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Haviam algumas coisas que podiam destruir uma pessoa com facilidade.

Quebrar a confiança de alguém era uma delas.

Confiança era algo que Kiyomi não tinha em muitas pessoas. A pessoa que mais deveria ser digna de sua confiança, havia a abandonado ainda bebê. Então haviam pouquíssimas pessoas que sabiam de seu passado conturbado e que mesmo assim, ela confiava.

– Como assim, Senju? – Disse com a voz baixa.

– Sanzu me contou, é tudo uma aposta... Ele apostou que faria você se apaixonar e chorar por ele... Meu irmão disse que o Haitani começou a gostar de você de verdade, mas que mesmo assim faria você chorar pra ganhar a aposta que fez – A platinada falava baixo.

Cada palavra. Cada maldita palavra. Eram como facadas em seu peito. Kiyomi esperava isso no início, mas depois de quase um mês com o Haitani todos os dias ao seu lado, a levando em cafeterias, lhe dando livros e lendo ao seu lado. Ela havia se permitido ter esperanças.

Havia se permitido amar.

E lá estava ela mais uma vez.

Em pedaços.

Mas ela não permitiria que ele ganhasse.

Não. Jamais. Ela não choraria pelo Haitani.

Havia criado um lugar dentro dela onde era forte e poderosa. Um lugar onde ninguém podia a machucar e onde palavras nunca mais a afetariam como aquelas afetaram anos atrás.

Nunca mais deixaria alguém a destruir como foi destruída naquele dia, pois até hoje procurava seus pedacinhos, e alguns deles estavam lá naquela casa...

Esses, ela jamais recuperaria.

– Preciso de ar...

A garota saiu correndo pela rua. Notando naquele momento que já era noite, que o frio estava presente e ela usava apenas um pijama qualquer.

Correu até que tivesse chegado ao mar, e lá se sentou na areia, onde observava as ondas quebrando, onde tentava organizar seus pensamentos.

Fazia tanto tempo que não se sentia assim.

Perdida.

Horas mais tarde, o céu começava a clarear. A escuridão foi tingida por tons de roxo, rosa, amarelo. E subitamente se sentiu mais aquecida, mas não era do sol.

Ergueu o rosto.

Lá estava ele.

O motivo de suas lágrimas na noite anterior.

O nome que gritou aos quatro ventos e que implorou a todos os deuses que a fizessem parar de amá-lo.

Lá estava ele colocando o manto vermelho sobre os ombros dela.

– É verdade? – Murmurou.

Ele já sabia do que ela falava, apenas assentiu.

Um riso anasalado cheio de ódio e ironia, saiu dela.

– Não acredito como pude ser tão burra... Como pude deixar ele se aproximar... – Ela fungou, provavelmente pegaria uma gripe.

– Não vai chorar por ele, não é? – Ele perguntou quase que surpreso, ele realmente não queria ver a garota chorando por alguém como Ran Haitani.

– Jamais choraria por ele, já chorei demais por homens nessa vida – Se levantou, já querendo ir embora.

– Que homens fizeram você chorar? – Perguntou com um tom enraivecido

Ela olhou calmamente o rosto do garoto que sempre tentou considerar um irmão, mas seu coração nunca permitiu, pois queria mais do que irmandade dele. Queria seu amor. Mas nunca disse uma única palavra sobre isso.

– Você fez.

Ele arregalou os olhos momentaneamente.

Uma enxurrada de lembranças tomando conta de sua mente.

Ele tentou dar um passo em sua direção.

– Não se aproxime! – Gritou ela.

– O que fiz pra você? – Ele olhava confuso, aquilo havia acontecido a tanto tempo, eram apenas crianças...

– Me destruiu – Ela sussurrou com os olhos cheios de lágrimas.

A pessoa que mais amava a destruiu.

Em contra partida, o garoto se encontrava em pânico. Lembrando de todas as palavras ditas com raiva dentro daquela casa. Lembrou de todos os olhares de ódio que dirigiu a ela.

Ele odiava o fato de ela ter escolhido deixá-lo.

Tudo teria sido tão mais fácil se conversassem.

Duas almas gêmeas absolutamente apaixonadas des do momento que colocaram os olhos uma na outra.

Ela viu que ele não conseguia dizer mais nada e apenas saiu dali.

Quando chegou novamente em casa que notou que havia ido com o casaco dele, suspirou pensando que teria que devolvê-lo no dia seguinte, mas só de pensar em ver aqueles olhos...

Pegou o próprio celular e mandou uma mensagem.

"Vamos nos encontrar?"

"Está melhor? Te vejo no café de sempre"

Um sorriso mínimo. Conversar com ela sempre melhorava seu ânimo, afinal, era como se fossem irmãs.

Tomou um banho e vestiu um vestido simples, arrumou o rosto o melhor que pode e saiu de casa, indo até a cafeteria.

O sininho da porta tocou quando ela entrou e Kiyomi sorriu ao ver a garota.

Rainha de Copas - TenjikuOnde histórias criam vida. Descubra agora