempo que a luz ligou, ela queimou e se apagou. Às vezes eu sinto que tenho o toque de Midas, mas ao invés de transformar o que estou tocando em ouro eu acabo quebrando as coisas que toco e faço elas pifarem.

– É sério? Você escolheu queimar só agora que eu estou aqui? Lâmpada estúpida...

Parece que o que tinha dentro do galpão teria que ficar no mistério por enquanto. Mas, eu iria voltar assim que conseguisse uma lanterna ou coisa parecida. Às vezes um celular faz falta...

Dei meia-volta e me dirigi para a saída do beco, fechando a porta do galpão lentamente pra não fazer barulho e não chamar a atenção de alguém, mesmo sabendo que talvez eu estivesse sozinha. Mas, depois do que vi hoje, não sei se estou tão sozinha quanto deveria estar.
Eu olhei para o céu, e tudo que eu via eram nuvens escuras e amontoadas, escondendo todas as estrelas e a lua, fazendo ser difícil de se localizar através dos astros. Deve ser por conta da poluição da cidade, causada pelos próprios moradores. Desde que cheguei, alguns pontos da cidade estavam bem cuidados, mas outros estavam sujos e com cheiro de plástico queimado. Com certeza isso não é um bom sinal para a cidade. Mas, talvez esteja equivocada, pois moro no bairro que é considerado um dos piores, senão o pior. Afinal, não tive tempo pra visitar as partes bonitas da cidade ainda. Meu coração e alma falaram mais alto, me fazendo decidir o que era realmente importante no momento.

Aqueles muros de pedra ao meu redor, pouco iluminados e com algumas lâmpadas na parede que me guiavam não estavam me deixando com medo apesar de tudo que aconteceu. Ele me passava uma vibe tranquila e estranhamente relaxante. Apenas escutava meus leves passos naquele beco, ecoando assim que batiam nas paredes e voltavam, criando uma sonoridade que agradava os meus ouvidos. Eu nunca tive medo de ficar em ambientes assim, pois a solidão já era algo que eu enfrentava todos os dias, então esse cenário era algo comum para mim. Me faz me sentir segura e despreocupada, numa cidade onde parece que todos estão muito preocupados com o lado de fora. Estão constantemente com medo de sair para fora e viver, sabendo que se eles saírem correm o risco de não voltarem mais. Eu deveria ter esse medo também, mas, acho que ninguém sentiria minha falta. Mas, sentem a falta da Keiko, então não posso abandonar ela pra seja lá o que levou ela. Eu não suporto o sofrimento alheio, principalmente se for de pessoas boas com um bom coração.

Cheguei na saída do beco, com algumas latas de lixo transbordando no canto, com alguns ratos muito grandes fuçando na sujeira, procurando alguma coisa pra comer eu imagino...

– Que nojo... Não quero ficar aqui...

Cheguei na calçada, olhei para a direção onde se localizava a loja, mas ela não estava lá, a única coisa que tinha era uma porta grande de ferro, com uma placa que dizia "Olhe onde pisa!". O que será que isso queria dizer? Bem, não importa agora. Pelo menos agora eu sei que estou dormindo, definitivamente.

Cicatrizes do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora