Teste e segredos

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Chanyeol atravessou os portões, deixando a escola em direção à sua casa de uma maneira completamente diferente da confiante e egocêntrica que chegava e saía todos os dias.

Pela primeira vez, sentia aquele amargor no paladar, indicando que algo estava errado com ele. Sabia que depois de não ter usado de sua autoridade para impedir que Kyungsoo fizesse o que quisesse com Jongin, o bailarino nunca o perdoaria por não ter sido capaz de manter a sua parte do trato. Seria, definitivamente, exposto no dia seguinte, da forma mais humilhante possível. Mesmo que não quisesse admitir, aquilo assustava Chanyeol, pois, de certo modo, havia trabalhado muito para chegar no topo da hierarquia escolar, e perder seu posto por causa de um novato insignificante não estava em seus planos.

De qualquer forma, por que estava se sentindo mal por ele, quando era comum que Chanyeol e seus amigos fizessem esse tipo de coisa? Na verdade, chegaram a fazer coisas piores.

Era interessante irritar o bailarino só para vê-lo se esforçar em rebater suas provocações, mas então por que sentiu o peito pesar ao ver Jongin com os olhos quase transbordando de raiva? Por que ele o atingia tanto? Possuía muitas perguntas das quais não tinha respostas, mas desconfiava que tudo fosse culpa do espírito pacífico da formatura que se aproximava em breve. Chanyeol só não sabia que até o final do ano letivo, ele mudaria tanto.

Chegando em casa, retirou os sapatos e os alinhou perfeitamente junto aos outros. A casa era metodicamente limpa e arrumada, e somente um tapete posicionado torto no chão já era motivo de gritarias pela residência dos Park. Chamou por seus pais, mas, ao perceber que estava sozinho, soltou o ar sufocante preso nos pulmões e relaxou a postura. Era difícil ser ele mesmo quando os parentes estavam presentes, e, recentemente, Chanyeol vinha se perguntando quem ele realmente era.

Era o rapaz engomadinho que sorria amarelo nas fotos dos porta-retratos? O filho obediente que ajudava desgostosamente a família no negócio da floricultura? Ou era o jovem caótico e rebelde, líder de um grupo de delinquentes colegiais?

Trancou a porta de seu quarto, como sempre fazia. Nunca se sabe quando seu pai pode chegar frustrado com suas falhas negociações empresariais e descontar suas reclamações em seus ouvidos. Tomou um banho e encarou-se no espelho, a cicatriz em seu ombro sempre lhe lembrando dolorosamente o dia em que seu pai — em meio a discussões e logo após o adolescente desafiá-lo — quebrou um jarro na parede próxima a Chanyeol, atingindo um pedaço de vidro em sua pele. Por sorte, o objeto afiado não cortou o rosto do garoto, mas havia ferido a alma de Chanyeol bem mais do que sua carne.

No pote debaixo de sua cama, juntava algum dinheiro para que, assim que completasse a maioridade, pudesse fugir para o lugar mais longe possível da farsa que chamava de família — sempre obcecada em mostrar uma falsa perfeição aos outros. Uma imagem facilmente comprada quando não se tomava café da manhã junto ao pastor perfeccionista e pavio curto.

No pote, um papel escrito liberdade em letras de forma gritava para que não retirasse um centavo sequer de suas economias, entretanto, sentiu que, no momento, aquele dinheiro teria um destino diferente do propósito que fez Chanyeol começar a guardá-lo.

...

Jongin estava atrasado para a escola. Tinha tomado uma dose extra do seu remédio para dormir na noite anterior. Ainda que estivesse confortavelmente deitado em sua cama, com a temperatura perfeita aquecendo seu quarto, o som agudo de seu walkman quebrando em pequenos pedacinhos no chão não lhe saía da cabeça.

Se lembrava nitidamente o dia em que seu pai lhe presenteou com o toca-fitas portátil. Era um modelo recém-lançado. Foi com um sorriso no rosto e uma embalagem com estampas de bolinhas, que Jongin recebeu o presente e ouviu sua primeira fita, da banda de hard rock cristã Angelica. Colocou o objeto quebrado no caixote que costumava guardar as lembranças de seus pais, com a fita rebobinada da banda, também favorita do pai.

Por Trás das MáscarasOnde histórias criam vida. Descubra agora