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A semana que se seguiu foi diferente na vida de Kiyomi.

Para alguém que des dos 8 anos de idade estava acostumada a viver sozinha e cuidar de si própria, ter alguém que aparentemente se importava com ela, era algo inédito.

Ran Haitani estava se tornando alguém importante, por mais que ela não gostasse de admitir.

Ele não havia mais sido visto com outras garotas, apenas com Kiyomi. Ele saia de sua mesa no refeitório para sentar com ela, no intervalo liam livros juntos ou conversavam sobre eles.

O problema sobre tentar conquistar um coração, é que quando o seu não é blindado, você também é afetado, e era isso que acontecia com o Haitani mais velho.

A cada novo sorriso da garota, algo dentro dele sorria também. O fato era que Kiyomi era invejável, era doce e divertida quando dava abertura, e fazia algum tempo que ela não havia se aberto com ninguém, então o Haitani estava experimentando uma nova garota, uma que quase ninguém conhecia.

Mas também, uma parte depressiva do coração de Kiyomi insistia em sofrer sempre que Ran se sentava a sua frente com um livro novo e um sorriso.

"– Kiyomi! Veja o livro novo que trouxe pra gente ler! – A voz infantil do garoto dizia para a Kiyomi de 8 anos.

– Eu também quero irmão! – Disse a mais nova de cabelos claros ao lado.

Então vamos ler juntos! – Kiyomi sorriu, aqueles momentos eram perfeitos."

Por mais que Ran a estivesse fazendo bem, ele a lembrava de momentos dolorosos, momentos que jamais voltariam.

– Passei na livraria ontem e encontrei isso! – Ran sentou a frente dela no gramado, lhe estendendo um pacote, a garota o abriu curiosa, dando de cara com um livro novo "Como Eu Era Antes de Você".

– Já vi o filme desse – Comentou.

– Eu também, então quando vi o livro resolvi comprar – Ele deu de ombros – Podemos ler juntos, o que acha?

Ela sorriu minimamente.

– Claro.

O restante das aulas seria com período vago, portanto a dupla ficou lendo, Kiyomi lia as palavras e até interpretava levemente algumas cenas, Ran sorria de outras e questionava.

– Por que ela usa roupas tão berrantes?!

– Tenho certeza que tem um motivo plausível – Ela murmurou.

– Não consigo imaginar algo que me faça usar vermelho, amarelo e verde no mesmo dia.

– Admito que eu também não – Sorriu.

Ao longe, aqueles olhos observavam a situação. Como ela poderia estar se permitindo apaixonar por aquele garoto? Ela não sabia quem ele era e o que fazia? Como ele tratava as garotas com as quais ficava?

Algo dentro do peito dele se estilhaçava de pensar que o Haitani machucaria aquela que ele amava. Mas o que ele poderia fazer? Ela havia ido embora anos antes e nunca mais entrado em contato, apenas com sua irmã, ignorando todos os demais.

Talvez ele tivesse uma parcela de culpa, afinal, havia ficado com tanta raiva naquele dia... Como assim, a pessoa que ele mais amava, estava indo embora? Como ela podia se considerar um fardo, quando era na verdade a razão dele de viver?

Tudo desandou pra ele depois daquele dia. E agora, tudo piorava. Lá estava ela, sorrindo enquanto lia um livro com o Haitani. Ele estava literalmente tomando seu lugar, estava fazendo com Kiyomi o que antes ele fazia, aparecendo com livros novos e sentando pra ler.

Um gosto amargo lhe subia pela boca, que pecado ele havia cometido para agora ser torturado vendo isso?

Soltou um suspiro e saiu dali, com o ódio tomando seus olhos, não conseguia mais ficar olhando aquela cena.

– Ela ficou linda nesse vestido – Kiyomi murmurou, estavam na cena do livro onde Will e Clarke saíam juntos e ela usava um lindo vestido vermelho.

– Imagino, Will deve ter ficado doidinho, eu daria um jeito de levantar da cadeira – O Haitani riu.

– Meu Deus, você não vale nada – A garota gargalhou jogando a cabeça pra trás e Ran a analisou – Que foi?

– Você é linda.

– Que clichê – Revirou os olhos.

– O que posso fazer, se é verdade?

– Pode deixar de ser um idiota.

– Achei que eu estava deixando de ser – Ele se aproximou e algo ficou inquieto na boca do estômago da garota.

– Aos poucos... Tem até o baile para me convencer a não te dar um chute.

– Vou convencer – Murmurou se aproximando mais, ela soltou um suspiro.

– O que está fazendo? – Sussurrou, ele estava próximo demais.

"Toque nele, toque nela, a vida é muito curta pra perder um segundo" – Sussurrou o Haitani com os lábios quase colados nos dela.

– Não é uma citação qualquer que vai me fazer apaixonar... – Disse lutando contra si mesma.

– Não preciso que se apaixone agora, ainda estou no processo de te conquistar, dia após dia, com cada palavra e toque, até que anseie por mim como eu anseio por você – Disse ele.

– Então o que está fazendo? – A voz sussurrada e arrastada.

– Apenas querendo provar do seu veneno, e talvez me viciar...

– Ran! – O grito fez com que Kiyomi se afastasse no mesmo segundo, o Haitani estava definitivamente irritado, ele se virou pra trás onde seu irmão, aquele que havia gritado, estava junto com os demais da gangue – Problemas em Ropponggi, vamos!

– Eu vou te matar quando chegar em casa – Ran falou apontando pro irmão, suspirou e virou com uma expressão mais amena para a garota – Escolha uma cor para o seu vestido do baile e me avise, para irmos combinando, não esqueça que eles mudaram pra baile a fantasia.

– Claro, te aviso – Murmurou constrangida.

Ran saiu e deixou a garota, que juntou suas coisas e foi pra casa.

"– Estamos vendo alguma coisa acontecer... – Madame Samovar, A Bela e a Fera"

Rainha de Copas - TenjikuOnde histórias criam vida. Descubra agora